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Análise: China não atua para fazer o yuan ultrapassar o dólar porque isso não interessa a Pequim

© AP Photo / Kin CheungHomem passa por casa de câmbio decorada com diferentes notas em distrito comercial de Hong Kong. China, 10 de junho de 2019
Homem passa por casa de câmbio decorada com diferentes notas em distrito comercial de Hong Kong. China, 10 de junho de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 05.03.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que um yuan mais forte do que o dólar prejudicaria as exportações da China. Por isso, Pequim toma medidas para que não haja valorização da moeda acima do desejado.
A participação do dólar nas reservas cambiais globais no final do terceiro trimestre de 2024 atingiu o mínimo das últimas três décadas, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi o segundo trimestre consecutivo de queda da moeda estadunidense. Em contraponto, o yuan chinês atingiu o maior patamar em relação ao dólar em 16 meses.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas apontam quais as consequências do enfraquecimento do dólar e se o yuan pode ultrapassar a moeda norte-americana como principal nas transações internacionais.
Daniel Cavagnari, economista do Centro Universitário Internacional (Uninter), aponta que a postura agressiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação ao plano de desdolarização do BRICS já sinaliza que o dólar realmente tem uma crise ou está em situação de perder sua hegemonia como moeda internacional. Ele afirma que o dólar, como reserva mundial, ainda tem força, mas a tendência "é que ele deixe de ser a moeda-base para toda a economia".

"Isso significa que os países vão desdolarizar a economia deles? Com certeza isso vai acontecer. Mas é em longo prazo, porque não dá para fazer da noite para o dia", alega.

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Sobre a valorização do yuan, Cavagnari afirma que não é tão interessante para a China uma moeda muito forte porque afetaria as exportações do país. Por esse motivo, o governo chinês toma medidas para que não haja valorização acima do desejado.

"O americano, uma das brigas maiores deles com a China, é justamente isto: que o chinês fica desvalorizando a moeda para que o produto dele fique mais barato. E assim, óbvio que ele ganha no comércio internacional, mas isso não pode ser feito. Daí o chinês, o que ele faz? Ele, de certa forma, tem que criar um mecanismo de valorização da moeda […]. Ou seja, a desvalorização acontece naturalmente. Ele não precisa criar mecanismos falsos. E, por outro lado, ele tem que tomar cuidado para não valorizar demais", explica.

Ele afirma que a China não deixa o yuan valorizar em demasia, justamente porque a desvalorização da moeda é o que tira os indivíduos do país da pobreza, uma vez que estimula as exportações e viabiliza o crescimento da economia.
"Ele [chinês] saiu da miséria, chegou na classe média e agora provavelmente vai chegar a um país rico. Digamos que daqui a dez anos isso aconteça. Sim, daí ele pode pensar em uma segunda estratégia, em tornar a moeda dele uma das mais fortes do mundo", afirma.
Walter Franco, professor de economia da Faculdade de Belas Artes de São Paulo, considera difícil afirmar que o mundo esteja realmente em um processo de desdolarização, mas aponta que há tendência à maior diversificação dos negócios, maior despolarização, maior busca por alternativas sob o ponto de vista dos traders internacionais que, de maneira indireta, acaba gerando oportunidades e possibilidades de trading, de negociações globais — sejam financeiras ou comerciais — em outras moedas.

"Não sei se isso significaria necessariamente nem algo muito planejado para uma saída do uso do dólar nas transações internacionais, por um lado, e muito menos um processo de efetiva concretização disso. Mas é claro, sim, que os players globais, as grandes nações — tanto as maiores quanto as menores — vêm mantendo e vêm reduzindo gradualmente as reservas internacionais de moeda americana, mas isso por razões das mais diversas, e não necessariamente algo muito planejado ou pensado com antecedência", afirma.

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Ele afirma que o fortalecimento do yuan frente ao dólar é explicado porque a China vem acumulando, por muito tempo, reservas internacionais de forma muito significativa — não só em dólar, mas em moeda forte em geral, e vem fazendo de forma muito cautelosa o controle de sua moeda e economia, o que garante previsibilidade e pouca volatilidade dos preços.
"Você passa para a nação e para o país uma segurança maior, e isso é muito importante na precificação de um ativo, como é uma moeda como o yuan. Então eu acredito que essas características da economia chinesa, reservas fortes, previsibilidade, uma política bastante conservadora, uma sinalização, sob um ponto de vista chinês, mais clara para o mercado, […] acho que por si só já são fatores que o investidor olha e fala: 'Bem, ali eu tenho uma certa segurança', portanto isso naturalmente valorizaria a moeda chinesa", explica.
Franco frisa que Trump não vê com bons olhos a intenção do BRICS de impulsionar as transações entre parceiros do grupo e de reduzir a dependência do dólar.

"Há um claro posicionamento do atual presidente dos Estados Unidos que ele não vê com bons olhos […]. Esse gradual aumento das transações entre os países do BRICS na busca não apenas da moeda comum — que a gente já viu que foi rechaçada do ponto de vista do governo americano —, mas também de negociar entre eles de formas alternativas."

Questionado se a China tem a intenção de fazer com que o yuan substitua o dólar como principal moeda de reserva global, Franco afirma não considerar essa uma necessidade da China no momento.
"Eu tendo a acreditar que o objetivo chinês é um objetivo muito pragmático na esfera comercial e financeira mundiais, ou seja, ela deseja produzir internamente, exportar, enriquecer a sua nação com base na sua exportação. E se forem necessários ajustes finos na paridade da sua moeda, ela fará. […] Eu tendo […] a enxergar sob o ponto de vista mais pragmático, de uma nação que se preocupa muito com produção, industrialização, crescimento e com exportação e crescimento de mercados. Eu não sei se ela [China] tem uma necessidade [de fazer o yuan suplantar o dólar], e eu acredito que ela possa enxergar isso de um ponto de vista mais secundário", afirma o especialista.
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