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Governo armênio transforma 'conflito político em cruzada contra o clero' e busca atingir Rússia

© Sputnik / Aram Nersesyan / Acessar o banco de imagensO chefe da Diocese de Tavush da Igreja Apostólica Armênia, Arcebispo Bagrat Galstanyan, em um protesto em frente ao Gabinete do Procurador-Geral em Yerevan, em 9 de outubro de 2024
O chefe da Diocese de Tavush da Igreja Apostólica Armênia, Arcebispo Bagrat Galstanyan, em um protesto em frente ao Gabinete do Procurador-Geral em Yerevan, em 9 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 08.07.2025
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Declarações inflamadas do primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan contra a Igreja Apostólica Armênia mostra que mandatário busca romper com as estruturas ligadas à influência russa, diz analista.
Segundo o professor Guilherme Conceição, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas e pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), o líder armênio vai adotando um processo de desmonte dos elementos históricos e simbólicos que ligam seu país à Moscou, começando pela religião.

"Ao transformar o conflito político em uma cruzada contra o clero, o governo atinge justamente a pluralidade cultural e espiritual que sustenta a identidade do país de maneira mais ampla."

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Nesta terça-feira (8), Pashinyan voltou a insultar a Igreja Apostólica Armênia, prometendo chefiar a luta contra ela. Segundo ele, o centro espiritual foi capturado por um "um grupo anticristão, imoral, antinacional e anti-Estado e deve ser liberado", falando do patriarca supremo, Karekin II, e outros mediadores.
Conceição aponta que essa tentativa de deslegitimação por parte do premiê armênio "justifica, aos olhos do governo, medidas extremas, como invasões a locais sagrados", como já ocorreu anteriormente.

"A gente viu isso acontecer ainda em meados de junho, quando agentes da inteligência do governo invadiram a sede da Igreja para prender o [ arcebispo Mikael] Adzhapakhyan e também a disseminação de boatos pessoais contra o líder da Igreja Apostólica armênia, no caso, o Catholicos Karekin II, como acusação sem provas de que ele teria um filho ilegítimo".

Conforme o analista, as ações do governo atual representam o período mais sombrio para a Igreja Católica do país.

Ataque à Igreja Católica é também um ataque à Rússia

A perseguição de Pashinyan aos clérigos acontece em um contexto onde a Igreja Apostólica Armênia tem liderado as críticas ao país em relação ao conflito com o Azerbaijão, no qual a a Armênia abdicou da região de Nagorno-Karabakh.
"Quando o arcebispo [Bagrat] Galstanyan organizou manifestações massivas contra essas medidas, ele foi rapidamente detido sob acusação de planejar um golpe de Estado. Da mesma forma, posteriormente, o arcebispo Adzhapakhyan, que resistiu à prisão com o apoio de fiéis, também foi encarcerado preventivamente", explica.
"Episódios mostram que o governo utiliza do aparato de segurança para calar vozes divergentes", acrescenta o especialista.
O Conselho Mundial de Igrejas já manifestou preocupação com detenções de representantes da Igreja Apostólica Armênia e expressa solidariedade com ela, conforme anúncio feito pela organização.
O secretário-geral do Conselho, Jerry Pillay, apelou às autoridades nacionais para protegerem a honra e a dignidade das figuras e instituições religiosas no país. Conforme a publicação, é necessário abster-se de declarações e ações que podem ser consideradas como incitação à hostilidade e ao ódio em relações às estruturas religiosas.
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Prisão de Karapetyan tem relação com a agenda política de Pashinyan, diz analista
Entretanto, como ressaltando anteriormente, o ataque às igrejas tem vocação política. Para o professor, é preciso interpretar esse ataque à Igreja na Armênia "como um ataque ao tecido histórico que liga a trajetória à Rússia".
Muitos líderes eclesiásticos do país, como o próprio Karekin II, por terem estudado teologia em Moscou, possuem, segundo explica Conceição, ligações históricas com círculos e tradições da ortodoxia oriental, mais próximas ao mundo russo.

"Além disso, um dos maiores apoiadores da Igreja, o bilionário russo-armênio, [Samvel] Karapetyan, foi preso, há pouco tempo atrás, após declarar apoio ao Karekin II e se opor abertamente ao Pashinyan. Então o governo não apenas prendeu Karapetyan sob acusação de conspiração, como iniciou o processo de nacionalização da sua empresa de energia".

Na esteira dos ataques ao clero de hoje, forças de segurança entraram na sede da Electric Grids, de Samvel Karapetyan, e bloquearam a entrada para os funcionários da empresa.
Ao passo que a perseguição ao que liga a Armênia à Rússia acontece, o governo de Pashinyan vai estreitando laços com os EUA e a União Europeia, que ignoram a postura do premiê armênio.
"Existe um interesse muito grande do Ocidente a apoiar uma Armênia que se afasta da esfera russa", relata o analista. Em janeiro deste ano, inclusive, um acordo de parceria estratégia foi assinado entre Yerevan e Washington, o que indica "que a repressão doméstica não necessariamente é um obstáculo para o fortalecimento dessa aliança", completa.
Perguntado eventuais similaridades com o processo que aconteceu na Ucrânia, Conceição analisa que há indícios, sim, "de uma certa ucranização" da Armênia. Entretanto, o cenário no Cáucaso é muito mais complexo que no Leste Europeu, dado os atores antagônicos que podem acabar se envolvendo em um eventual conflito.
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