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MEK: o grupo de oposição iraniano adepto do 'marxismo religioso' e que recebe apoio do Ocidente
MEK: o grupo de oposição iraniano adepto do 'marxismo religioso' e que recebe apoio do Ocidente
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É possível misturar marxismo e religião? No Irã da década de 1960, o grupo MEK, Organização dos Mujahidin do Povo Iraniano, tentou a fórmula na tentativa de se... 12.05.2025, Sputnik Brasil
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Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Jorge Mortean, mestre em estudos regionais do Oriente Médio pela Escola Internacional de Relações Exteriores da República Islâmica do Irã e doutor em geopolítica do oceano Índico pela Universidade de São Paulo (USP), falou sobre a história do grupo e suas atividades atualmente. O especialista, que já esteve no país persa, também abordou a opinião popular sobre o MEK.Da monarquia Pahlavi ao governo teocrático: a oposição é o MEKO MEK surgiu na década de 1960, em oposição à monarquia iraniana em sua última dinastia, a dos Pahlavi. Em 1979, após a Revolução Iraniana, foi estabelecida a República Islâmica do Irã, governo que lidera o país até o momento. Mesmo diante do novo cenário, o MEK se manteve como oposição.O grupo, segundo Mortean, nasce de um ponto de vista "um tanto meio desastroso, digamos, do ponto de vista ideológico". Para o pesquisador, a contradição em tentar versar marxismo e islamismo torna, inclusive, o grupo um alvo fácil para a oposição.O discurso do MEK colou em parte da sociedade, sobretudo nos mais pobres, que ficavam às margens das políticas de desenvolvimentos promovidas pelo Xá em áreas urbanas. Nesse contexto, o grupo angariou membros no início. A busca por justiça social referendava o marxismo como um "viés de saída" e, ao mesmo tempo, "os valores religiosos" ajudavam a atrair conservadores."Os seus membros, nessa fase inicial, eram pessoas mais humildes, menos instruídas, que estavam se instruindo. Essa imagem pesou muito contra a imagem que a monarquia fazia. A imagem religiosa que eles defendiam era um grande gancho também para angariar aliados", descreve.Entre os 44 dias de revolução e o início da República Islâmica, a estrutura nacional se encontrava "completamente bagunçada", diz o analista. "Como a revolução tomou muito rápido um caráter anti-imperialista, ainda que religioso, isso criou um engodo nessa oposição que se dizia de esquerda, ainda que o MEK fosse religioso". Nessa celeuma que era o país persa naquele momento, o grupo se manteve e se mantém como oposição.'O inimigo do meu inimigo é meu amigo'Mortean relembra que a primeira postura do novo poder em curso no Irã após a revolução foi adotar uma posição neutra nas relações internacionais. Isso "fez com que todo mundo virasse às costas para o Irã", recorda.No contexto de Guerra Fria e com o início do conflito entre Irã e Iraque, os grupos opositores procuraram aliados internacionais para tentar uma alçada ao poder. No caso do MEK, a associação com o lado iraquiano foi vista com bons olhos, e o grupo passou então a apoiar o líder Saddam Hussein, especialmente no contexto da guerra Irã-Iraque.Essa associação promoveu o grupamento como uma força de guerrilheiros, que passaram a combater ao lado de Saddam. Os desdobramentos da ofensiva iraquiana e os resultados do conflito minaram o já escasso apoio do qual o MEK gozava em seu país."A sociedade iraniana — sabendo que eles estavam baseados no Iraque, armados pelo Saddam, naquela condição de guerra imposta — passou a ter raiva desse grupo, passou a nutrir um sentimento de traição", detalha Mortean.Para descrever esse sentimento, o analista relembra momentos em que esteve no Irã e ouviu de pessoas que presenciaram o período da revolução que disseram que, embora houvesse descontentamento com a forma como a revolução se deu nas mãos dos clérigos, eles não deveriam ser "mais odiados que o MEK".Uma esquerda apoiada por EUA e Israel?O MEK é visto por Teerã, segundo o analista, como um grupo concorrente porque ambos lançam mão da frente religiosa como base política. Entretanto, o MEK ainda ressalta que eles não só são religiosos, mas também de esquerda.O apoio dos dois países resulta em um grupo que não é sancionado pelo Ocidente nem figura, atualmente, na lista de congregações terroristas. Eles são manipulados com uma tentativa de ferramenta de oposição à República Islãmica, explica.De acordo com o pesquisador, hoje o grupo possui algumas bases na Albânia e tem rosto feminino: liderado por Maryam Rajavi, ex-esposa de Massoud Rajavi, ao lado de quem foi colíder da organização.Além do apoio de EUA e Israel, o MEK conta com presença marcada no Parlamento Europeu. Segundo Mortean, a busca por esse apoio acontece já na presença de Maryam Rajavi, com o argumento que o movimento tinha abandonado a luta armada. A Guerra Fria já não imperava, e o Iraque de Saddam Hussein tampouco.O analista avalia que a presença da mulher à frente do grupo sustenta certa hipocrisia em relação ao discurso religioso, o que também ajuda a causar antipatia em parte da sociedade iraniana: "A sociedade iraniana tem raiva do MEK justamente por isso. Muitos ali no país querem ver o fim da teocracia, mas como eles podem substitui-lo por uma mulher que não confronta a religião?"O hijab é vestimenta constante na figura de Maryam Rajavi e, segundo o especialista, ela faz com que todas as mulheres aderentes ao grupo também o usem. Todas essas características do MEK mostram, portanto, um movimento "sem saber para onde quer ir, muito perdido ideologicamente".Se são uma oposição à teocracia, ao não se posicionar contra a religião, eles não conseguem angariar novos membros descontentes com esse aspecto da República Islâmica, explica.O grupo, portanto, já não ostenta seu hard power militar, tampouco o lobby político de poder partidário. De onde vem, então, a sobrevivência financeira do movimento. Mortean acredita que o apoio externo seja robusto. Afinal, o grupo se encontra em condição de exílio há 40 anos.
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mundo, jorge mortean, pahlavi, saddam hussein, irã, israel, iraque, mek, sputnik brasil, oriente médio e áfrica, ocidente, conflito, ideologia, exclusiva
MEK: o grupo de oposição iraniano adepto do 'marxismo religioso' e que recebe apoio do Ocidente
20:33 12.05.2025 (atualizado: 22:01 12.05.2025) Especiais
É possível misturar marxismo e religião? No Irã da década de 1960, o grupo MEK, Organização dos Mujahidin do Povo Iraniano, tentou a fórmula na tentativa de se opor aos governos iranianos prometendo justiça social. No entanto, ao longo da história, teriam se vendido aos maiores inimigos da nação: Estados Unidos e Israel.
Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Jorge Mortean, mestre em estudos regionais do Oriente Médio pela Escola Internacional de Relações Exteriores da República Islâmica do Irã e doutor em geopolítica do oceano Índico pela Universidade de São Paulo (USP), falou sobre a história do grupo e suas atividades atualmente. O especialista, que já esteve no país persa, também abordou a opinião popular sobre o MEK.
Da monarquia Pahlavi ao governo teocrático: a oposição é o MEK
O MEK surgiu na década de 1960, em oposição à monarquia iraniana em sua última dinastia, a dos Pahlavi. Em 1979, após a Revolução Iraniana, foi estabelecida a República Islâmica do Irã, governo que lidera o país até o momento. Mesmo diante do novo cenário, o MEK se manteve como oposição.
O grupo, segundo Mortean, nasce de um ponto de vista "um tanto meio desastroso, digamos, do ponto de vista ideológico". Para o pesquisador, a contradição em tentar versar marxismo e islamismo torna, inclusive, o grupo um alvo fácil para a oposição.
"Até mesmo porque a parte da esquerda que dialogava naquela época com a União Soviética, como era o grande maior partido comunista iraniano, o Tudeh, que também foi super-reprimido durante a dinastia dos Pahlavi, era uma linha comunista laica."
O discurso do MEK colou em parte da sociedade, sobretudo nos mais pobres, que ficavam às margens das políticas de desenvolvimentos promovidas pelo Xá em áreas urbanas. Nesse contexto, o grupo angariou membros no início. A
busca por justiça social referendava o marxismo como um
"viés de saída" e, ao mesmo tempo, "os valores religiosos" ajudavam a atrair conservadores.
"Os seus membros, nessa fase inicial, eram pessoas mais humildes, menos instruídas, que estavam se instruindo. Essa imagem pesou muito contra a imagem que a monarquia fazia. A imagem religiosa que eles defendiam era um grande gancho também para angariar aliados", descreve.
Entre os 44 dias de revolução e o início da República Islâmica, a estrutura nacional se encontrava "completamente bagunçada", diz o analista. "Como a revolução tomou muito rápido um caráter anti-imperialista, ainda que religioso, isso criou um engodo nessa oposição que se dizia de esquerda, ainda que o MEK fosse religioso". Nessa celeuma que era o país persa naquele momento, o grupo se manteve e se mantém como oposição.
'O inimigo do meu inimigo é meu amigo'
Mortean relembra que a primeira postura do novo poder em curso no Irã após a revolução foi adotar uma posição neutra nas relações internacionais. Isso "fez com que todo mundo virasse às costas para o Irã", recorda.
No contexto de Guerra Fria e com o início do conflito entre Irã e Iraque, os grupos opositores procuraram aliados internacionais para tentar uma alçada ao poder. No caso do MEK, a associação com o
lado iraquiano foi vista com bons olhos, e o grupo passou então a apoiar o líder
Saddam Hussein, especialmente no contexto da guerra Irã-Iraque.
"O MEK acaba encontrando, no governo iraquiano da época, a grande retórica do ditado que [diz que] o inimigo do meu inimigo é meu amigo."
Essa associação promoveu o grupamento como uma força de guerrilheiros, que passaram a combater ao lado de Saddam. Os desdobramentos da ofensiva iraquiana e os
resultados do conflito minaram o já escasso apoio do qual o MEK gozava em seu país.
"A sociedade iraniana — sabendo que eles estavam
baseados no Iraque, armados pelo Saddam, naquela condição de guerra imposta —
passou a ter raiva desse grupo, passou a nutrir um sentimento de traição", detalha Mortean.
Para descrever esse sentimento, o analista relembra momentos em que
esteve no Irã e ouviu de pessoas que presenciaram o período da revolução que disseram que, embora houvesse descontentamento com a forma como a revolução se deu nas mãos dos clérigos, eles não deveriam ser "mais odiados que o MEK".
"O MEK acaba sendo visto como um bando de oportunistas, que de religiosos só tem a casca", afirma.
Uma esquerda apoiada por EUA e Israel?
O MEK é visto por Teerã, segundo o analista, como um grupo concorrente porque ambos lançam mão da frente religiosa como base política. Entretanto, o MEK ainda ressalta que eles não só são religiosos, mas também de esquerda.
"Como assim uma esquerda que é financiada hoje, em 2025, por Estados Unidos e Israel?", questiona Mortean.
O apoio dos dois países resulta em um grupo que não é sancionado pelo Ocidente nem figura, atualmente, na lista de congregações terroristas. Eles são manipulados com uma tentativa de ferramenta de oposição à República Islãmica, explica.
De acordo com o pesquisador, hoje o grupo possui algumas bases na Albânia e tem rosto feminino: liderado por Maryam Rajavi, ex-esposa de Massoud Rajavi, ao lado de quem foi colíder da organização.
Além do apoio de EUA e Israel, o MEK conta com
presença marcada no Parlamento Europeu. Segundo Mortean, a busca por esse apoio acontece já na presença de Maryam Rajavi, com o argumento que o movimento tinha abandonado a luta armada. A Guerra Fria já não imperava, e o Iraque de
Saddam Hussein tampouco.
O analista avalia que a presença da mulher à frente do grupo sustenta certa hipocrisia em relação ao discurso religioso, o que também ajuda a causar antipatia em parte da sociedade iraniana: "A sociedade iraniana tem raiva do MEK justamente por isso. Muitos ali no país querem ver o fim da teocracia, mas como eles podem substitui-lo por uma mulher que não confronta a religião?"
O hijab é vestimenta constante na figura de Maryam Rajavi e, segundo o especialista, ela faz com que todas as mulheres aderentes ao grupo também o usem. Todas essas características do MEK mostram, portanto, um movimento "sem saber para onde quer ir, muito perdido ideologicamente".
Se são uma oposição à teocracia, ao não se posicionar contra a religião, eles não conseguem angariar novos membros descontentes com esse aspecto da República Islâmica, explica.
O grupo, portanto,
já não ostenta seu hard power militar, tampouco o lobby político de poder partidário. De onde vem, então, a
sobrevivência financeira do movimento. Mortean acredita que o apoio externo seja robusto. Afinal, o grupo se encontra em condição de exílio há 40 anos.
"Eles recebem muita ajuda da própria comunidade expatriada iraniana e seus membros devem trabalhar, ter empresas, ser empregados de empresas estrangeiras nos países onde residem e, obviamente, por ocasiões estratégicas, essa renda vem do exterior."
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