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Uso de quebra-gelo russo foi 'experiência única', diz cientista brasileiro na Antártica (VÍDEOS)
Uso de quebra-gelo russo foi 'experiência única', diz cientista brasileiro na Antártica (VÍDEOS)
Sputnik Brasil
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o glaciólogo brasileiro Jefferson Cardia Simões conta detalhes da sua viagem a bordo do navio-laboratório russo... 30.01.2025, Sputnik Brasil
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Nesta sexta-feira (31), estará de volta ao Brasil a Expedição de Circum-Navegação Costeira da Antártica. Foram mais de 70 dias no mar navegando em torno e desembarcando no continente gelado em busca de amostras.Ao todo, 57 pesquisadores de sete países — Brasil, Rússia, China, Índia, Chile, Argentina e Peru — chegam à cidade de Rio Grande (RS) pela manhã, ansiosos para começar a trabalhar."A pesquisa científica, na verdade, começa agora, após desembarcarmos no porto", diz Jefferson Cardia Simões à Sputnik Brasil diretamente da passagem de Drake, um dos estreitos mais revoltos do mundo.Primeiro glaciólogo brasileiro e líder da expedição, o professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) conta que nesses dias eles navegaram em torno da Antártica, parando em diferentes pontos do mar e da costa para coletar dados, tanto da atmosfera quanto das águas e do gelo."Quando deu, nós descemos nas geleiras para fazer amostragens de neve e gelo, no que nós chamamos de testemunho de gelo."O cientista relata ainda o clima de colaboração entre os integrantes da expedição, fosse nos momentos de trabalho, fosse nas horas de lazer, como nas refeições ou ao assistir a um filme."É um privilégio, é uma maneira muito bonita de você fazer a pesquisa científica, e junto com esse aspecto que eu falei, da cooperação com países de diferentes culturas e línguas."É posto no Sistema do Tratado da Antártica (STA) que o continente só pode ser explorado para fins científicos, jamais comerciais. Dessa forma, não só as reivindicações territoriais no continente austral foram congeladas, como criou-se um mecanismo para compartilhamento dos trabalhos científicos."Ao longo desse período [da viagem], nós, é claro, sempre estávamos apoiando outras partes da expedição, inclusive um levantamento geofísico, aerotransportado, das massas de gelo e neve da costa antártica."A importância do Akademik TryoshnikovA missão científica contou com uma novidade crucial para o sucesso das pesquisas. Pela primeira vez, cientistas brasileiros contaram com o apoio de um quebra-gelo para realizar pesquisas mais aprofundadas no continente: o Akademik Tryoshnikov, da Rússia.Cedida pelo Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica de São Petersburgo, a embarcação permitiu "quebrar mar congelado com espessura de até 1,5 metro" e se aproximar dos paredões de gelo que atingem até 50 metros de altura."Isso é o que diferencia um quebra-gelo que nem o Akademik Tryoshnikov", diz Cardia. "Poder navegar sobre a banquisa, essa capa de mar congelado que está consolidada sem aberturas e sem canais."Mas a embarcação não é "só" um quebra-gelo, explicita o líder da expedição. É um navio-laboratório, isto é, construído com o propósito de apoiar a pesquisa científica nas regiões polares.Com 135 metros de comprimento, o Akademik Tryoshnikov conta com sete laboratórios científicos e diversas estruturas de apoio, como redes que permitem a coleta de diferentes espécies marinhas "desde plâncton até animais maiores", detalha.Um projeto 'informal' do BRICSAinda que sete países tenham participado da missão, Cardia conta que em sua maioria os pesquisadores pertenciam a quatro: Brasil, Rússia, Índia e China. "Não foi o propósito no início, mas acabou sendo praticamente BRICS", disse, destacando que a experiência serviu para "aumentar a cooperação Brasil-Rússia em termos científicos".Durante a viagem, foi possível fazer paradas nas estações de pesquisa de cada um dos países, que têm "diferentes conceitos arquitetônicos". A brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz, por exemplo, foi recém renovada e está em ótima condição.Já as russas estão em processo também de renovação e adição de novas instalações, como a estação Vostok, "que é instalada no lugar mais frio onde há pessoas habitando, onde chega a fazer -89 °C no auge do inverno".Por sua vez, diz Cardia, os chineses também estão impressionando pela grandiosidade e rapidez na construção de suas estações. "A China já está indo para a quinta estação na Antártica."O cientista destaca que é importante que o Brasil mantenha suas pesquisas no continente austral, tanto para manter seu direito a voto nas reuniões do Sistema do Tratado da Antártica e decidir o futuro da região, quanto pela importância do conhecimento científico produzido."O sistema ambiental é indivisível, não existe parte menor e mais importante", afirma Cardia. "As regiões polares são tão importantes quanto a Amazônia para a circulação da atmosfera e do oceano para o nosso clima."Um exemplo clássico, detalha, é que muitas vezes as frentes frias que atingem o país são formadas no oceano Austral, "essa enorme massa de água fria ao redor da Antártica".Prestes a retornar ao Brasil, Cardia despede-se da Antártica, talvez para sempre. "Eu, pessoalmente, creio que é minha última viagem."
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Uso de quebra-gelo russo foi 'experiência única', diz cientista brasileiro na Antártica (VÍDEOS)
20:15 30.01.2025 (atualizado: 22:16 30.01.2025) Especiais
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o glaciólogo brasileiro Jefferson Cardia Simões conta detalhes da sua viagem a bordo do navio-laboratório russo Akademik Tryoshnikov, o primeiro do tipo a ser utilizado por uma equipe de cientistas brasileiros.
Nesta sexta-feira (31), estará de volta ao Brasil a Expedição de Circum-Navegação Costeira da Antártica. Foram mais de 70 dias no mar navegando em torno e desembarcando no continente gelado em busca de amostras.
Ao todo, 57 pesquisadores de sete países — Brasil, Rússia, China, Índia, Chile, Argentina e Peru — chegam à cidade de Rio Grande (RS) pela manhã, ansiosos para começar a trabalhar.
"A pesquisa científica, na verdade, começa agora, após desembarcarmos no porto", diz Jefferson Cardia Simões à Sputnik Brasil diretamente da passagem de Drake, um dos estreitos mais revoltos do mundo.
Primeiro glaciólogo brasileiro e líder da expedição, o professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) conta que nesses dias eles navegaram em torno da Antártica, parando em diferentes pontos do mar e da costa para coletar dados, tanto da atmosfera quanto das águas e do gelo.
"Quando deu, nós descemos nas geleiras para fazer amostragens de neve e gelo, no que nós chamamos de testemunho de gelo."
O cientista relata ainda o clima de colaboração entre os integrantes da expedição, fosse nos momentos de trabalho, fosse nas horas de lazer, como nas refeições ou ao assistir a um filme.
"É um privilégio, é uma maneira muito bonita de você fazer a pesquisa científica, e junto com esse aspecto que eu falei, da cooperação com países de diferentes culturas e línguas."
É posto no
Sistema do Tratado da Antártica (STA) que o continente só pode ser explorado para fins científicos, jamais comerciais. Dessa forma, não só as
reivindicações territoriais no continente austral foram congeladas, como criou-se um mecanismo para compartilhamento dos trabalhos científicos.
"Ao longo desse período [da viagem], nós, é claro, sempre estávamos apoiando outras partes da expedição, inclusive um levantamento geofísico, aerotransportado, das massas de gelo e neve da costa antártica."
A importância do Akademik Tryoshnikov
A missão científica contou com uma novidade crucial para o sucesso das pesquisas. Pela primeira vez,
cientistas brasileiros contaram com o apoio de um quebra-gelo para realizar pesquisas mais aprofundadas no continente: o
Akademik Tryoshnikov, da Rússia.
Cedida pelo Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica de São Petersburgo, a embarcação permitiu "quebrar mar congelado com espessura de até 1,5 metro" e se aproximar dos paredões de gelo que atingem até 50 metros de altura.
"Isso é o que diferencia um quebra-gelo que nem o Akademik Tryoshnikov", diz Cardia. "Poder navegar sobre a banquisa, essa capa de mar congelado que está consolidada sem aberturas e sem canais."
Mas a embarcação não é "só" um quebra-gelo, explicita o líder da expedição. É um navio-laboratório, isto é, construído com o propósito de apoiar a pesquisa científica nas regiões polares.
Com 135 metros de comprimento, o Akademik Tryoshnikov conta com sete laboratórios científicos e diversas estruturas de apoio, como redes que permitem a coleta de diferentes espécies marinhas "desde plâncton até animais maiores", detalha.
"Este navio é maravilhoso para nós que não temos um equipamento desse para utilizar […]. Certamente foi uma experiência única para nós."
Um projeto 'informal' do BRICS
Ainda que sete países tenham participado da missão, Cardia conta que em sua maioria os pesquisadores pertenciam a quatro: Brasil, Rússia, Índia e China. "Não foi o propósito no início, mas acabou sendo praticamente BRICS", disse, destacando que a experiência serviu para "aumentar a cooperação Brasil-Rússia em termos científicos".
Durante a viagem, foi possível fazer paradas nas estações de pesquisa de cada um dos países, que têm "diferentes conceitos arquitetônicos". A brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz, por exemplo, foi recém renovada e está em ótima condição.
Já as russas estão em processo também de renovação e adição de novas instalações, como a estação Vostok, "que é instalada no lugar mais frio onde há pessoas habitando, onde chega a fazer -89 °C no auge do inverno".
Por sua vez, diz Cardia, os chineses também estão impressionando pela grandiosidade e rapidez na construção de suas estações. "A China já está indo para a quinta estação na Antártica."
O cientista destaca que
é importante que o Brasil mantenha suas pesquisas no continente austral, tanto para manter seu direito a voto nas reuniões do Sistema do Tratado da Antártica e decidir o futuro da região, quanto pela importância do conhecimento científico produzido.
"O sistema ambiental é indivisível, não existe parte menor e mais importante", afirma Cardia. "As regiões polares são tão importantes quanto a Amazônia para a circulação da atmosfera e do oceano para o nosso clima."
Um exemplo clássico, detalha, é que muitas vezes as frentes frias que atingem o país são formadas no oceano Austral, "essa enorme massa de água fria ao redor da Antártica".
Prestes a retornar ao Brasil, Cardia despede-se da Antártica, talvez para sempre. "Eu, pessoalmente, creio que é minha última viagem."
"Já estou há mais de 30 anos envolvido com pesquisas aqui na Antártica. Foi a minha 29ª viagem. Então é hora de passar o bastão para os meus, nessa altura nem tão jovens, colegas."
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