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Conflito no Pantanal: empresas tentam expulsar ribeirinhos para abrir espaço para portos (VÍDEO)

© Foto / Divulgação / Instituto Homem PantaneiroFuncionários do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) navegam em barco por rio (foto de arquivo)
Funcionários do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) navegam em barco por rio (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 14.02.2025
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Ambientalistas denunciam tentativas de expulsão de moradores no Pantanal para a construção de portos, o que tem provocado episódios de violência e ampliado os riscos de incêndios florestais.
O rio Paraguai já é usado entre os municípios de Corumbá (MS) e Porto Murtinho (MS) para o escoamento de produtos agrícolas, entre outros, mas há o receio de que tal passagem — que pode ser ampliada — seja até utilizada para o transporte de ilícitos.
André Siqueira, biólogo e diretor da ONG Ecoa, comenta que há indícios preocupantes sobre o uso de hidrovias para o transporte de produtos ilícitos devido à fiscalização limitada.

"Isso explicaria um pouco por que empresas que querem concessões têm um capital de giro pequeno, mas relações com outras várias empresas, inclusive muito antigas, da hidrovia."

"É muito suspeita uma movimentação tão grande que exige tanto investimento", comenta. Ele também menciona episódios de violência relacionados à exploração do território, como o ocorrido em Porto Esperança (MS), mas pontuou que a situação na região está atualmente mais controlada.
Nesse caso, empresas tentaram expulsar moradores para a construção de portos. "Com o apoio do Ministério Público Federal, conseguimos instituir um protocolo de consulta prévia que tem protegido essas comunidades de despejos arbitrários."
Uma eventual ampliação da hidrovia, segundo Siqueira, beneficiaria principalmente a navegação industrial de grandes barcaças para o transporte de soja e minério, enquanto comprometeria o equilíbrio ecológico e cultural da região.
Ele defende a necessidade de diferenciar a navegação tradicional, usada por ribeirinhos e comunidades locais, da navegação industrial de larga escala. "O que a gente está falando são essas grandes barcaças que causam problemas, como o impacto mecânico em pontes e a erosão das margens dos rios."
Embarcações circulam no rio Igarapé Tarumã-açu, na Região Metropolitana de Manaus. Amazonas, 22 de novembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 01.02.2024
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O que causa o fogo no Pantanal?

Gustavo Figueirôa, biólogo e diretor do SOS Pantanal, afirma que, assim que as chuvas cessarem e a estação seca começar, a tendência é que a água "vá embora muito rápido", resultando em áreas secas e propensas a incêndios florestais no meio do ano.
O biólogo aponta que a gravidade dos incêndios depende da preparação e prevenção, como a realização de queimas prescritas, manejo integrado do fogo e manutenção de aceiros.
Para ele, o desenvolvimento econômico deve ser alinhado à conservação ambiental.

"Nós não somos contra desenvolvimento econômico, pelo contrário, mas o desenvolvimento tem que ser aliado à conservação do meio ambiente. A gente não pode abrir mão de um bioma para tentar fazer uma hidrovia que nem vai ser viável ao longo do ano todo."

Ao ser questionado sobre quem se beneficiaria de tais ocorrências, Figueirôa afirma que os principais interessados são grupos pequenos, mas influentes, ligados a grandes negócios.
"Geralmente interessam a grupos pequenos, mas de pessoas muito poderosas, que têm grandes negócios na mão, que vão lucrar muito com essa exportação mais barata de insumos agropecuários, de minério, através do rio Paraguai. Então, mais uma vez, isso mostra que é o interesse de poucos; para o ganho de poucos, a gente vai sacrificar a vida de muitos."
Siqueira destaca a importância de investir em alternativas como a malha ferroviária, que poderia ser mais eficiente e causar menos impactos ambientais em comparação às rodovias ou hidrovias.
"Foi sucateada, e agora tudo é muito mais caro para recompor, mas o impacto é muito menor", disse, lembrando que as ferrovias na região central do Brasil datam de 1914 e ainda possuem grande capacidade de transporte.
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Além disso, Siqueira criticou a sobrecarga nas rodovias utilizadas para o transporte de minérios, como a BR-262, e os prejuízos causados por esse modelo. "Essas carretas hoje andam a 120 [km/h], 110 [km/h]."
"Além de vender o minério bruto barato, a gente ainda paga toda a manutenção da BR anualmente", disse, chamando a atenção para o atropelamento da fauna na planície pantaneira, por exemplo.
Nesse caso, diz, é importante haver uma regulamentação de horários e velocidades para caminhões, além de iniciativas de proteção ambiental, como passagens para fauna e cercas.
No entanto, ele lamenta a falta de avanços nessas áreas: "Não vejo nenhum movimento nesse sentido, pelo menos a curto prazo. Nada".
Por fim, Siqueira volta a bater na tecla de discutir eventos climáticos extremos e suas consequências sobre os grupos mais vulneráveis, como pescadores e comunidades extrativistas. "Os primeiros que recebem [pagamentos por serviços ambientais] são grandes produtores rurais."
"Grupos que de fato fazem um serviço à sociedade são os que menos têm regulamentação ou interesse em regulamentar", diz.
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