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Rearmamento multibilionário pode provocar erosão do contrato social europeu, alerta analista
Rearmamento multibilionário pode provocar erosão do contrato social europeu, alerta analista
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Um novo capítulo se abre na história da União Europeia com o lançamento do plano "ReArmin", que prevê um investimento de 800 bilhões de euros para fortalecer a... 01.05.2025, Sputnik Brasil
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A iniciativa representa não apenas uma resposta estratégica a supostas ameaças externas, mas também um marco de ruptura com a imagem tradicional da Europa como bastião da paz, do diálogo e do soft power.Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o professor Alexandre Coelho, doutor em relações internacionais e docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP), disse que o projeto de rearmamento, embora compreensível diante das tensões globais, coloca a Europa diante de um dilema difícil: como sustentar gastos massivos em defesa em meio a crises sociais, econômicas e fiscais crescentes?O plano, segundo Coelho, pode provocar uma "erosão do contrato social europeu" e alimentar movimentos radicais, num contexto de crescente desigualdade. Ele alerta ainda que a Europa tenta seguir uma lógica semelhante à dos Estados Unidos, que fortalecem sua economia por meio da indústria bélica. No entanto, esbarra em limitações estruturais: "Num primeiro momento isso é muito difícil porque a Europa ainda depende muito de fornecedores externos."A dependência é particularmente crítica em setores estratégicos, como o de semicondutores e metais raros. "Noventa por cento vem da China", afirmou o professor. "Vamos pegar um exemplo. A Holanda parou de exportar as máquinas de litografia para a fabricação de semicondutores de alto valor agregado para a China por pressão política dos Estados Unidos." E "não vai receber mais componentes eletrônicos que vão vir dos Estados Unidos" caso decida contrariar os interesses norte-americanos.Desgaste político e risco à identidade europeiaAinda que o plano tenha apoio institucional, o consenso entre os cidadãos não é garantido."Boa parte dos europeus, inclusive a população, acredita que deve se rearmar. O problema é que eles acreditam que deve se rearmar até a página 2", observou. "Até a hora que começar a ter problemas severos. Greves, protestos vão ficar ainda mais agudos do que já estão hoje."A iniciativa também representa um ponto de ruptura na narrativa histórica da Europa pós-Segunda Guerra Mundial. "Nós vamos ter uma Europa soft power mais hard power. E aí eu não consigo ainda prever o que vai ser mais forte, o soft ou o hard."O professor prevê ainda que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) poderá passar por uma transformação significativa. O professor Vinicius Modolo Teixeira, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), afirmou que o recente movimento da União Europeia em direção a um rearmamento de grandes proporções não significa, necessariamente, a preparação para uma guerra iminente, mas sim uma tentativa de romper com a dependência histórica em relação aos Estados Unidos.O plano europeu de investimento em defesa, estimado em 800 bilhões de euros, é visto por Teixeira como um esforço para alcançar autonomia estratégica. No entanto, o professor alerta que o discurso de ameaça – principalmente da Rússia – tem sido usado como uma ferramenta política para justificar esse aumento de gastos perante sociedades europeias já pressionadas por crises econômicas e sociais.A narrativa de uma guerra inevitável serve mais para convencer a população da necessidade dos investimentos em defesa do que para refletir uma realidade concreta, afirmou o professor. Teixeira questiona a viabilidade do plano europeu, citando a situação econômica difícil de países como Alemanha e outras potências regionais, que enfrentam recessão e envelhecimento populacional. A seu ver, o projeto de rearmamento se mostra mais como uma "meta aspiracional" do que uma medida concreta e sustentável.A defasagem tecnológica da indústria militar europeia também é apontada como um entrave. "Enquanto EUA e China já falam em caças de sexta geração, a Europa mal entrou na quinta. A dependência tecnológica e militar dos Estados Unidos ainda é muito presente", destaca Teixeira.O professor defende que a Europa deveria priorizar o diálogo com Rússia e China, em vez de alimentar tensões. "Reabrir canais de comunicação e cooperação com a Rússia, inclusive no setor energético, seria mais benéfico. A China também pode ser uma aliada importante, especialmente diante da taxação americana."
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Rearmamento multibilionário pode provocar erosão do contrato social europeu, alerta analista
Especiais
Um novo capítulo se abre na história da União Europeia com o lançamento do plano "ReArmin", que prevê um investimento de 800 bilhões de euros para fortalecer a capacidade militar do bloco.
A iniciativa representa não apenas uma resposta estratégica a supostas ameaças externas, mas também um marco de ruptura com a imagem tradicional da Europa como bastião da paz, do diálogo e do soft power.
Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o professor Alexandre Coelho, doutor em relações internacionais e docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP), disse que o projeto de rearmamento, embora compreensível diante das tensões globais, coloca a Europa diante de um dilema difícil: como sustentar gastos massivos em defesa em meio a crises sociais, econômicas e fiscais crescentes?
"Não é sustentável esse gasto a longo prazo sem comprometer áreas sociais essenciais", afirmou. "O trade-off é inevitável, ou seja, mais recursos para a segurança significam menos para a saúde, educação, infraestrutura verde."
O plano, segundo Coelho, pode provocar uma "
erosão do contrato social europeu" e alimentar movimentos radicais, num contexto de
crescente desigualdade. Ele alerta ainda que a Europa tenta seguir uma lógica semelhante à dos Estados Unidos, que fortalecem sua economia por meio da indústria bélica. No entanto, esbarra em limitações estruturais: "
Num primeiro momento isso é muito difícil porque a Europa ainda depende muito de fornecedores externos."
A dependência é particularmente crítica em setores estratégicos, como o de semicondutores e metais raros. "Noventa por cento vem da China", afirmou o professor.
"Vamos pegar um exemplo. A Holanda parou de exportar as máquinas de litografia para a fabricação de semicondutores de alto valor agregado para a China por pressão política dos Estados Unidos." E "não vai receber mais componentes eletrônicos que vão vir dos Estados Unidos" caso decida contrariar os interesses norte-americanos.
Desgaste político e risco à identidade europeia
Ainda que o plano tenha apoio institucional, o consenso entre os cidadãos não é garantido.
"Boa parte dos europeus, inclusive a população, acredita que deve se rearmar. O problema é que eles acreditam que deve se rearmar até a página 2", observou. "Até a hora que começar a ter problemas severos. Greves, protestos vão ficar ainda mais agudos do que já estão hoje."
A iniciativa também representa um ponto de ruptura na narrativa histórica da Europa pós-Segunda Guerra Mundial. "Nós vamos ter uma Europa soft power mais hard power. E aí eu não consigo ainda prever o que vai ser mais forte, o soft ou o hard."
O professor prevê ainda que
a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) poderá passar por uma transformação significativa.
"A OTAN para mim inclusive vai se tornar uma OTAN europeia". Isso "tende a mudar a identidade europeia", afirmou.
O professor Vinicius Modolo Teixeira, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), afirmou que o recente movimento da União Europeia em direção a um rearmamento de grandes proporções não significa, necessariamente, a preparação para uma guerra iminente, mas sim uma tentativa de romper com a dependência histórica em relação aos Estados Unidos.
O plano europeu de investimento em defesa, estimado em 800 bilhões de euros, é visto por Teixeira como um esforço para alcançar autonomia estratégica. No entanto, o professor alerta que o discurso de ameaça – principalmente da Rússia – tem sido usado como uma ferramenta política para justificar esse aumento de gastos perante sociedades europeias já pressionadas por crises econômicas e sociais.
A narrativa de uma guerra inevitável serve mais para convencer a população da necessidade dos investimentos em defesa do que para refletir uma realidade concreta, afirmou o professor.
"A Europa quer se descolar do guarda-chuva da OTAN, mas não está claro se tem condições econômicas para sustentar esse rearmamento."
Teixeira questiona a viabilidade do plano europeu, citando a situação econômica difícil de países como Alemanha e outras potências regionais, que enfrentam recessão e envelhecimento populacional. A seu ver, o projeto de rearmamento se mostra mais como uma "meta aspiracional" do que uma medida concreta e sustentável.
A defasagem tecnológica da indústria militar europeia também é apontada como um entrave. "Enquanto EUA e China já falam em caças de sexta geração, a Europa mal entrou na quinta. A dependência tecnológica e
militar dos Estados Unidos ainda é muito presente", destaca Teixeira.
O professor defende que a Europa deveria priorizar o diálogo com Rússia e China, em vez de alimentar tensões. "Reabrir canais de comunicação e cooperação com a Rússia, inclusive no setor energético, seria mais benéfico. A China também pode ser uma aliada importante, especialmente diante da taxação americana."
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