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G7 precisa reconhecer 'sua perda de relevância nas relações internacionais', afirma especialista

© AP Photo / Mark SchiefelbeinDa esquerda para a direita: o presidente do Conselho Europeu, António Costa; o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba; a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni; o presidente da França, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney; o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump; o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer; o chanceler alemão, Friedrich Merz; e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Alberta, Canadá, 16 de junho de 2025
Da esquerda para a direita: o presidente do Conselho Europeu, António Costa; o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba; a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni; o presidente da França, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney; o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump; o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer; o chanceler alemão, Friedrich Merz; e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Alberta, Canadá, 16 de junho de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 18.06.2025
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O 51º encontro anual do G7, realizado em Alberta, no Canadá, terminou na última terça-feira (17) sem avanços nas relações do grupo, em um evento marcado por reuniões bilaterais e ofuscado pelo conflito entre o Irã e Israel no Oriente Médio.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou o desejo de trazer de volta a Rússia para o grupo em uma expansão que também poderia envolver a China.
Para comentar esses e outros assuntos relacionados à Cúpula do G7, o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, ouviu nesta quarta-feira (18) a professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Denilde Holzhacker e a doutora em relações internacionais pela London School of Economics Carolina Pavese.
Holzhacker acredita que o G7 "sempre foi um grupo que teve divergências" e, neste momento, é usado para que cada um dos sete países — Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido — busque objetivos próprios. Para a especialista, um dos exemplos é Trump pedir a volta da Rússia, enquanto as outras nações expressam apoio à Ucrânia diante da operação militar especial russa.

"A posição dos países frente à Ucrânia, frente à Rússia, mostra que há falta de consenso. Falta, de fato, uma visão que possa ser considerada comum. O que a gente tinha do G7 durante os anos 1990, mesmo nos anos 2000, de uma coalizão de líderes que tinham uma percepção do que eram os caminhos a serem seguidos, hoje a gente tem menos isso, e essa reunião reflete bastante esse cenário."

Pavese lembra que essa não foi a primeira vez que Trump cogitou convidar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para uma reunião do G7: "Isso é algo que Trump insiste já desde o primeiro mandato."
Segundo Holzhacker, para o presidente dos Estados Unidos, é importante ter a Rússia de volta e incluir a China no grupo como "forma de estabelecer um diálogo para evitar grandes instabilidades", mas primeiro é preciso saber se para Moscou e Pequim é interessante participar.

"Primeiro, [é preciso] saber se China e Rússia querem estar no G7. Não só pelas mudanças das questões de valores, mas também pela necessidade de estabelecer um diálogo com [esses países]", disse Holzhacker, que completou: "[China e Rússia] têm visões de que o mundo precisa de maior equilíbrio, mas também lidar com desigualdades que sempre foram relacionadas ao mundo ocidental."

Para Pavese, o G7 ficou em uma saia justa com uma agenda que não conseguiu ser devidamente abordada diante de lideranças que "não estavam conseguindo se comunicar muito bem", incluindo a saída de Trump do evento. A especialista ressalta que existe uma discussão internacional sobre a fragilidade do grupo.

"[O G7 precisa reconhecer] sua perda de relevância nas relações internacionais e que não dá mais para a gente trabalhar com o G7 como ele foi criado lá em 1975."

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G7 demonstra apoio a Israel, enquanto Ucrânia fica de fora

Apesar do ceticismo de alguns especialistas sobre o grupo sequer chegar a uma declaração em conjunto, o G7 divulgou um texto final em que afirma que "Israel tem o direito de se defender". Segundo a Reuters, o Canadá havia feito uma proposta para uma "declaração contundente" sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, mas o texto foi abandonado por objeção dos EUA.

"Provavelmente também pesou nessa declaração com relação à Ucrânia a possibilidade de limitar ou não chegar a um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia", comentou Holzhacker.

Pavese aponta uma mudança no discurso da França e do Reino Unido, em especial em relação a Israel. Os países, que antes criticavam como Tel Aviv atua na Faixa de Gaza, agora demonstram apoio incondicional no conflito com o Irã.

"Parece que o foco deixou de ser a questão da Faixa de Gaza e passou a ser a questão com o Irã. Nesse sentido, esses países, que estavam em uma linha mais crítica, agora endossaram um apoio quase incondicional a Israel. E o interessante é que eles não pediram cessar-fogo."

A doutora em relações internacionais também comentou a fala do chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, que disse que Israel faz o "trabalho sujo" pelo Ocidente em relação aos ataques no Irã.
"[A fala] não caiu bem entre os diplomatas porque ele, além de expressar esse apoio incondicional, marcou uma posição muito clara ao Irã. E isso veio rasgar a possibilidade de diálogos diplomáticos, tomando um partido muito claro nessa guerra."
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O G7 quer enfraquecer o BRICS?

Brasil, Índia e África do Sul — três membros do BRICS — foram convidados a participar do encontro no Canadá. Holzhacker acredita que esse movimento tenha sido feito pelos países do G7, a fim de estabelecer contato mais estreito com essas nações, atraindo-as para uma lógica do Ocidente e testando o poder da China.

"Não acredito que seja [para enfraquecer o BRICS] ou tenha o intuito só de desmembrar, de esses países deixarem de ser parte do BRICS. […] Aqui é para claramente testar a liderança chinesa frente a esses países."

Pavese entende que o protagonismo da China na atual economia global "compromete" o diálogo de Pequim com outras potências e coloca o país como "alvo" do grupo formado por nações do Hemisfério Norte.

"A China tem sido alvo do G7 já há algum tempo, justamente pelo receio de perda de competitividade dessas economias em relação a Pequim."

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O Brasil, por outro lado, é rotineiramente convidado a esses encontros, por mais que, segundo o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, não concorde com a restrição dessas cúpulas a apenas sete nações. Ambas as entrevistadas acreditam que o G20 pode representar melhor a dinâmica internacional.

"O G20 seria um espaço mais amplo. […] A gente tem representatividade, como também tem diferenças culturais, econômicas e representaria muito mais o que seriam as necessidades atuais em termos de desenvolvimento econômico e social do mundo", explica Holzhacker.

Por sua vez, Pavese acredita que Lula busca justamente ser o interlocutor do G20 diante do G7, levando consigo uma agenda de meio ambiente com um multilateralismo mais inclusivo, abrindo espaço para países em desenvolvimento e economias emergentes.

"Essa agenda internacional demanda espaço para esse protagonismo, e o Brasil está certo em se fazer valer dessa janela de oportunidade para se colocar como um país muito importante nas relações internacionais", concluiu.

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