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Puxada de tapete na soberania: 5 momentos em que os EUA tentaram interferir na política brasileira

© AP Photo / Leo CorreaManifestação na praia de Copacabana, em junho de 2019
Manifestação na praia de Copacabana, em junho de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 14.07.2025
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Na última semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, causou furor ao anunciar, em carta ao governo brasileiro, a taxação de 50% sobre as importações de produtos oriundos do Brasil. Como justificativa, ele acusou prejuízos ao seu país e defendeu o ex-presidente do brasileiro Jair Bolsonaro, alegando que este era alvo de perseguição.
Essa não é a primeira vez, no entanto, que o governo norte-americano tenta desestabilizar a soberania dos Poderes brasileiros.
A Sputnik Brasil listou cinco momentos importantes em que os EUA interferiram nos assuntos internos do Brasil.

Ditadura militar

Na década de 1960, o temor não era que o Brasil se transformasse em Venezuela, mas na China, de acordo com o que foi revelado em uma carta entre o embaixador norte-americano no Brasil entre 1961 e 1966, Lincoln Gordon, e o governo dos EUA.
As participações do governo estadunidense no Brasil começaram antes mesmo de o presidente João Goulart chegar à presidência. Segundo historiadores, houve financiamento do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), que à época produzia conteúdos anticomunistas. A influência norte-americana também chegou nas Forças Armadas. Um intercâmbio entre Brasil e EUA no meio militar foi o caminho para formar os oficiais que tomaram o poder em 1964.
Segundo o pesquisador estadunidense James Green, em declaração ao Brasil de Fato, os EUA estavam preparados para reconhecer, a pedido do embaixador norte-americano no Brasil, o governo estabelecido logo após o golpe em abril de 1964. Além disso, havia previsão do envio de militares estadunidenses ao país caso houvesse resistência à tomada de poder.

Pressão para o Brasil tirar Bustani na questão iraniana

O ex-embaixador brasileiro José Maurício Bustani foi destituído do cargo de diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) em 2002 por pressão estadunidense. Na ocasião, o diplomata defendia a não invasão ao Iraque, posição determinante na demissão dele.
Em entrevista à Sputnik Brasil em março do ano passado, Bustani relembrou que a chegada de George W. Bush ao poder trouxe uma nova mentalidade na política externa estadunidense, centrada na guerra contra o terror, e que, naquele momento, já tinha escolhido o Irã, o Iraque e a República Popular Democrática da Coreia (RPDC) como seus grandes inimigos.
A tensão entre o diplomata e o governo norte-americano se dava, portanto, na seguinte questão: Iraque e Líbia decidiram aderir ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), contrariando o complexo militar-industrial norte-americano que, àquela altura, já considerava uma futura invasão ao Iraque.
José Maurício Bustani em trecho do documentário Sinfonia de um homem comum (2022). Ele atuou como diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) entre 1997 e 2002, quando foi demitido do cargo após sofrer pressões estadunidenses devido aos planos de invasão do Iraque - Sputnik Brasil, 1920, 20.03.2024
Panorama internacional
Ex-embaixador do Brasil que poderia ter evitado EUA de invadir Iraque relembra pressão que o demitiu
Como os estadunidenses tinham como objetivo interferir na mudança de regime iraquiana, criaram a narrativa de que o governo de Saddam Hussein fabricava armas de destruição em massa. A OPAQ, entretanto, já havia apurado que o Iraque não tinha tal arsenal e, antes da invasão, o próprio serviço de inteligência do Reino Unido já havia comprovado a situação.
O impasse gerou pressão para que Bustani adotasse a narrativa norte-americana, mas ele ousou dizer não. Em abril de 2002, a pedido de Washington, uma votação especial foi realizada e teve 48 países a favor de seu afastamento, com sete contra e 43 abstenções.

Espionagem no governo de Dilma Rousseff

No início da década de 2010, o governo da então presidente Dilma Rousseff foi alvo de espionagem por parte da administração de Barack Obama. Naquele momento, o Brasil gozava, além de autonomia diplomática, da descoberta do pré-sal.
A responsável pela espionagem, conforme revelado anos depois pelo WikiLeaks, foi a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês). Como exposto, além de Dilma, 29 telefones do governo petista — incluindo o de ministros, diplomatas e assessores — foram espionados pela agência de inteligência.

Influência norte-americana na operação Lava Jato

Tempos depois, o mesmo WikiLeaks revelou um documento do governo dos EUA que mostra como a Lava Jato e Sergio Moro foram impactados por agentes americanos que ministravam seminários a respeito de como combater "crimes financeiros e terrorismos". Nesse caso, os brasileiros teriam sido influenciados a criar uma força-tarefa, que recebeu acompanhamento externo.
Segundo os documentos vazados do WikiLeaks, os agentes estadunidenses incentivavam que os treinados criassem uma força-tarefa para um caso específico e dariam acesso aos treinadores — no caso, os especialistas americanos que forneceriam apoio "em tempo real".
A acusação de que os EUA tentaram criar uma rede para defender seus interesses no Brasil foi amplamente divulgada, sobretudo após as informações vazadas. Um jornal francês, inclusive, chegou a publicar uma longa reportagem dizendo que a Lava Jato serviu a vários interesses, "menos à democracia".

Governo Trump resolve taxar exportações brasileiras em 50%

Os EUA, apesar de registrar um superávit com o Brasil há mais de uma década, alegou problemas na balança comercial entre os países para impor uma tarifa de 50% às importações, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto.
O anúncio do governo norte-americano foi feito em uma carta enviada ao governo brasileiro. Logo no primeiro parágrafo do comunicado, Trump menciona decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e redes sociais norte-americanas como justificativa para as tarifas.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante declaração à imprensa durante a Cúpula do BRICS. Rio de Janeiro, Brasil, 7 de julho de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 10.07.2025
Notícias do Brasil
Análise: Trump colocou a família Bolsonaro na linha de fogo e facilitou a vida de Lula e do PT
A manifestação do líder dos EUA causou alvoroço. Enquanto de um lado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a soberania brasileira, o ex-presidente Jair Bolsonaro e, mais incisivamente, seu filho Eduardo Bolsonaro — que está nos EUA licenciado do cargo de deputado federal — ficaram a favor de Trump e vêm defendendo que o governo brasileiro ceda anistia ao ex-mandatário, a fim de que a situação seja resolvida.
A pressão, no entanto, vem sendo criticada por meios de comunicação, políticos, intelectuais e parte da população. Especialistas concordam que a medida fere a soberania brasileira.
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