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Analista: Cúpula do BRICS marca 'crepúsculo da hegemonia dos EUA' e lançamento de nova ordem mundial

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Por videoconferência, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa na 16ª reunião dos chefes de Estado do BRICS, em Kazan, Rússia - Sputnik Brasil, 1920, 24.10.2024
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Hoje (24) foi o quarto e último dia da 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia. Repleto de reuniões de alto nível, conversas bilaterais e uma declaração conjunta com 134 pontos, o evento também teve um grande significado simbólico, que analistas explicaram à Sputnik.
"A cúpula do BRICS em Kazan é, sem dúvida, um dos eventos políticos e diplomáticos globais mais importantes deste ano, pois reuniu os líderes do grupo expandido pela primeira vez", disse à Sputnik o professor e pesquisador sênior da Universidade de Joanesburgo Alexis Habiyaremye.

"O grupo tornou-se agora o motor do crescimento global, e seu músculo econômico é, por qualquer medida, mais forte do que o do antigo grupo hegemônico. Pode-se dizer que é o lançamento oficial da ordem mundial multilateral e o crepúsculo da hegemonia dos EUA", acrescentou.

A declaração de Kazan conta com 134 disposições voltadas para a criação de uma ordem mundial mais justa e democrática, o aumento da cooperação para a estabilidade e segurança globais e regionais, a promoção da cooperação econômica e financeira e o fortalecimento dos intercâmbios entre os povos para o desenvolvimento social e econômico.
As disposições específicas incluem o consenso entre os membros do grupo sobre a necessidade de reformar o sistema de Bretton Woods e as Nações Unidas, além de expandir o uso de moedas nacionais no comércio e os compromissos para fortalecer a cooperação em alta tecnologia e medicina.
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"Os resultados mais importantes não são simplesmente as iniciativas contidas na declaração, mas, acima de tudo, o alinhamento estratégico de um grupo tão diverso e o brilho do poder que irradia ao atrair novos candidatos, como a Turquia. Dado o papel estratégico do país na antiga ordem hegemônica, a presença de seu líder na cúpula reflete a medida do futuro do BRICS em liderar os assuntos globais", declarou, em referência à participação do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, no evento.
Diferentemente da antiga ordem hegemônica, o BRICS destaca "a rejeição da dominação e do unilateralismo" e iniciativas que "refletem uma distribuição mais equilibrada de poder e responsabilidades", disse o pesquisador.

"Estruturas internacionais ocidentais usaram ferramentas ocultas, como o ISDS [mecanismo de solução de controvérsias entre investidores e Estados] e o sigilo tecnológico, para manter a exploração colonial em vigor e saquear os países mais vulneráveis. As novas estruturas institucionais propostas na declaração de Kazan devem contribuir para desmantelar esse arranjo injusto", resume.

Destruindo um grande mito ocidental

"O principal é que o presidente Putin mostra que, apesar da propaganda ocidental de que ele está isolado, ele tem muitos amigos. Muitos presidentes vieram à Rússia", disse à Sputnik Patrick Bond, professor de economia política da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo.

"Eles têm 20 mil delegados em Kazan, têm todas essas outras atividades. Isso mostra que os russos levam isso muito a sério. E foi histórico", observou Bond.

Dito isso, ainda existem questões que precisam ser resolvidas para transformar o BRICS na força global pela multipolaridade política e econômica que almeja ser, de acordo com o professor, que citou disputas sobre novos membros. É o caso de países como Egito e Etiópia, que enfrentam desacordos bilaterais sobre a segurança hídrica. "Então acho que foi inteligente não ter novos membros este ano e esperar até que todos sejam assimilados", disse Bond.
Quanto à desdolarização, também há muito trabalho a ser feito, segundo o professor. "Acho que o dilema essencial é que muitos do BRICS, como África do Sul, Índia, Brasil, ainda têm setores financeiros que estão atrelados ao dólar de uma forma que obviamente a Rússia e o Irã não estão mais, por causa das sanções. E novos membros, incluindo a Arábia Saudita, potencialmente, os Emirados Árabes Unidos e o Egito, também estão muito ligados a Washington."
A desdolarização é essencial para esses países, avalia o especialista, já que o Federal Reserve dos EUA "imprime dinheiro e depois aumenta a taxa de juros, criando estragos em ambos os casos em todo o mundo. Eu atribuiria grande parte da desigualdade [global] ao dinheiro fácil do Fed dos EUA, seus resgates aos próprios bancos. Então realmente precisamos ver algo diferente."
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Diplomacia vs. desestabilização

Em última análise, o que torna a cúpula de Kazan tão importante "é o momento particular na ordem econômica, em que as economias emergentes produzem mais do que os hegêmones anteriores, mas são confrontadas com constantes ameaças de conflitos, já que o Ocidente não deseja descer sem lutar", enfatizou o professor Habiyaremye.

"O diálogo é importante para evitar o caos que o Ocidente quer infligir à comunidade global apenas para permanecer no topo. É por meio do diálogo que a transição inevitável da antiga para a nova ordem mundial pode ser alcançada, sem destruir as preciosas vidas de várias comunidades", concluiu o observador.

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