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EUA ajudam Ucrânia e pressionam Brasil em busca de terras raras, diz analista

© AP Photo / Ukrainian Presidential Press Office via APVladimir Zelensky e o presidente dos EUA, Donald Trump, conversam enquanto participam do funeral do Papa Francisco no Vaticano, em 26 de abril de 2025
Vladimir Zelensky e o presidente dos EUA, Donald Trump, conversam enquanto participam do funeral do Papa Francisco no Vaticano, em 26 de abril de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 28.07.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, Luis Augusto Rutledge explicou que Washington mira países que acredita serem mais influenciáveis para tentar competir com a China, nação com a maior reserva desse tipo de mineral crítico.
O segundo mandato de Donald Trump à frente da presidência dos Estados Unidos está longe de ser calmo, em especial quando o recorte é a política externa do país. Essa suposta confusão diplomática, repleta de cartas e declarações fortes, pode ter uma explicação parcial simples: terras raras.
Em pouco menos de sete meses de mandato, a Casa Branca já reforçou apoio militar à Ucrânia via Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), embora semanas antes Trump tenha discutido com Vladimir Zelensky em frente às câmeras. O líder republicano também ameaçou taxar as exportações do Brasil em 50%, declarando, entre outros fatores, uma relação comercial desfavorável, ainda que Washington possua superávit sobre Brasília.
Brasil e Ucrânia possuem em comum, justamente, reservas de terras raras. Esse termo é utilizado para agrupar um conjunto de elementos químicos essenciais para fabricar diversas tecnologias de ponta da atualidade, como baterias e soluções usadas em equipamentos para a produção de energia renovável.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o engenheiro de petróleo e analista de geopolítica energética Luis Augusto Rutledge afirmou que os EUA estão mirando países que são, possivelmente, mais influenciáveis, uma vez que o controle sobre as terras raras é fundamental na competição entre Washington e Pequim.

"Os recursos da Ucrânia são fundamentais no tabuleiro de xadrez da geopolítica energética, antes somente de petróleo e agora adicionado de minerais críticos. A China produz cerca de 90% dos minerais refinados de terras raras do mundo […], usados em defesa, veículos elétricos, energia limpa e eletrônicos. Os EUA importam a maioria desses minerais, fator que coloca Pequim extremamente confortável, no momento, dentro desse segmento."

O acordo assinado entre Washington e Kiev para a extração norte-americana de terras raras da Ucrânia tem um empecilho. Grande parte dos elementos químicos que interessam a Casa Branca estão, na verdade, em territórios das novas regiões russas, como Donetsk, Lugansk e Zaporozhie, e em outras áreas onde se desenrola a operação militar especial.

"O acordo [EUA-Ucrânia] possui enormes implicações geopolíticas, não somente por fortalecer a aliança entre EUA e Ucrânia e maior cooperação econômica e militar entre os dois países. O real interesse de Trump são os minerais de terras raras da Ucrânia e, para obter parte do controle dos minerais estratégicos, é fundamental parar a guerra."

Se Washington pode pressionar a Ucrânia por acordos de terras raras com o envio de armas para o front no Leste Europeu, com o Brasil não existe tal forma de coerção. O analista acredita que as tarifas impostas por Trump estão diretamente ligadas a esse tema, que interessa às big techs dos EUA.

"O posicionamento norte-americano evidencia que os Estados Unidos estão mobilizando sua política comercial para garantir o acesso às matérias-primas minerais que são cruciais para a transição energética, assunto de menor importância para Trump e, sim, mais importante, o controle sobre a inteligência artificial [IA] que favoreça as empresas de IA. Vale ressaltar que IA depende de uma infraestrutura física de data centers, instalações com uso intensivo de energia."

Na visão de Rutledge, o governo Lula — que prega a necessidade do multilateralismo — não deve ceder aos desejos da Casa Branca, o que acirraria a disputa comercial que se desenha a partir do próximo dia 1º, quando o tarifaço de Trump entra em vigor.

"Acredito no acirramento das relações bilaterais entre Brasil e EUA. O Brasil e, mais ainda, o atual governo, prega o multilateralismo como forma de desenvolvimento das relações comerciais. Por isso, sempre enfatizam a importância do BRICS e do Mercosul."

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Novas peças no tabuleiro

Há mais de um século, a principal commodity do mundo é o petróleo bruto. A substância é capaz de impulsionar nações que possuem grandes reservas, assim como desestabilizar a economia mundial em caso de escassez ou aumento repentino de preço.
A gradual necessidade do petróleo na sociedade fez com que nações amplamente industrializadas do Ocidente se aproximassem de grandes produtores, como boa parte dos países do Oriente Médio, em busca de influência comercial e até política.
Com o desenvolvimento de novas tecnologias e a crescente necessidade e pressão por energias renováveis, entram em jogo as terras raras. E, assim como o petróleo — que trouxe nações antes sem expressão geopolítica para a mesa de negociações —, esses elementos químicos podem projetar os próximos grandes players.
"Serão observadas novas relações comerciais e maior proximidade política com Estados que detêm matérias-primas essenciais para a produção de energia renovável. Em especial, o formato de novas parcerias transnacionais dependerá não somente de inovação tecnológica, mas, principalmente, de decisões geopolíticas dos atores envolvidos", afirma Rutledge.
Apesar dos benefícios das terras raras, boa parte delas concentradas em países do Sul Global, o especialista acredita que diferentes interesses e questões econômicas podem atrasar essa transição energética em determinados locais.
"Os países em desenvolvimento continuam a ser fortemente dependentes economicamente dos combustíveis fósseis e os países produtores de petróleo dependentes da receita de exportação de energia fóssil."
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