Conflito no Congo: o que está acontecendo e qual sua relevância para o mundo?
18:38 30.01.2025 (atualizado: 21:53 30.01.2025)
© AP Photo / Moses SawasawaVeículo blindado de transporte de pessoal das Nações Unidas queima durante confrontos com rebeldes do Movimento 23 de Março (M23) fora da cidade de Goma, na República Democrática do Congo, em 25 de janeiro de 2025
© AP Photo / Moses Sawasawa
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O conflito de longa data entre o governo da República Democrática do Congo (RDC) e os rebeldes se intensificou nas últimas semanas. De acordo com a mídia local, os rebeldes do M23 capturaram várias cidades, incluindo Goma, com 2 milhões de habitantes. Até o momento, mais de 100 soldados morreram nos combates, segundo as autoridades.
Além das baixas, os confrontos causaram deslocamento de civis e consequências diplomáticas entre a RDC e Ruanda.
Quem são os rebeldes do M23?
O M23 é um grupo rebelde liderado por tutsis e desdobramento direto do movimento rebelde Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP). O grupo iniciou sua insurgência em 2022, acusando o governo congolês de falhar na integração das comunidades tutsis no exército e na administração, conforme prometido em um acordo de paz conhecido como Acordo de 23 de março de 2009 — daí o nome "M23" — entre o governo e o CNDP.
O grupo também afirma proteger os tutsis das milícias hutus, como as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), compostas por combatentes hutus ligados ao genocídio de Ruanda de 1994.
Linha do tempo dos acontecimentos recentes:
25 de janeiro
O M23 anunciou planos para tomar Goma, demandando que o exército e os soldados do governo e da Organização das Nações Unidas (ONU) se rendessem.
O M23 anunciou planos para tomar Goma, demandando que o exército e os soldados do governo e da Organização das Nações Unidas (ONU) se rendessem.
26 de janeiro
O Conselho de Segurança da ONU condenou a ofensiva, relatando vítimas entre os soldados da força de paz e tropas sul-africanas. A RDC cortou laços diplomáticos com Ruanda, acusando o país de envolvimento direto no conflito. Combatentes do M23 entraram em Goma e houve fortes tiroteios, com relatos de rendição de tropas do governo e de forças de paz.
O Conselho de Segurança da ONU condenou a ofensiva, relatando vítimas entre os soldados da força de paz e tropas sul-africanas. A RDC cortou laços diplomáticos com Ruanda, acusando o país de envolvimento direto no conflito. Combatentes do M23 entraram em Goma e houve fortes tiroteios, com relatos de rendição de tropas do governo e de forças de paz.
27 de janeiro
O M23 declarou controle total sobre Goma, embora os combates continuassem. Relatos de deslocamento em massa de civis, com hospitais sobrecarregados pelos feridos.
O M23 declarou controle total sobre Goma, embora os combates continuassem. Relatos de deslocamento em massa de civis, com hospitais sobrecarregados pelos feridos.
28 de janeiro
O governo congolês afirmou que ainda controlava partes de Goma. Ataques a embaixadas estrangeiras e ao escritório da ONU na capital da RDC, Kinshasa. A RDC exigiu formalmente sanções contra Ruanda e sua exclusão das missões de manutenção da paz.
O governo congolês afirmou que ainda controlava partes de Goma. Ataques a embaixadas estrangeiras e ao escritório da ONU na capital da RDC, Kinshasa. A RDC exigiu formalmente sanções contra Ruanda e sua exclusão das missões de manutenção da paz.
29 de janeiro
O M23 tomou o Aeroporto Internacional de Goma. O presidente de Ruanda, Paul Kagame, teve conversas com autoridades dos Estados Unidos, discutindo um cessar-fogo, mas sem acordo sobre a retirada de tropas. O presidente da RDC, Félix Tshisekedi, em um discurso à nação, condenou a inação das organizações internacionais diante dos confrontos entre as forças do país e o grupo rebelde M23.
O M23 tomou o Aeroporto Internacional de Goma. O presidente de Ruanda, Paul Kagame, teve conversas com autoridades dos Estados Unidos, discutindo um cessar-fogo, mas sem acordo sobre a retirada de tropas. O presidente da RDC, Félix Tshisekedi, em um discurso à nação, condenou a inação das organizações internacionais diante dos confrontos entre as forças do país e o grupo rebelde M23.
30 de janeiro
O Conselho de Paz e Segurança da União Africana pediu que os grupos rebeldes no leste da RDC cessem imediatamente as hostilidades. O PSC propôs realizar uma reunião sobre a situação no leste da RDC no nível de chefes de Estado e de governo às margens da próxima assembleia da União Africana, em fevereiro. A cúpula extraordinária da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) sobre a situação de segurança na RDC será realizada na sexta-feira (31), na capital do Zimbábue, Harare.
O Conselho de Paz e Segurança da União Africana pediu que os grupos rebeldes no leste da RDC cessem imediatamente as hostilidades. O PSC propôs realizar uma reunião sobre a situação no leste da RDC no nível de chefes de Estado e de governo às margens da próxima assembleia da União Africana, em fevereiro. A cúpula extraordinária da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) sobre a situação de segurança na RDC será realizada na sexta-feira (31), na capital do Zimbábue, Harare.
Kagame afirmou que as tropas sul-africanas, que fazem parte da Missão da SADC na RDC, não têm lugar no campo de batalha, acrescentando que seu país está pronto para lidar com qualquer confronto de Pretória.
Qual é o envolvimento de Ruanda?
A RDC, a ONU e países ocidentais acusam Ruanda de enviar tropas e armas pesadas para apoiar o M23, com base em evidências da organização de 2022. Ruanda nega as acusações, insistindo que suas ações militares são defensivas contra ameaças das milícias das FDLR baseadas na RDC. Ruanda tem um histórico de envolvimento militar no leste do país, que remonta às intervenções no final da década de 1990.
O que estão fazendo os soldados de paz e outras forças?
Os soldados de paz da Missão da Organização das Nações Unidas para a Estabilização na República Democrática do Congo (Monusco, na sigla em francês) estavam apoiando as forças congolesas, mas sofreram retrocessos. Alguns soldados de paz foram mortos, e outros se renderam ou evacuaram.
As forças da SADC permanecem implantadas na região, mas também sofreram perdas. Contratantes militares privados contratados pela RDC para lutar contra o M23 supostamente se renderam, com Ruanda afirmando que 289 mercenários romenos se entregaram. A retirada da missão da ONU, inicialmente planejada, foi suspensa devido à piora da situação.
E agora?
Com o M23 consolidando seu controle sobre Goma e avançando para Bukavu, as tensões entre a RDC e o Ruanda continuam a crescer. Os esforços diplomáticos, incluindo uma cúpula da Comunidade da África Oriental, até agora não produziram grandes avanços. O desfecho do conflito dependerá de se os atores regionais e internacionais poderão pressionar ambas as partes para negociações ou se a escalada militar continuará.
Por que isso é importante?
O conflito no leste da RDC tem consequências de longo alcance além da região, pois ameaça a estabilidade regional, com o suposto envolvimento de Ruanda aumentando as tensões entre países vizinhos.
Além disso, interrompe as cadeias de suprimento globais de minerais críticos, como cobalto, coltan e lítio, essenciais para eletrônicos e tecnologias de energia renovável. Isso pode levar ao aumento de preços e retardar os avanços tecnológicos.
Por último, mas não menos importante, a crise humanitária é severa, com milhões de deslocados e graves violações de direitos humanos. Quanto mais o conflito se prolongar, maior será o custo econômico, geopolítico e humano.