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Livre mercado é mito usado desde Bretton Woods para manter hegemonia dos EUA, dizem analistas

© AP Photo / Vadim GhirdaManifestante usa nota de dólar em um capacete de mineiro pintado na cor dourada durante protesto em Bucareste. Romênia, 21 de setembro de 2013
Manifestante usa nota de dólar em um capacete de mineiro pintado na cor dourada durante protesto em Bucareste. Romênia, 21 de setembro de 2013 - Sputnik Brasil, 1920, 03.07.2025
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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, economistas afirmam que "não existe um livre mercado global" e que os mecanismos criados em defesa desse conceito, na verdade, visavam garantir a predominância dos EUA e aliados ocidentais, mantendo outros países em posições subalternas.
A definição de livre mercado indica um sistema onde a produção e distribuição de bens e serviços são determinados pela oferta e procura, com pouca ou nenhuma intervenção do Estado.
Porém, regras impostas por grandes corporações e instituições financeiras, uso desenfreado de sanções como arma política, tarifas absurdas, embargos econômicos e subsídios que distorcem a livre concorrência levam à seguinte questão: o livre mercado é mesmo livre?
#653 Mundioka - Sputnik Brasil, 1920, 03.07.2025
Mundioka
O livre mercado é mesmo livre?
Ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, o professor de economia do Ibmec Brasília Renan Silva enfatiza que há uma confusão entre livre mercado e economia de mercado, que ele aponta serem conceitos bastante distintos.
"Economia de mercado implica que o mercado, por si só, de forma livre, é soberano e ele forma os preços, sem a interferência do governo ou de acordos bilaterais específicos", explica.

"Quando a gente já fala em livre mercado, acaba tendo alguma setorização. Por exemplo, quando nasceu o NAFTA [sigla em inglês para Tratado Norte-Americano de Livre Comércio], em 1995, depois substituído pelo USMCA [sigla em inglês para Acordo Estados Unidos-México-Canadá], […] estabeleceu-se que aquela região era de livre mercado. Mas naquela região, especificamente. Então é difícil imaginar o livre mercado global, porque você tem diversos acordos que formam ali, verdadeiramente, uma colcha de retalhos, onde você tem regiões políticas específicas, cada uma com suas demandas e suas dores, e elas tentam tratar essa situação com parcerias bilaterais que atendam a esses interesses."

Silva observa que, assim como não existe um livre mercado, também não existe "um livre comércio global", apenas "livres comércios regionais" a partir de determinados acordos.
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Entre os diferentes fatores que interferem nessa ideia de um mercado livre, funcionando de acordo com suas próprias regras, o economista cita o instrumento do embargo, que, segundo ele, pode ser de dois tipos: econômico, quando uma das partes descumpre as regras do acordo; e geopolítico, como é o caso do embargo de Cuba, imposto no auge da Guerra Fria.
"Os EUA não tinham interesse na expansão da filosofia do comunismo perto da sua casa, perto da sua fronteira, e aí você vê a proximidade de Cuba a Miami, e os EUA não tinham interesse no aumento da influência da União Soviética na América Latina e América do Sul. Então realmente houve essa retaliação", explica.
Ele afirma que os EUA têm o maior poder de influência nessas questões por um motivo histórico, que é a hegemonia do dólar. Segundo o economista, historicamente todos os impérios detiveram a hegemonia da moeda, ou seja, possuíram "a moeda de maior credibilidade, onde você tem o maior número de transações, a moeda daquele império".
"E, já há muitos anos, praticamente 80 anos, nós temos essa hegemonia, e isso ficou bem claro depois da Segunda Guerra Mundial, com os EUA tendo sido eleitos, lá em Bretton Woods, como o país gestor da política monetária praticamente global, onde eles obtiveram a hegemonia da moeda, do dólar."
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O economista Pedro Faria explica ao Mundioka que "os mercados globais não são livres", eles têm várias formas de interferência de potências globais históricas, principalmente dos EUA, e dependem de uma infraestrutura controlada por essas potências. Nesse contexto, ele afirma que o livre mercado "sempre foi um mito".
"O mercado, os mercados globais, eles dependem de uma infraestrutura. […] Ele depende de uma infraestrutura financeira que é uma rede de bancos conectados, seguradoras, e essas infraestruturas dos mercados globais são várias", afirma. "Ela é controlada principalmente pelas potências ocidentais. Ou era, pelo menos agora a gente tem mudanças nas infraestruturas globais, nos mercados globais. E, controlando essas infraestruturas, esses países, essas potências ocidentais conseguem impor sanções a quem desejarem, países, pessoas, empresas."
O mecanismo das sanções usado por essas potências tem como base interesses geopolíticos, segundo Faria. Os países que compõem o "sistema imperialista hegemônico", articulado pelos EUA no pós-Segunda Guerra Mundial, "tendem a usar sanções de maneira a produzir relações neocoloniais ou a perpetuar relações neocoloniais".
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O economista avalia que organismos internacionais, como a OMC, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o sistema SWIFT, de fato não existem para servir ao mundo, mas sim a determinados países.
"Eles têm sido cada vez mais utilizados com um propósito explícito e agressivo de manutenção da hegemonia norte-americana. Até o momento em que a hegemonia norte-americana não era contestada, […] esse sistema funcionava [aos olhos dos EUA, por estar a serviço deles]. No momento em que essas instituições, principalmente a OMC, passaram a ser favoráveis ao desenvolvimento chinês, qualquer pretensão de imparcialidade foi descartada [na ótica de Washington], e elas estão se tornando irrelevantes [pela ação da Casa Branca]", afirma.
Faria afirma ainda que a busca por uma moeda alternativa ao dólar foi, em grande parte, incentivada pelo uso excessivo de sanções e frisa que os EUA, ao tentarem "sancionar todos os países do mundo", estão se isolando, já que os países afetados começam a procurar outros parceiros.

"Esses países estão vendo a oportunidade de articular em redes bancárias, redes de empresas, de seguros, cada vez mais voltadas para a China, que é a principal compradora de seus produtos. E mesmo países que não estão sob sanção acabam tendo interesse em aderir a esse sistema alternativo, justamente caso ocorra alguma sanção."

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