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China e Índia dão exemplo de diplomacia no BRICS ao resolver questões fronteiriças

© Sputnik / Aleksandr Kryazhev / Agência de fotos anfitriã brics-russia2024.ru / Acessar o banco de imagensOs líderes de China, Xi Jinping; Rússia, Vladimir Putin; e Índia, Narendra Modi (da esquerda para a direita, em primeiro plano), durante concerto antes de jantar informal dos chefes de delegações dos países do BRICS, durante a 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia
Os líderes de China, Xi Jinping; Rússia, Vladimir Putin; e Índia, Narendra Modi (da esquerda para a direita, em primeiro plano), durante concerto antes de jantar informal dos chefes de delegações dos países do BRICS, durante a 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia - Sputnik Brasil, 1920, 07.11.2024
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Às margens da Cúpula do BRICS, realizada no mês passado na Rússia, China e Índia consolidaram um acordo de patrulhamento para a redução de tensões no ponto de atrito fronteiriço de Ladakh. No final de outubro, tropas começaram a ser retiradas e um esquema de patrulhas alternadas foi instituído.
Para especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, esse é um exemplo de como a diplomacia é um caráter fundamental do BRICS, grupo de dez países que visa reformar a governança global através do multilateralismo.
Segundo Alexandre Coelho, professor doutor de relações internacionais e coordenador do núcleo de geopolítica do think tank Observa China, o acordo de Ladakh é "estratégico tanto para a Índia quanto para a China".

"O restabelecimento das patrulhas pré-2020 é uma medida que visa restaurar a normalidade e reforçar a estabilidade na região fronteiriça, crucial para evitar novos conflitos."

Além disso, destaca o pesquisador, esse entendimento abre as portas para melhorar a relação econômica entre os dois países, que, embora robusta, "enfrenta dificuldades no fluxo de investimentos chineses para a Índia".
Desde a crise em Ladakh em 2020, que viu pelo menos quatro mortos do lado chinês e dezenas do lado indiano, o investimento estrangeiro entre os países se viu restringido. "Para a Índia, atrair investimentos chineses poderia impulsionar setores manufatureiros e ajudar a equilibrar o déficit comercial […], uma das maiores preocupações do governo indiano", detalha Coelho.
Para o especialista em geopolítica chinesa, essa iniciativa mostra que Índia e China, dentro do contexto do BRICS, são capazes de chegar a acordos em tópicos específicos e evitar maiores conflitos, mesmo que isso não garanta uma "harmonização completa da política".

"Em vez de comprometer a coesão do grupo ou evidenciar uma contradição, essa abordagem demonstra que os membros do BRICS podem colaborar e coexistir com foco em interesses convergentes, sem que isso exija uma identidade política unificada ou alinhamento completo de agendas."

Segundo Tito Lívio, mestre em estudos estratégicos de defesa e segurança e membro pesquisador do Centro de Investigação sobre Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), a celebração desse acordo em reuniões bilaterais à margem da 16ª Cúpula do BRICS, realizada na Rússia, destaca o papel que o país eurasiático tem na reaproximação dessas duas potências.
"A Rússia desempenha também um importante papel, visto que ela tem ótimas relações tanto com a China quanto com a Índia", afirma Lívio.
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BRICS: plataforma de diplomacia mundial?

As contendas entre Índia e China eram vistas como pontos de contradição insuperável pelos críticos do BRICS. A resolução inicial de Ladakh, contudo, aponta para o oposto.
Nesse sentido, a vitória da diplomacia surge como um dos pontos principais que definem a ação do BRICS, que "surge com uma proposta de buscar democratizar as instituições internacionais", descreve Lívio, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial e o próprio Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU).

"O BRICS abre espaço para esses países que às vezes não têm sequer condições de ter voz, de ter posicionamento nesses órgãos tradicionais."

Formado como BRICS em 2011, com a entrada da África do Sul no antigo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o grupo de países só voltou a se expandir neste ano, com a entrada de cinco novos países: Irã, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Arábia Saudita.
Na cúpula de Kazan, os países-membros concordaram em abrir uma nova categoria de países parceiros para 13 outros Estados. Para Lívio, essa nova configuração "cria um espaço de melhor entendimento, uma dissuasão positiva".
Dessa forma, por exemplo, o BRICS pode se tornar um fórum onde países do Sudeste Asiático podem se reunir com a China para resolver suas disputas das ilhas Paracel, cadeia de ilhotas entre Vietnã, Malásia, Filipinas e a China, sem a interferência de potências externas, como os Estados Unidos, que usam o espaço marítimo filipino para tensionar a região.

"E ainda podem buscar novos interlocutores, como a Índia, a Rússia, o próprio Brasil, a África do Sul."

É isso que distingue o modus operandi da diplomacia do BRICS e do "eixo euro-atlântico", afirma o pesquisador do CIRE: "A quantidade de atores-interlocutores que você inclui no processo".
Uma vez que se coloca o processo decisório na mão de poucos países, acaba-se caindo na armadilha de aplicar soluções sem considerar a realidade local. "Às vezes não há a preocupação em ouvir as propostas da elite e da população local."
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No entanto, Coelho destaca que a abertura do BRICS para novos membros traz seus desafios próprios, uma vez que pode impedir uma "resposta unificada" do grupo aos desafios globais.
Cada país tem seus próprios interesses, explica o especialista em China, e é necessário esforço na atuação de cada membro para que haja uma diplomacia unificada.
Por ora, a vontade do grupo em permanecer um bloco unido parece sobressair, conforme é exemplificado pela fala do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que novos membros no BRICS só serão aprovados a partir de uma unanimidade.
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