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Tarifaço de Trump cria 'trégua temporária' entre os Poderes e engaveta anistia, dizem analistas

© Foto / Lula Marques / Agência BrasilHugo Motta (Republicanos-PB, ao centro, sentado) preside sessão da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). Brasil, 8 de julho de 2025
Hugo Motta (Republicanos-PB, ao centro, sentado) preside sessão da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). Brasil, 8 de julho de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 04.08.2025
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À Sputnik Brasil, especialistas apontam que os ataques de Trump ao Brasil enfraqueceram a oposição e sua defesa de Bolsonaro, e enfatizam que a união entre Poderes em defesa das instituições, apontada em nota divulgada por Alcolumbre, é apenas "circunstancial".
O presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União-AP), divulgou uma nota reagindo às tarifas norte-americanas sobre os produtos brasileiros e à pressão politica contra o Poder Judiciário. Segundo o politico, o Legislativo esta "unido" e "vigilante" na defesa das instituições e da soberania nacional.
"O parlamento acompanha de perto cada desdobramento dessa questão, em conjunto com o Executivo e o Judiciário, para assegurar a proteção da nossa economia e a defesa intransigente das instituições democráticas", disse, reagindo às manobras do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O posicionamento surpreendeu parlamentares da oposição, que esperavam uma postura diferente tanto de Alcolumbre quanto do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que também vem se posicionando contra o tarifaço e em prol da união entre os Poderes.
Recentemente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, afirmou que Motta e Alcolumbre correm o risco de ser punidos por Washington com a Lei Magnitsky caso não incluam na pauta de votação do Congresso o projeto de lei de anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro, bem como pedidos de impeachment contra magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam como fica a relação da oposição com os líderes do Congresso e se o imbróglio do tarifaço tem potencial para reaproximar o Executivo e o Legislativo, cujas relações estão abaladas desde o impasse em torno das emendas parlamentares.
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Rodolfo Tamanaha, advogado e professor de ciência política da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília e do Ibmec Brasília, considera que a união demonstrada por Alcolumbre e Motta é pragmática e resultante de "uma medida esdrúxula" de Trump contra o Brasil.
Segundo ele, apesar do "verniz político", há um "interesse econômico vigente" em prol dos Estados Unidos que mira fragilizar o Brasil para obter uma barganha melhor na mesa de negociação.
Dessa forma, a a junção de forças entre o Congresso, "mais preocupado com emendas parlamentares" e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em torno do tarifaço é apenas uma "união circunstancial".

"A oposição perde força em relação a esse tema, porque a população entende que a medida do Trump, no final das contas, vai dificultar a vida das empresas brasileiras e da própria economia brasileira."

Ele acrescenta considerar difícil que a pressão externa exercida possa levar ao avanço da pauta da anistia irrestrita, levada a cabo principalmente pelo campo bolsonarista.

"Não sei o quanto isso realmente surtiria o efeito que eles querem, de pautar o tema. […] Pode ser que avance uma coisa que seja não uma anistia irrestrita, mas algo que seja pontual, como se fosse uma medida no meio do campo."

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Marcus Ianoni, professor de ciência política da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca à Sputnik Brasil que "nem toda a oposição está comprometida com a agenda bolsonarista do PL e seus aliados".

"Os conservadores são maioria no Congresso, mas grande parte deles tem vínculos com setores do empresariado que não estão apostando no 'quanto pior, melhor'."

O especialista acrescenta que "o tarifaço colocou a oposição contra a parede", destacando que, se de um lado "os bolsonaristas batem palma para Trump", do outro os governadores conservadores, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Junior (PSD-PR), não compareceram aos atos públicos em prol de Bolsonaro do último domingo (3).
"Só o governador do Rio de Janeiro [Cláudio Castro, PL] foi ao ato, em seu estado. O prefeito de São Paulo [Ricardo Nunes, MDB] compareceu ao ato na avenida Paulista. O tarifaço prejudica o emprego e a renda de trabalhadores e empresários."
Segundo Ianoni, diante disso, é possível que haja convergência entre o governo federal e alguns políticos da oposição, como a vista em abril, quando o Congresso aprovou a Lei da Reciprocidade em resposta às primeiras medidas protecionistas de Trump.
"Há muito pragmatismo e fisiologismo em parlamentares conservadores, como são os do centrão. Veja que vários partidos que têm ministérios no governo Lula estão votando contra o governo em algumas matérias. Esse pragmatismo pode também levar alguns partidos e políticos a apoiarem algumas medidas legislativas de interesse do governo", afirma.
No que tange à pressão pela anistia dos envolvidos no 8 de Janeiro, Ianoni avalia que o projeto "continuará engavetado pelo Hugo Motta".
A opinião é compartilhada por Rodrigo Stumpf Gonzalez, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo ele, os ataques de Trump enfraquecem tanto a defesa de Bolsonaro quanto os ataques da oposição ao governo.

"Temas como a anistia devem ir para a geladeira. Neste momento, o tom de unidade é necessário para não parecer traidor do país. Mas em pouco tempo voltará a pressão do Congresso em questões como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras [IOF] […]. É apenas uma trégua temporária, um cessar-fogo, não um acordo de paz."

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Gonzalez afirma que é pouco provável que um brasileiro apoie um ataque dos EUA ao país, independentemente do motivo. Alguns podem até tentar colocar a culpa em Lula por não negociar, mas a pressão exercida por Trump só prejudica a direita no Brasil. "E quanto mais Eduardo fala, mais afasta possíveis aliados."

"No momento, o discurso nacionalista, do patriotismo, caiu no colo do Lula. O que a oposição vai ter de fazer é encontrar novos discursos, […] buscar pautas internas, como inflação e segurança pública."

Para ele, uma punição norte-americana aos líderes do Congresso Nacional aos moldes da Lei Magnitsky poderia levar a uma retaliação parlamentar, como a cassação de mandatos de membros da família Bolsonaro.
Assim, diz, neste momento a lei de anistia vai para a gaveta. "Poderá ser ressuscitada, mas depois da eleição, com Bolsonaro fora do cenário, com algum discurso humanitário de reduzir penas."
Luciana Santana, cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), afirma que o posicionamento de Motta e Alcolumbre em defesa da união das instituições "é o mínimo que seria esperado", uma vez que ambos "cumprem funções que são institucionais, que são regidas pela Constituição brasileira".

"Isso é o que a gente espera do ponto de vista de qualquer situação que atente contra o Estado brasileiro. Se os deputados e outros senadores da oposição reagiram ou esperavam uma situação oposta, teríamos um erro de postura desses parlamentares."

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Santana enfatiza que pesquisas demonstram que a maioria da população é contra o tarifaço, mas a situação em si não vai afetar a relação de Lula com a oposição, "cristalizada" por outras questões.

"A relação da oposição mais conservadora vai se manter, e dificilmente essa situação vai se alterar. Mas Lula consegue angariar aí uma simpatia maior, […] pessoas que estão ali no centro, que poderiam ser apoiadores em um eventual processo de reeleição."

A professora afirma ainda que, após todo esse episódio, é improvável que o projeto da anistia avance no Congresso, "pois seria uma afronta ao Poder Executivo e ao Judiciário". "Essa não é a predisposição de nenhum dos presidentes das Casas", conclui.
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