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Com entrada da Indonésia, BRICS soma forças com a ASEAN em prol da reforma global

© AP Photo / Agus SupartoPorta-bandeiras içam a bandeira da Indonésia durante cerimônia em comemoração ao 75º Dia da Independência do país, no Palácio Merdeka, em Jacarta. Indonésia, 17 de agosto de 2020
Porta-bandeiras içam a bandeira da Indonésia durante cerimônia em comemoração ao 75º Dia da Independência do país, no Palácio Merdeka, em Jacarta. Indonésia, 17 de agosto de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 03.02.2025
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Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analista frisa que adesão da Indonésia ao BRICS concede ao grupo "um potencial incrível de reconfigurar, nem que seja um pouco, o sistema internacional", sobretudo na questão do comércio.
A Indonésia foi anunciada como membro formal do BRICS no início de janeiro. A novidade foi transmitida pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que assumiu a presidência do grupo neste ano.
Maior economia do Sudeste Asiático, a Indonésia é rica em recursos naturais, incluindo petróleo, gás e commodities agrícolas. Com a entrada no BRICS, o país dá mais um passo no objetivo de expandir sua economia e influência para além da Ásia e da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês).
É o que explica, em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Valter Peixoto Neto, criador de conteúdo sobre a região através do seu podcast e site MenteMundo, formado em comércio exterior e pós-graduado em relações internacionais.
Ele explica que essa expansão é uma das metas do governo do novo presidente do país, Prabowo Subianto, eleito em outubro de 2024.

"Ele [Subianto] está, de fato, tentando expandir a influência do país. E ele está buscando mais ou menos uma ideia como a do Brasil, ser um player mais regional em alguns temas. Ele está tentando fazer a Indonésia ser mais importante ali no Indo-Pacífico, ter uma política externa, um papel maior, ter mais voz no cenário global", explica.

O ministro das Relações Exteriores da Indonésia Sugiono chega à Cúpula do BRICS em Kazan, Rússia, 24 de outubro de 2024 (Kirill Zykov/Photo host brics-russia2024.ru via AP) - Sputnik Brasil, 1920, 08.01.2025
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Neto acrescenta que o primeiro-ministro indonésio, Sugiono, afirmou que a entrada no BRICS incorpora a política externa ativa e livre do país e está alinhada com as principais prioridades do governo, incluindo segurança alimentar e energética, e erradicação da pobreza, bem como desenvolvimento do capital humano.
"Então […] as motivações são essas e, paralelamente, as que os outros membros do bloco têm, que não se veem mais representados nessa configuração internacional, que é basicamente [a mesma] desde 1945, e tentam mudar um pouquinho o peso a seu favor."
Ele afirma ainda que outros países do Sudeste Asiático foram alçados pelo BRICS à categoria de países parceiros, o que permite a participação em cúpulas e outros fóruns do grupo, bem como endossar declarações e outros documentos finais. É o caso da Malásia e da Tailândia, que, assim como a Indonésia, também integram a ASEAN.
"O Vietnã [que integra a ASEAN], ao que tudo indica, também vai querer entrar [no BRICS]. Então isso é muito importante para o Sudeste Asiático, porque ganha outro nível de importância no cenário global […]. E eu sempre brinco que a ASEAN é o grande bastião do comércio hoje no mundo. Ela é muito vocal contra essas barreiras, esses protecionismos, que estão em voga. Todos os grandes blocos ou potências, se você for analisar, têm algum tipo de acordo, pelo menos comercial, com o Sudeste Asiático."
Nesse contexto, Neto aponta que a junção de forças entre o BRICS e a ASEAN "tem um potencial incrível de reconfigurar, nem que seja um pouco, o sistema internacional", sobretudo na questão do comércio.
"Eu acho que, juntos, esses dois blocos, eles têm um potencial, sim, porque são economias importantes que estão ali. Essa junção, ela pode dar mais estofo diplomático para o Sudeste Asiático", explica.
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Ele afirma que a Indonésia tem muito a oferecer ao BRICS e aponta que o país tem a quarta maior população do mundo, além de ser a oitava maior economia do planeta, com estimativas que apontam que chegará ao quinto lugar até 2050.
"Por esse tamanho dela, ela tem atrativos para atrair investimentos. [A Indonésia tem] Recursos naturais abundantes, força de trabalho qualificada, essa classe média crescente, localização estratégica, […] uma política estável, e não é um país muito endividado."
O analista afirma ainda que a entrada da Indonésia avança a agenda em prol da multipolaridade defendida pelo BRICS.

"Eu vejo [o multilateralismo] como uma vontade da Indonésia. Ela, historicamente, se diz orgulhosa de ter feito a conferência de Bandung, de ser não alinhada, de não ter bases militares, de ser uma espécie de líder regional", afirma.

Entretanto, ele ressalta que, ao contrário de Rússia, China e Brasil, a Indonésia não tem pressa na questão da desdolarização, pois está "totalmente integrada ao sistema financeiro internacional".
"A Indonésia, ela quer ser independente, quer que o bloco [BRICS] seja, mas não na velocidade que a gente aqui no Brasil tende a pensar de 'Vamos desdolarizar, vamos mudar tudo'."
Neto aponta que a Indonésia tem a maior população muçulmana do mundo e usa isso como soft power. Ele cita como exemplo as pesquisas que apontam que mais de 70% da população do país estão boicotando produtos provenientes de Israel por considerarem que o país está promovendo um genocídio contra a população palestina. O boicote também se estende a empresas americanas que expressam apoio a Israel.
"Já tem mais ou menos entre os jovens 50% falando que não compram mais produtos de empresas X e Y porque [o produto] é ligado, até indiretamente, com Israel, porque [a empresa] apoia o genocídio".
Segundo ele, para o BRICS isso é interessante porque reforça a ideia de diminuição de influência do Ocidente.

"Eu acho interessante a Indonésia fazer parte [do BRICS] porque […] ela já carrega essa bandeira de representar os muçulmanos, pela quantidade de muçulmanos que tem. […] Ela tem também um peso simbólico para os muçulmanos muito forte, e aí entrando no BRICS e o BRICS de fato avançando pautas e pautando debates, eu acho que isso vai ser bem importante", afirma o analista.

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