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'BRICS ganhou musculatura': confira as conquistas do grupo em 2024

© Sputnik / Kristina Kormilitsyna / Photohost agency brics-russia2024.ru / Acessar o banco de imagensDa esquerda para a direita: os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin; e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Os estadistas posam para foto na 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, Rússia, em 23 de outubro de 2024
Da esquerda para a direita: os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin; e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Os estadistas posam para foto na 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, Rússia, em 23 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 30.12.2024
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Este ano foi bastante movimentado para o BRICS. Não só o grupo de países realizou sua primeira cúpula após a entrada de novos membros e criou a categoria de país parceiro, mas também encaminhou pautas importantes, como a desdolarização das suas transações, e fez avanços diplomáticos significativos.
Ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, especialistas detalharam como foi o ano de 2024 para o BRICS.
O ponto alto do ano certamente foi a 16ª Cúpula do BRICS, realizada em Kazan, Rússia. O evento reuniu em solo russo os chefes de Estado de China, Índia, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos, representantes do grupo do BRICS expandido.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, infelizmente não pôde participar, devido a uma hemorragia cerebral sofrida dois dias antes.
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A entrada desses países foi anunciada na 15ª cúpula, de Joanesburgo, África do Sul, e esta foi a primeira vez que esses países participaram do evento do BRICS.
Dawisson Belém Lopes, professor de política internacional e comparada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou aos apresentadores que a entrada desses novos membros, elevando os integrantes do grupo para nove, traz desafios mas também força ao BRICS.
"A coordenação fica mais complicada", diz. "Não é tão simples encontrar uma linha de ação para um grupo com países tão diferentes entre si."
"Mas há denominadores comuns, há elementos que conectam esses nove países, como um histórico de lutas contra os colonizadores, problemas domésticos que dizem respeito à superação da condição de subdesenvolvimento, de fome, de pobreza."

"Esse é, talvez, o grande mote, o grande elemento que vai colocar esses países BRICS na mesma sintonia. Eles têm uma visão, defendem essa visão, que é diferente da visão hegemônica."

Países parceiros do BRICS

Outros 29 países, como Turquia, Arábia Saudita, Malásia, Tailândia, Bolívia e Sérvia também se fizeram presentes na cúpula através de seus chefes de Estado ou ministros das Relações Exteriores. Além disso, participou do encontro o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
A presença dessas nações inaugurou um novo momento para o grupo, afirma Augusto Rinaldi, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
A 13 países foi oferecida a entrada na nova categoria de países parceiros do BRICS. "É o primeiro passo para uma futura adesão formal."
O grupo, que com nove membros já conta com 40% da demografia e 30% da economia mundial, ficará ainda mais ampliado.
Segundo Rinaldi, será interessante ver qual dinâmica esses países parceiros desempenharão nas centenas de reuniões que ocorrem durante o ano de autoridades e especialistas dos países. "De imediato não dá para avaliar muito claramente os efeitos dessas duas rodadas de expansão, mas dá para esperar que mais para frente isso afete a dinâmica dentro do próprio BRICS", disse.

"Isso demonstra também a relevância que ele vem ganhando nos últimos anos. Eu acho que o BRICS está cada vez mais se tornando um arranjo representativo daquilo que a gente convencionou chamar de Sul Global."

Brasil sediará Cúpula do BRICS em 2025

Esses países em processo de adesão devem participar oficialmente como parceiros do BRICS na Cúpula do BRICS de 2025, que será sediada no Brasil. Será a primeira oportunidade de ver a contribuição desses Estados e ver o andamento dos novos membros, ressaltam os especialistas.
Será também a oportunidade de firmar o BRICS como um grupo inovador, diferentemente do G77 e do Movimento dos Países Não Alinhados ao conseguir manter seu foco enquanto agrega novos e seletos membros.
"Com a exceção da China e da Rússia, os demais membros são países que ainda não podem reivindicar para si o estado de grande potência", diz Belém. "São potências médias que tendem a ter problemas com o desenvolvimento socioeconômico […]. E invariavelmente ao longo dos anos, esses países bateram em um certo teto."

"É como se houvesse uma armadilha organizada pelos países estabelecidos que impedia a ascensão dessas potências emergentes. Então o que o BRICS faz é se desviar desses obstáculos."

Desdolarização da economia

Nesse sentido, os especialistas destacam que o BRICS não é um projeto anti-hegemônico que busca derrubar a ordem internacional formada após a Segunda Guerra Mundial, representada pelas Nações Unidas e seu Conselho de Segurança, pelo Banco Mundial, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e, tão presente no nosso continente, pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
O que há é o interesse do BRICS em pautar as Nações Unidas, em pôr seus interesses na mesa para discussão, ressaltam Belém e Rinaldi.
No entanto "é evidente que há temas que vão gerar tensões", aponta Belém, e um deles é a ameaça de desdolarização do comércio global.
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O próprio presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou os países do BRICS com tarifas alfandegárias caso tentem pôr para frente a substituição do dólar como moeda hegemônica. Para Rinaldi não há tanto interesse assim em desdolarizar o planeta, mas sim em criar um sistema de pagamentos em moedas locais entre os países-membros.
É "um dos grandes objetivos do BRICS", define o professor, "construir um meio de pagamento próprio, um 'BRICS Pay'".

Avanços diplomáticos do BRICS

Em 2024, a Índia e a China alcançaram um grande desenvolvimento diplomático, com a redução de tensões na fronteira dos países em Ladakh.
Tomada às margens da cúpula de Kazan, a decisão de desmilitarizar o ponto fronteiriço é um avanço importante não só para os países, que somam uma população de 3 bilhões de habitantes, mas para o BRICS.

"É uma conquista coletiva do grupo de países do Sul Global."

O especialista destaca que essa foi apenas uma das conquistas diplomáticas do BRICS, que levou para a agenda de Kazan pontos de tensão de todas as regiões do mundo, desde as preocupações com a Faixa de Gaza, o Líbano e a Síria até a situação no Sudão, no Chifre da África, no Sahel e no Haiti.
"O grupo BRICS está se tornando um espaço institucional importante para a gestão dos conflitos internacionais", afirmou Belém.
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Aproximação educacional intra-BRICS

Por fim, mas não menos importante, o BRICS deu um passo importante para aumentar a aproximação cultural entre seus cidadãos. O grupo está criando eixos de cooperação universitária entre os países, de modo a não só aproximar e compartilhar pesquisas, mas aprofundar os laços culturais através de intercâmbios.
Por enquanto os países estão pensando objetivos e indicadores que metrifiquem adequadamente a diversidade interna, e não "apenas emulem o que vem dos rankings britânicos e americanos", destaca Belém.
Um primeiro exemplo disso é a veiculação de uma revista científica de medicina. A área, que é bem desenvolvida nos países do BRICS, é uma "mobilização efetiva dos países no sentido de botar de pé as iniciativas conjuntas".
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