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Rearmamento multibilionário pode provocar erosão do contrato social europeu, alerta analista

© AP Photo / Cameron C. EdyVeículos blindados participam do exercício Baltops 2024 na região do mar Báltico, 16 de junho de 2024.
Veículos blindados participam do exercício Baltops 2024 na região do mar Báltico, 16 de junho de 2024. - Sputnik Brasil, 1920, 01.05.2025
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Um novo capítulo se abre na história da União Europeia com o lançamento do plano "ReArmin", que prevê um investimento de 800 bilhões de euros para fortalecer a capacidade militar do bloco.
A iniciativa representa não apenas uma resposta estratégica a supostas ameaças externas, mas também um marco de ruptura com a imagem tradicional da Europa como bastião da paz, do diálogo e do soft power.
Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o professor Alexandre Coelho, doutor em relações internacionais e docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP), disse que o projeto de rearmamento, embora compreensível diante das tensões globais, coloca a Europa diante de um dilema difícil: como sustentar gastos massivos em defesa em meio a crises sociais, econômicas e fiscais crescentes?
"Não é sustentável esse gasto a longo prazo sem comprometer áreas sociais essenciais", afirmou. "O trade-off é inevitável, ou seja, mais recursos para a segurança significam menos para a saúde, educação, infraestrutura verde."
O plano, segundo Coelho, pode provocar uma "erosão do contrato social europeu" e alimentar movimentos radicais, num contexto de crescente desigualdade. Ele alerta ainda que a Europa tenta seguir uma lógica semelhante à dos Estados Unidos, que fortalecem sua economia por meio da indústria bélica. No entanto, esbarra em limitações estruturais: "Num primeiro momento isso é muito difícil porque a Europa ainda depende muito de fornecedores externos."
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A dependência é particularmente crítica em setores estratégicos, como o de semicondutores e metais raros. "Noventa por cento vem da China", afirmou o professor.
"Vamos pegar um exemplo. A Holanda parou de exportar as máquinas de litografia para a fabricação de semicondutores de alto valor agregado para a China por pressão política dos Estados Unidos." E "não vai receber mais componentes eletrônicos que vão vir dos Estados Unidos" caso decida contrariar os interesses norte-americanos.

Desgaste político e risco à identidade europeia

Ainda que o plano tenha apoio institucional, o consenso entre os cidadãos não é garantido.
"Boa parte dos europeus, inclusive a população, acredita que deve se rearmar. O problema é que eles acreditam que deve se rearmar até a página 2", observou. "Até a hora que começar a ter problemas severos. Greves, protestos vão ficar ainda mais agudos do que já estão hoje."
A iniciativa também representa um ponto de ruptura na narrativa histórica da Europa pós-Segunda Guerra Mundial. "Nós vamos ter uma Europa soft power mais hard power. E aí eu não consigo ainda prever o que vai ser mais forte, o soft ou o hard."
O professor prevê ainda que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) poderá passar por uma transformação significativa.
"A OTAN para mim inclusive vai se tornar uma OTAN europeia". Isso "tende a mudar a identidade europeia", afirmou.
O presidente Donald Trump ocupa o cargo de chefe de Operações Espaciais da Força Espacial dos EUA. O general John Raymond, segundo da esquerda, e o sargento-chefe Roger Towberman, segundo da direita, seguram a bandeira da Força Espacial dos Estados Unidos, apresentada no Salão Oval da Casa Branca, , em Washington, 15 de maio de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 17.04.2025
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O professor Vinicius Modolo Teixeira, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), afirmou que o recente movimento da União Europeia em direção a um rearmamento de grandes proporções não significa, necessariamente, a preparação para uma guerra iminente, mas sim uma tentativa de romper com a dependência histórica em relação aos Estados Unidos.
O plano europeu de investimento em defesa, estimado em 800 bilhões de euros, é visto por Teixeira como um esforço para alcançar autonomia estratégica. No entanto, o professor alerta que o discurso de ameaça – principalmente da Rússia – tem sido usado como uma ferramenta política para justificar esse aumento de gastos perante sociedades europeias já pressionadas por crises econômicas e sociais.
A narrativa de uma guerra inevitável serve mais para convencer a população da necessidade dos investimentos em defesa do que para refletir uma realidade concreta, afirmou o professor.
"A Europa quer se descolar do guarda-chuva da OTAN, mas não está claro se tem condições econômicas para sustentar esse rearmamento."
Teixeira questiona a viabilidade do plano europeu, citando a situação econômica difícil de países como Alemanha e outras potências regionais, que enfrentam recessão e envelhecimento populacional. A seu ver, o projeto de rearmamento se mostra mais como uma "meta aspiracional" do que uma medida concreta e sustentável.
A defasagem tecnológica da indústria militar europeia também é apontada como um entrave. "Enquanto EUA e China já falam em caças de sexta geração, a Europa mal entrou na quinta. A dependência tecnológica e militar dos Estados Unidos ainda é muito presente", destaca Teixeira.
O professor defende que a Europa deveria priorizar o diálogo com Rússia e China, em vez de alimentar tensões. "Reabrir canais de comunicação e cooperação com a Rússia, inclusive no setor energético, seria mais benéfico. A China também pode ser uma aliada importante, especialmente diante da taxação americana."
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