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Ataque dos EUA a Moraes serve de 'laboratório' para próximas ações imperialistas, notam analistas

© AP Photo / Julia Demaree NikhinsonDonald Trump fala com repórteres antes de embarcar no Air Force One, no Aeroporto Internacional de Lehigh Valley, em Allentown, Pensilvânia. EUA, 3 de agosto de 2025
Donald Trump fala com repórteres antes de embarcar no Air Force One, no Aeroporto Internacional de Lehigh Valley, em Allentown, Pensilvânia. EUA, 3 de agosto de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 05.08.2025
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À Sputnik Brasil, especialistas apontam que as ações contra o Judiciário brasileiro mostram que a gestão Trump abandonou a forma velada dos EUA de tentar exercer supremacia, e que essa postura é fruto da perda de espaço do país como agente dominante global, sobretudo diante da ascensão do BRICS.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tornou-se o símbolo de um ataque considerado sem precedentes dos EUA ao Judiciário brasileiro.
Punido com a Lei Magnitsky — originalmente criada para punir supostos ditadores, corruptos e pessoas envolvidas em violações dos direitos humanos —, Moraes foi citado nominalmente em uma nota do Departamento de Estado dos Estados Unidos, divulgada em reação à prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, acusado de "usar as instituições brasileiras para silenciar a oposição e ameaçar a democracia".
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que Moraes, na realidade, é usado como uma peça pelos EUA, sob a gestão de Donald Trump, em seu processo de "autoalienação" do centro do mundo.
Um dos elementos que resultaram no cenário visto hoje foram os anos de negacionismo ocidental em relação ao BRICS, conforme aponta Afonso de Albuquerque, professor do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Disputas e Soberanias Informacionais (INCT-DSI) da mesma universidade.
Ele argumenta que, após encontrar um terreno fértil para ascender como potência global no pós-Segunda Guerra, diante de uma Europa devastada, os EUA construíram uma ordem dominante, centrada em si mesmos e calcada no livre comércio. Porém, essa ordem acabou beneficiando principalmente a China, que passou a receber companhias interessadas em produzir no país por conta de custos menores.

"Os EUA começam a perder terreno, e aí eu acho que, nesse contexto, a gente tem um advento do BRICS. É muito interessante que os estrangeiros não viram o BRICS chegar. Se a gente olhar a literatura, basicamente nós temos um negacionismo sobre o BRICS a maior parte do tempo, autores dizendo que o BRICS não interessa", afirma.

Sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF). Brasil, 26 de março de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 01.08.2025
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O analista aponta que, em resposta à perda de terreno, os EUA recorreram à sua principal arma, o dólar, e passaram a "armamentizar" a moeda.
"E como é que faz isso? Via sanções. Agora, o grande drama é que, ao fazer isso, os EUA matam a galinha dos ovos de ouro. A premissa fundamental por detrás do domínio do dólar é que o dólar não será usado politicamente."
Nesse contexto, avalia o especialista, as tarifas aplicadas por Trump miram adversários dentro e fora dos EUA.

"Isso fica bem claro na aplicação da Lei Magnitsky ao Alexandre de Moraes. O que é a Lei Magnitsky? Chama-se imperialismo judicial. Os EUA se atribuem o poder de agir como agentes judiciários em escala global, mesmo além, ou muito além, dos limites de sua própria soberania. Mas o ponto importante é: os EUA interferem na Justiça há muito tempo. A Lava Jato é um exemplo explícito de intervenção dos EUA via Justiça na América Latina."

Diante disso, ele frisa que as ações de Trump não inovam em termos de imperialismo, sendo apenas um "revelador de mecanismos de intervenção" que já estavam presentes mundo afora. Ele aponta ainda que "falta inteligência" na articulação entre o trumpismo e o bolsonarismo, pois a tática atual mira um poder cujos representantes não são eleitos nem podem ser removidos do cargo, como foi o caso do impeachment de Dilma Rousseff. Ademais, não há uma "lógica organizadora" nas ações de Trump.
"É aquilo: 'Vamos negociar tarifas, vão ser de 100%', e aí amanhã elas são de 15% […]. Então o governo Trump demonstra uma ausência de visão do todo."
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Em contraponto, ele afirma que, enquanto os EUA perderam seu papel de fiador de uma ordem global para se tornarem um "agente de bullying universal", a China assumiu o espaço deixado, não por meio de imposição de visão, mas com valorização do comércio e de investimentos.

"Então eu vejo o episódio do Alexandre de Moraes como mais uma evidência, dentre milhões de outras, de que os EUA abriram mão, perderam o espaço como agentes dominantes em termos globais", afirma.

Hugo Albuquerque, jurista, editor da Autonomia Literária e analista geopolítico, afirma que Trump, com suas ações, acena para a massa trabalhadora branca empobrecida norte-americana, com uma política que é xenofóbica e racial. Segundo ele, essa combinação não possui efeito para a economia real e produtiva, visando apenas criar elementos que impulsionam uma economia fictícia do mercado financeiro, sobretudo no mercado de ações.
"Então ele faz medidas protecionistas para que americanos invistam nas ações de empresas locais, principalmente de tecnologia e, muitas vezes, esse protecionismo dele tem uma via ofensiva, de ataque econômico contra a China principalmente, mas, no segundo momento, também tem servido como meio de constrangimento político", explica.
Segundo o analista, isso ficou evidente no caso brasileiro, "que é uma intervenção na política interna", e no caso indiano, que "fica claro que tem um viés político porque o BRICS desagrada o Trump".
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Ele aponta que, com o ataque ao Judiciário brasileiro, os EUA buscam "estender a sua jurisdição e a sua soberania para o Brasil", alegando que o Brasil não respeita as leis estadunidenses, "o que é normal, sendo o Brasil uma nação soberana".

"Isso é inédito, porque a relação dos EUA com o Brasil sempre foi de sujeição, mas com eles exercendo a supremacia de maneira velada. […] Normalmente, os EUA procuraram evitar que medidas suas aqui no Brasil parecessem imperialistas, e hoje o Trump resolve fazer o contrário. Não só ele toca medidas de supremacia nacional radicais, como faz isso parecer expresso, público e notório", afirma.

Ele enfatiza que Moraes é alvo, em especial do governo Trump, porque há a leitura de que o ministro é "um símbolo" e líder de um processo de enfrentamento "à intervenção do trumpismo no Brasil".
"Nada aponta que Alexandre de Moraes é algum tipo de resistente ao papel americano no Brasil, mas a esse papel americano atual, sim. E aí é uma disrupção também, porque a direita brasileira sempre assumiu uma posição subserviente aos EUA, mas dentro desse acordo de dissimulação, de simular até uma certa soberania."
Nesse contexto, ele afirma que a punição atual a Moraes, ainda que tenha a sua especificidade da relação dos EUA com o Brasil, é um "laboratório" para ações futuras em outros países.

"Ela é um laboratório para o mundo. […] Acho que a intervenção no Judiciário é algo novo de os EUA estarem abertamente querendo que o Judiciário de um país mude a direção das suas decisões."

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