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'Movimento natural': Brasil amplia laços militares com a China, mirando reduzir dependência da OTAN
'Movimento natural': Brasil amplia laços militares com a China, mirando reduzir dependência da OTAN
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À Sputnik Brasil, analistas apontam que o envio de adidos militares de alta patente a Pequim é uma medida estratégica para diversificar parcerias com o Sul... 11.08.2025, Sputnik Brasil
2025-08-11T16:20-0300
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O Brasil enviará até o final deste ano dois adidos com patente de general ou equivalente para a embaixada em Pequim.A medida é inédita na história diplomática brasileira, uma vez que o envio de corpo militar de alta patente só existe atualmente na embaixada do Brasil nos EUA. Diante disso, ela pode representar um passo consolidado nas relações diplomáticas sino-brasileiras e na relação com o Sul Global, conforme apontam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.Sandro Teixeira, professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), afirma que a mudança da representação militar brasileira em Pequim reflete dois pontos: o primeiro é o reconhecimento do novo papel da China na geopolítica global; o segundo é o interesse das Forças Armadas brasileiras em diversificar parcerias.Ele acrescenta que essa mudança de perfil também reflete um "olhar brasileiro sendo lançado para a Ásia", ampliando a relação político-diplomática, mas também projetando a venda de equipamentos brasileiros para a região."É uma região que consome muito, é uma região voraz consumidora de produtos de defesa. Embora não haja um conflito na Ásia como existe, por exemplo, na Europa, ou na África, ou no Oriente Médio, você tem, sim, nações [na região] que compram muito material."Teixeira destaca que diante do momento conturbado da geopolítica global há um interesse legítimo brasileiro em diversificar parcerias. Ele lembra que, além da China, já foram feitos movimentos em direção a outros países, como, por exemplo, a Índia.O especialista afirma ainda que o que se está percebendo é uma transformação dentro do BRICS, movendo o foco do grupo do âmbito econômico e ampliando o geopolítico, "e nesse processo de transformação a gente vai ver mais relações militares". Ademais, ele aponta que essa busca por diversificação também é um reflexo do conflito ucraniano."É muito difícil hoje você comprar equipamento militar nível OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], que é o equipamento militar que as Forças Armadas brasileiras estão acostumadas a operar, por questões históricas, porque muito desse equipamento está sendo direcionado para a Ucrânia, então está praticamente impossível comprar certos tipos de equipamento hoje. Uma diversificação para nós é importante para manter as nossas Forças Armadas atualizadas", explica.Lucas Kerr, professor no Programa de Pós-Graduação em Integração Contemporânea da América Latina (PPG-ICAL), da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), diz que a novidade atual é o envio de adidos de alta patente a Pequim, uma vez que o Brasil já tem há tempos na China adidos até a patente de coronel.Ele afirma que a mudança abre espaço para uma "maior cooperação técnica e tecnológica, além de facilitar a aquisição de equipamentos de fabricação chinesa pelo Brasil". Segundo ele, isso é fundamental em um momento em que o Brasil precisa reduzir sua dependência histórica em relação aos EUA e à OTAN.Ele acrescenta que a China enfrenta desafios de um país de dimensões continentais, como o Brasil, por isso ampliar a cooperação não apenas no âmbito de equipamentos, mas de treinamento militar, é fundamental para a modernização da estratégia militar brasileira."Também temos muitos interesses em comum, como a construção de um mundo multipolar, mais estável, pacífico e cooperativo, assim como buscamos reduzir os efeitos deletérios das interferências das grandes potências nos assuntos internos das nossas respectivas nações."Kerr ressalta que nas últimas três décadas o Brasil teve uma experiência interessante de intercâmbio acadêmico e de formação entre escolas superiores do Brasil e da China, com militares de lá vindo para o Brasil ou daqui indo para lá, para estudar ou participar de cursos de formação.Segundo ele, isso foi importante pois, tradicionalmente, a maioria dos militares brasileiros que chegaram a altas patentes estudando ou fazendo cursos no exterior o fizeram nos EUA ou na Europa, "o que reforçava nossa dependência da OTAN".Ele aponta que essas sabotagens do desenvolvimento de países emergentes e da cooperação entre eles incluem métodos como inteligência, espionagem, capacidade de fazer propaganda e travar guerras econômicas e guerras híbridas."Nós tentamos desenvolver, por exemplo, processos de cooperação e integração regional em defesa na América do Sul, como a Escola Sul-Americana de Defesa (2014) e o Conselho Sul-Americano de Defesa da Unasul [União de Nações Sul-Americanas], e o resultado foi a sabotagem sistemática de toda a Unasul por parte dos EUA, da Inglaterra e de outras potências tradicionais da OTAN", afirma o especialista.Nesse contexto, ele enfatiza que retomar e fortalecer processos de cooperação Sul-Sul é fundamental para assegurar a soberania, dando ao Brasil maior autonomia em um mundo progressivamente mais multipolar.Rubens de Siqueira Duarte, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares da ECEME e coordenador do Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo), enfatiza que as Forças Armadas são instituições que devem estar sempre atentas às mudanças que ocorrem no mundo. Por isso ele enxerga a mudança como um "movimento natural".Ele acrescenta que o perfil da adidância também tem íntima relação com a quantidade de militares que estão no país asiático e com o volume de oficiais que visitam o Brasil."É normal que oficiais brasileiros façam cursos de nível estratégico ou político em outras nações, bem como existam vários militares estudando em nossas escolas militares de nível superior. Em um mundo em constante e acelerada modificação, é importante que nossos oficiais estejam a par das inovações que ocorrem nesses países. A internacionalização do saber é uma realidade e o Brasil não pode ficar de fora."Duarte aponta que a China "está investindo muito no orçamento militar e seus equipamentos estão se mostrando muito eficientes", e diz que "é evidente que o Brasil precisa acompanhar essas mudanças, pois pode ser do interesse do país".Sobre uma eventual reação dos EUA à medida, Duarte frisa que isso não pode impedir o movimento em curso e destaca que o atual governo estadunidense "está reclamando até do Pix"."As instituições de Estado do Brasil não podem se pautar por administrações. Trata-se de uma visão de longo prazo."
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'Movimento natural': Brasil amplia laços militares com a China, mirando reduzir dependência da OTAN
16:20 11.08.2025 (atualizado: 15:19 13.08.2025) Especiais
À Sputnik Brasil, analistas apontam que o envio de adidos militares de alta patente a Pequim é uma medida estratégica para diversificar parcerias com o Sul Global e reduzir a dependência de "potências decadentes" em meio à turbulência no cenário global.
O Brasil enviará até o final deste ano dois adidos com patente de general ou equivalente para a embaixada em Pequim.
A medida é inédita na história diplomática brasileira, uma vez que o envio de
corpo militar de alta patente só existe atualmente na embaixada do Brasil nos EUA. Diante disso, ela pode representar um passo consolidado nas relações diplomáticas sino-brasileiras e na relação com o Sul Global, conforme apontam especialistas ouvidos pela
Sputnik Brasil.
Sandro Teixeira, professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), afirma que a mudança da representação militar brasileira em Pequim reflete dois pontos: o primeiro é o reconhecimento do novo papel da China na geopolítica global; o segundo é o
interesse das Forças Armadas brasileiras em diversificar parcerias.
"A gente está vendo claramente uma mudança e uma sinalização que não é apenas para a China, mas para outras nações do mundo, especialmente as nações do BRICS", afirma.
Ele acrescenta que essa mudança de perfil também reflete um "olhar brasileiro sendo lançado para a Ásia", ampliando a relação político-diplomática, mas também projetando a venda de equipamentos brasileiros para a região.
"É uma região que consome muito, é uma região voraz consumidora de produtos de defesa. Embora não haja um conflito na Ásia como existe, por exemplo, na Europa, ou na África, ou no Oriente Médio, você tem, sim, nações [na região] que compram muito material."
Teixeira destaca que diante do
momento conturbado da geopolítica global há um interesse legítimo brasileiro em diversificar parcerias. Ele lembra que,
além da China, já foram feitos movimentos em direção a outros países, como, por exemplo, a Índia.
"Há uma atenção das Forças Armadas nesse sentido, há uma atenção da defesa nesse sentido, que acaba casando um pouco com a política externa brasileira de projetar e de reforçar a via multilateral, que é uma opção que o Brasil tem, enxerga e não abre mão. Então, aqui, o que a gente está vendo é uma movimentação militar em prol de um objetivo de política externa."
O especialista afirma ainda que o que se está percebendo é uma transformação dentro do BRICS, movendo o foco do grupo do âmbito econômico e ampliando o geopolítico, "e nesse processo de transformação a gente vai ver mais relações militares". Ademais, ele aponta que essa busca por diversificação também é um reflexo do conflito ucraniano.
"É muito difícil hoje você comprar equipamento militar nível OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], que é o equipamento militar que as Forças Armadas brasileiras estão acostumadas a operar, por questões históricas, porque muito desse equipamento está sendo direcionado para a Ucrânia, então está praticamente impossível comprar certos tipos de equipamento hoje. Uma diversificação para nós é importante para manter as nossas Forças Armadas atualizadas", explica.
Lucas Kerr, professor no Programa de Pós-Graduação em Integração Contemporânea da América Latina (PPG-ICAL), da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), diz que a novidade atual é o envio de adidos de alta patente a Pequim, uma vez que o Brasil já tem há tempos na China adidos até a patente de coronel.
Ele afirma que a mudança abre espaço para uma "maior cooperação técnica e tecnológica, além de facilitar a aquisição de equipamentos de fabricação chinesa pelo Brasil". Segundo ele, isso é fundamental em um momento em que o Brasil precisa reduzir sua dependência histórica em relação aos EUA e à OTAN.
"Nesse sentido, a cooperação técnica e tecnológica na área de defesa, com países emergentes do Sul Global ou Sul Geopolítico, é vital para viabilizar maior liberdade no cenário geopolítico e estratégico global, mas também para reduzir a dependência de 'potências decadentes' que estão atacando o Brasil de diversas formas na última década, porque veem o Brasil como um país emergente — portanto, quase que naturalmente, um rival em potencial."
Ele acrescenta que a China enfrenta desafios de um país de dimensões continentais, como o Brasil, por isso ampliar a cooperação não apenas no âmbito de equipamentos, mas de treinamento militar, é fundamental para a modernização da estratégia militar brasileira.
"Também temos muitos interesses em comum, como a construção de um mundo multipolar, mais estável, pacífico e cooperativo, assim como buscamos reduzir os efeitos deletérios das interferências das grandes potências nos assuntos internos das nossas respectivas nações."
Kerr ressalta que nas últimas três décadas o Brasil teve uma experiência interessante de intercâmbio acadêmico e de formação entre escolas superiores do Brasil e da China, com militares de lá vindo para o Brasil ou daqui indo para lá, para estudar ou participar de cursos de formação.
Segundo ele, isso foi importante pois, tradicionalmente, a maioria dos militares brasileiros que chegaram a altas patentes estudando ou fazendo cursos no exterior o fizeram nos EUA ou na Europa, "o que reforçava nossa dependência da OTAN".
"Essa possibilidade de cooperação Sul-Sul na área de defesa é algo relativamente recente na história das nossas Forças Armadas e que vem sendo sistematicamente sabotado pelos países da Europa ou pelos EUA, que não querem perder esse protagonismo tradicional e, em alguns casos, hegemonia mesmo", afirma.
Ele aponta que essas sabotagens do desenvolvimento de países emergentes e da cooperação entre eles incluem métodos como inteligência, espionagem, capacidade de fazer propaganda e travar guerras econômicas e guerras híbridas.
"Nós tentamos desenvolver, por exemplo, processos de cooperação e integração regional em defesa na América do Sul, como a Escola Sul-Americana de Defesa (2014) e o Conselho Sul-Americano de Defesa da Unasul [União de Nações Sul-Americanas], e o resultado foi a sabotagem sistemática de toda a Unasul por parte dos EUA, da Inglaterra e de outras potências tradicionais da OTAN", afirma o especialista.
Nesse contexto, ele enfatiza que retomar e fortalecer processos de cooperação Sul-Sul é fundamental para assegurar a soberania, dando ao Brasil maior autonomia em um mundo progressivamente mais multipolar.
Rubens de Siqueira Duarte, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares da ECEME e coordenador do Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo), enfatiza que as Forças Armadas são instituições que devem estar sempre atentas às mudanças que ocorrem no mundo. Por isso ele enxerga a mudança como um "movimento natural".
"Com o crescimento do dinamismo capitalista na Ásia como um todo, incluindo a China, é natural que modificações sejam feitas, para que passem a refletir essa nova dinâmica", afirma.
Ele acrescenta que o perfil da adidância também tem íntima relação com a quantidade de militares que estão no país asiático e com o volume de oficiais que visitam o Brasil.
"É normal que oficiais brasileiros façam cursos de nível estratégico ou político em outras nações, bem como existam vários militares estudando em nossas escolas militares de nível superior. Em um mundo em constante e acelerada modificação, é importante que nossos oficiais estejam a par das inovações que ocorrem nesses países. A internacionalização do saber é uma realidade e o Brasil não pode ficar de fora."

27 de dezembro 2024, 19:08
Duarte aponta que a China "está investindo muito no orçamento militar e seus equipamentos estão se mostrando muito eficientes", e diz que "é evidente que o Brasil precisa acompanhar essas mudanças, pois pode ser do interesse do país".
"Além disso, o Brasil tem o interesse de vender seus produtos, como o Astros, o KC-390 e o Guarani. Nada disso, entretanto, significa uma mudança imediata nas parcerias militares que temos estabelecidas."
Sobre uma eventual reação dos EUA à medida, Duarte frisa que isso não pode impedir o movimento em curso e destaca que o atual governo estadunidense "está reclamando até do Pix".
"As instituições de Estado do Brasil não podem se pautar por administrações. Trata-se de uma visão de longo prazo."
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