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Por que Trump segue mentindo ao dizer que EUA derrotaram o fascismo na 2ª Guerra Mundial?

© AP Photo / Patrick SemanskyO presidente Donald Trump participa de uma cerimônia de colocação de coroas de flores no Dia dos Veteranos no Túmulo do Soldado Desconhecido, no Cemitério Nacional de Arlington. Virgínia, EUA, 11 de novembro de 2020
O presidente Donald Trump participa de uma cerimônia de colocação de coroas de flores no Dia dos Veteranos no Túmulo do Soldado Desconhecido, no Cemitério Nacional de Arlington. Virgínia, EUA, 11 de novembro de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 21.01.2025
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O recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, repetiu uma mentira comum aos líderes norte-americanos ao afirmar que o país "venceu duas guerras mundiais" e derrotou o fascismo. A falsidade, afirma um historiador à Sputnik Brasil, busca combater a perda de liderança mundial dos EUA para a Rússia e a China.
Longe de ser um fato, essa afirmação se trata de uma falsificação dupla da história, afirma à Sputnik Brasil o professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) João Cláudio Pitillo.

"Trump falsifica a história com relação à Segunda Guerra Mundial e falsifica atualmente, tentando afirmar uma grandiosidade que os Estados Unidos já não têm mais."

Quem venceu a 2ª Guerra Mundial?

A resposta para essa pergunta é única pelas lentes da ciência histórica, diz Pitillo. "Cerca de 75% de todas as forças do Eixo foram destruídas pela União Soviética. Berlim, Tóquio, Roma e seus Estados-satélites foram destruídos pela URSS."
Claro que o papel de todos que lutaram contra o fascismo é importante, afirma o historiador.

"Mas a nível histórico, temos que dar a César o que é de César e dar a Deus o que é de Deus."

Desde o início da Guerra Fria, os EUA escondem a preponderância que a União Soviética teve na derrota do nazifascismo. "Criaram uma narrativa própria, completamente afastada da realidade", afirma.
No fim da Segunda Guerra Mundial, com o mundo dividido entre dois blocos economicamente antagônicos, a URSS gozava de muito prestígio internacional e, para "para aplacar a vitória soviética e diminuir o alcance do socialismo vitorioso frente ao fascismo", os Estados Unidos criaram uma guerra cultural em que a narrativa verdadeira foi "ofuscada por relatos parciais e mentirosos".
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Segundo Pitillo, é possível afirmar "de maneira científica", a partir dos dados e mapas, que se não fossem as vitórias da União Soviética na Frente Oriental, a máquina de guerra nazista regressaria para tomar o que restou da Europa, isto é, a Inglaterra. "Toda a Europa estava sob a bota nazista."
Nesse sentido, a União Soviética que facilitou a vida dos aliados e não o contrário, crava o historiador.
"As principais tropas nazistas estavam sendo destruídas dentro da União Soviética e não tiveram condições de retornar para reforçar a Frente Ocidental. Negar isso é parte dessa guerra ideológica, criada na Guerra Fria com Truman."

"A segunda frente só vai ser aberta em 1944. A União Soviética, de 1941 a 1944, lutou praticamente sozinha."

Japão se rendeu por conta do avanço soviético

Outra falsificação comumente aceita na visão popular da Segunda Guerra Mundial é que os EUA derrotaram o império japonês no chamado Teatro de Operações do Pacífico, com grande ênfase nos ataques nucleares a Nagasaki e Hiroshima — as únicas vezes em que um armamento atômico foi usado em conflito.
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De fato, assume o historiador, os estadunidenses derrotaram a Marinha imperial do Japão, mas isso por si só não acabou com a capacidade ofensiva do Japão. O grosso das tropas se encontrava na ocupação chinesa. "Ainda restava mais de um milhão de homens", diz Pitillo. "O Exército japonês poderia continuar lutando durante muito tempo na Manchúria."
Após a rendição da Alemanha nazista, houve um pedido público dos líderes aliados para que a União Soviética direcionasse suas tropas, a fim de atacar o Japão. "Nem Estados Unidos nem Inglaterra tinham condições de levar mais de um milhão de homens e equipamentos para combater os japoneses."

"Só a União Soviética tinha poder para destruir o império japonês."

Foi a partir disso que a URSS iniciou a Operação Tempestade de Agosto, que "destroçou o Exército japonês". Em menos de um mês, as forças soviéticas derrotaram todo o contingente nipônico.
Sem a Manchúria, afirma o historiador, o Japão perde a joia da coroa: a China — um país grande e rico que ligava o Japão ao resto do continente asiático. "Sem a China, o Japão volta a ser uma ilha do Pacífico."

"É retratado pelo Ocidente que as bombas atômicas foram responsáveis, mas foi a partir dessa destruição de seu exército que o Japão decide se render", revela o historiador. "E essa é uma vitória que é escamoteada, ela pouco aparece."

Por que os EUA falsificam a história?

Se por um lado os Estados Unidos utilizavam a propaganda de que foram a principal força por trás da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial como arma durante a Guerra Fria, a continuidade dessa mentira por todos os presidentes estadunidenses revela a perpetuidade da política de propaganda.
Hoje, a Rússia é a principal herdeira da União Soviética e, como tal, busca manter vivo o legado do conflito, do histórico heroísmo de seu povo, do fardo de sua reconstrução e dos louros de sua vitória.
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Para Trump e os demais líderes norte-americanos, essa mentira é uma "arma na guerra híbrida" contra a Rússia, a China e os países do Sul Global, analisa Pitillo.
Ao colocar os EUA como os principais articuladores da vitória aliada, o país busca "reafirmar os seus valores imperialistas de um país invencível, poderoso e que ajudou o mundo".
Dessa forma, não só dão a Washington a relevância que não se fundamenta mais na realidade geopolítica atual, como também afasta a Rússia dos demais povos.

"Então, o que Trump faz é uma guerra cultural violentíssima, com base na mentira para impedir que a Federação da Rússia se torne popular, colhendo esses frutos."

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