Contratos com F-16 e F-35 estão sob risco na Europa e no Canadá ante postura dos EUA, diz mídia
06:57 19.03.2025 (atualizado: 07:13 19.03.2025)
© AP Photo / Petros KaradjiasAvião de quinta geração F-35 dos EUA no porta-aviões britânico HMS Queen Elizabeth, no mar Mediterrâneo, 20 de junho de 2021

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Canadá e Europa parecem ter cada vez mais dúvidas sobre gastar seu orçamento militar com a aquisição de armamento norte-americano de ponta, como o F-35, uma medida vista anteriormente como estratégica para países ocidentais. Mas a crescente preocupação com as garantias militares dos EUA podem mudar o fluxo deste investimento.
Em menos de dois meses, o presidente dos EUA, Donald Trump, alterou drasticamente a política externa norte-americana, deixando os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) inseguros sobre o compromisso dos EUA em defendê-los em cenários de conflito e suspendendo grande parte da ajuda externa dos EUA.
O secretário de Defesa de Trump, Pete Hegseth, afirmou que "duras realidades estratégicas" impedem os EUA de focarem principalmente na segurança da Europa, o que pode impactar as vendas de caças avançados dos EUA, como o F-35 e o F-16.
A guerra por procuração da OTAN na Ucrânia revelou que seus membros no Leste Europeu ainda possuem vastos estoques de armas da era soviética, incompatíveis com armamento ocidental. Em função disso, vozes belicistas têm enfatizado a implementação de um plano de longo prazo para padronizar a Aliança Atlântica com caças ocidentais, como o F-16 e o F-35. Mas alguns países da OTAN estão reconsiderando a dependência de sistemas de defesa dos EUA e avaliando caças europeus como o Saab Gripen, Eurofighter Typhoon e Dassault Rafale.
No Canadá, onde Trump iniciou uma guerra comercial, o novo primeiro-ministro Mark Carney pediu uma revisão da compra de F-35, considerando o ambiente em mudança. Ottawa também anunciou a compra de um sistema de radar da Austrália no valor de US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 23,8 bilhões), saindo do mercado norte-americano.
Em Portugal, o ministro da Defesa de saída mencionou que as recentes posições dos EUA obrigaram o país a reconsiderar a compra de F-35, devido à imprevisibilidade imposta pelo novo ocupante da Casa Branca. Lisboa tem avaliado várias opções para substituir seus F-16, e segundo observadores e analistas militares, uma opção viável seria o Rafale francês.
Falando à AP sobre a relutância europeia e canadense, um antigo fiscal do governo dos EUA, Winslow T. Wheeler, destacou que comprar um avião dos EUA significa também estabelecer um relacionamento com o país, algo que muitos países valorizavam no passado. Os Países Baixos e a Noruega expressaram apoio ao programa F-35, destacando a importância da cooperação e diálogo contínuos com os EUA para o desenvolvimento e uso da plataforma, uma política que tem perdido fôlego na União Europeia (UE).
O F-35 Joint Strike Fighter, um dos sistemas de armas mais caros já produzidos pelos EUA, custa cerca de US$ 85 milhões (aproximadamente R$ 483,7 milhões) a unidade e enfrenta preocupações sobre um possível "botão de emergência" que poderia desativar os caças vendidos a aliados. O Pentágono negou veementemente essa possibilidade.
Alternativas europeias ao F-35, como o Saab Gripen sueco, Eurofighter Typhoon do consórcio Airbus, BAE Systems e Leonardo, e Dassault Rafale francês, podem ganhar espaço se outros países decidirem abandonar suas compras do F-35.
Na esteira desses desenvolvimentos está o F-35B, uma opção que pode decolar verticalmente de conveses de navios, o modelo mais recente da série, sem dúvidas, o sistema de armas mais caro que os EUA já produziram. Seu custo estimado de vida útil agora pode ultrapassar US$ 1,7 trilhão (cerca de R$ 9,6 trilhões) já que o programa contava com clientes internacionais para reduzir seus custos, mas agora, tem vendas incertas com o afastamento da defesa dos EUA da Europa e o empuxo europeu para produzir e adquirir sistemas intrabloco.