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Rússia isolada? Triunfo da Cúpula do BRICS contraria Ocidente sobre suposta segregação global

© Sergey Bobylev / Photohost agency brics-russia2024.ru / Acessar o banco de imagensFotografia conjunta de representantes estatais presentes na 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia
Fotografia conjunta de representantes estatais presentes na 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia - Sputnik Brasil, 1920, 24.10.2024
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Encerrada nesta quinta-feira (24), a 16ª Cúpula do BRICS demonstrou que, ao contrário do que o Ocidente vem pregando nos últimos anos, a Rússia não está isolada da chamada comunidade internacional, diz especialista à Sputnik.
Representantes de 36 países estiveram em Kazan entre os dias 22 e 24 de outubro para participar da Cúpula do BRICS, onde foram discutidos temas de interesse para o futuro das nações do Sul Global.
"A Rússia foi capaz, durante este ano, de fazer um excelente trabalho diplomático na presidência do BRICS, com cerca de 200 reuniões, e sai daqui com algumas propostas importantes", considera Marco Fernandes, pesquisador do Instituto Tricontinental que acompanhou o evento em Kazan.
Conforme ressaltou o pesquisador em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, a Cúpula do BRICS foi "um sucesso diplomático para a Rússia", contrariando os murmúrios do Ocidente sobre o isolamento do país da comunidade internacional.

BRICS terá novos membros, mas em outras circunstâncias

Se neste ano, durante a presidência russa do BRICS, se consolidou a presença de cinco novos membros permanentes (Irã, Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos), a partir da 16ª cúpula o agrupamento convidou mais 13 países para ingressarem, mas como parceiros associados.
Agora Argélia, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã terão que decidir se aceitarão ou não o pedido.
A maioria deles, segundo Fernandes, já havia demonstrado interesse em se beneficiar das cooperações oferecidas pelo BRICS.
O pesquisador analisa que a expansão é positiva por diversos aspectos, desde a aglutinação de apoio para a demanda de países do grupo, como o próprio Brasil, pela reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas até cooperações econômicas e geopolíticas.
Por um lado, ele ressalta a entrada de Cuba como um aspecto positivo para o país caribenho, que poderá usufruir de parcerias econômicas, sobretudo do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do BRICS.

"Cuba está precisando demais. A gente viu agora, inclusive nesta semana, todo o drama de mais um apagão no país", ressalta.

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Na outra ponta, Fernandes vê economias emergentes como as de Malásia e Indonésia aderindo ao agrupamento, oxigenando-o em diversos setores — a segunda nação tem o potencial, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), de ser a quinta maior economia do mundo até 2030.

"Com esses novos países, o PIB do BRICS passaria para cerca de 43% do PIB global", ou seja, "o BRICS se aproximaria de quase metade do PIB global".

Além disso, o arranjo aumenta a sua potência energética e alimentar com os países convidados.
"Para você ter uma ideia, as reservas de petróleo chegariam a quase 50%, as de gás, a quase 60% das do mundo. Se a gente vai para os grãos, o BRICS seria responsável por cerca de 74% do arroz do mundo, cerca de 44% do milho, 48% da soja e cerca de 56% do trigo."
Inclusive partiu da Rússia a ideia de criar uma bolsa de grãos do BRICS, destaca o especialista.

"O presidente [Vladimir] Putin fez esse comentário uns meses atrás. Ele disse: 'Olha, nós produzimos a maior parte dos grãos do planeta, e quem define o preço é a Bolsa de Chicago. Isso não faz sentido! A gente precisa criar um mecanismo nosso para que os nossos países produtores tenham mais influência na formação dos preços do mercado mundial de grãos, garantindo também uma estabilidade maior, inclusive acordos que possam ser feitos no interior do BRICS'", aponta Fernandes.

O pesquisador relembra que uma das principais pautas da cúpula foi a criação de um sistema de pagamento alternativo ao SWIFT e negociações em moedas dos próprios países envolvidos como possibilidade ao dólar.
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Laerte Apolinário Júnior, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), destaca também a presença da Turquia, que pode ser o primeiro país da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a constituir relações com o BRICS.

"A Turquia é considerada uma potência regional, tanto em termos políticos quanto em termos econômicos, quanto em termos militares", ressalta.

Em outro reforço, o professor da PUC-SP aponta o Vietnã e a Nigéria entre os listados. Segundo ele, o primeiro ocupa um papel-chave nas cadeias globais de valor, enquanto o seguinte é a maior economia do continente africano.

"A Nigéria é a maior economia da África. É um dos grandes exportadores de petróleo dos mercados de energia. A gente observa que, nessa expansão recente, grandes exportadores passaram a fazer parte da organização. A Nigéria teria também a contribuir nesse sentido, para além do fato de que é um ator importante nas relações Sul-Sul", avalia.

Participação do Brasil na cúpula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participou presencialmente da Cúpula do BRICS por conta de um acidente doméstico. Por recomendação médica para evitar viagens longas, o chefe do Executivo do Brasil fez um discurso por videoconferência na quarta-feira (23).
A delegação em Kazan foi chefiada, portanto, pelo ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira.
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De modo geral, segundo analisa Apolinário Júnior, o presidente Lula, em seu discurso breve, fez ponderações sobre questões emergenciais que o Brasil tem liderado, como as mudanças climáticas, e mencinou questões sociais.

"Lula aproveitou o seu discurso para enaltecer as agendas que o Brasil está tentando promover no âmbito do G20, como a taxação dos super-ricos, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Nesse sentido, Lula tem defendido um maior fortalecimento do Sul Global", analisa.

Houve ainda um contraponto sutil feito pelo presidente, de que o BRICS não é um inimigo do Ocidente, ao dizer que "devemos evitar dicotomias simplistas".
Por outro lado, Fernandes aponta que o Brasil cometeu um grande equívoco na sua passagem por Kazan: barrar o convite à Venezuela para se tornar uma das nações associadas do arranjo. O presidente do país vizinho, Nicolás Maduro, já demonstrou algumas vezes de forma pública seu interesse em ingressar no grupo.
Para o analista, a posição brasileira é incoerente com seus próprios princípios em dois sentidos.

Primeiro: "O princípio maior da diplomacia brasileira é a não interferência nos assuntos internos de outros países. O Brasil não é fiscal de eleição de outros países. O TSE [Tribunal Superior Eleitoral] brasileiro não atua para além das fronteiras brasileiras. Então o Brasil não poderia se contrapor ao resultado da eleição oficial do governo da Venezuela", explica.

Em segundo lugar, ele relembra a reintegração da América do Sul como uma prioridade da política externa brasileira, destacada pelo próprio presidente Lula no dia da posse de seu terceiro mandato, no dia 1º de janeiro de 2023.
"Ora, não é possível fazer a integração sul-americana sem a Venezuela. Pelo contrário, a Venezuela é uma das economias mais importantes da região. É a maior reserva de petróleo do mundo. A Venezuela tem um potencial gigantesco econômico inexplorado, de negócios para as empresas brasileiras, ou seja, estou falando até do ponto de vista da lógica capitalista. A Venezuela seria um grande nicho de negócios para empresas brasileiras, para a Petrobras, para empresas privadas", atesta.
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A chancelaria venezuelana, no fim desta quinta-feira (24), publicou uma nota nas redes sociais sobre o veto do Brasil.
Nela, Caracas agradece ao presidente Putin pelo convite para a cúpula, ressalta os valores que interessam ao país, como a construção de um mundo mais equânime e uma ordem multipolar, e recorda ter propriedade sobre a maior reserva energética do mundo.
Sobre o veto, o país o compara com aquele aplicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ao país durante anos, "reproduzindo o ódio, a exclusão e a intolerância dos centros de poder ocidentais, para impedir, agora, o ingresso da pátria de Bolívar à organização".
A ação do Itamaraty foi descrita como uma agressão e um gesto hostil contra a Venezuela, tal qual as sanções impostas contra o país.
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