Envio de navios norte-americanos para a Venezuela é 'operação psicológica', avalia analista
16:44 23.08.2025 (atualizado: 18:35 23.08.2025)

© AP Photo / Fernando Vergara
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A presença militar norte-americana por meio de navios em águas caribenhas, muito perto da Venezuela, é, sobretudo, uma estratégia de Washington para intimidar Caracas, afirmou neste sábado (23) Víctor Hugo Majano, fundador do site de notícias La Tabla, em entrevista à Sputnik.
"Este episódio nada mais é do que uma tentativa de ganhar as manchetes em meio a uma ofensiva de comunicação contra Caracas, marcada por uma disputa energética e pela reconfiguração do narcotráfico no Caribe. É uma operação psicológica que visa criar um clima: criminalizar o adversário, justificar medidas e, se possível, permitir ações encobertas", afirmou.
Na última segunda-feira (18), a agência de notícias Reuters noticiou que os contratorpedeiros USS Gravely (DDG-107), USS Jason Dunham (DDG-109) e USS Sampson (DDG-102) se aproximaram de águas venezuelanas em um período de 36 horas para combater "cartéis de drogas".
"Qual o sentido de transferir ativos que tiveram sucesso contra o tráfico de drogas na região do pacífico mexicano para supostamente levá-los ao Caribe? Não faz sentido", questionou Majano.
"O único objetivo é 'liberar' a área do Pacífico de uma vigilância rigorosa e permitir a entrada das drogas dessa máfia albanesa que busca conquistar a costa oeste dos Estados Unidos", acrescentou Majano.
Para o jornalista, a divulgação dessa versão responde a interesses mais amplos do que a conjuntura venezuelana.
"A conspiração é impulsionada por aqueles que querem controlar as estruturas de governo. Assim como existem burguesias legais que pressionam por seus interesses, há burguesias ilegais ligadas ao narcotráfico que buscam colocar o Estado a seu serviço, financiando candidatos ou com ações violentas", afirmou.
Majano lembrou que a recente revelação do presidente colombiano, Gustavo Petro, sobre a existência de uma "junta do narcotráfico" regional ajuda a compreender melhor o pano de fundo.
"Esse mapa tem um nó caribenho. O Catatumbo produz para um mercado que se conecta com o Haiti, as Bahamas e a Flórida. Em troca, retornam armas e munições. O Haiti tem sido um laboratório: milícias, drones, mercenários. Essa mesma rota também abastece Trinidad e a Jamaica. E na Venezuela foram descobertos volumes importantes de armas, muitas delas entrando por empresas de encomendas ligadas ao estado de Zulia", detalhou.
O analista acrescentou que não se trata de fenômenos isolados.
"No Equador, a máfia albanesa atua há mais de 12 anos. Há uma distribuição geopolítica das drogas: cocaína para a região andina-caribenha, maconha mais associada aos Estados Unidos e ópio vindo da Ásia e do Oriente Médio. O cartel dos sóis foi uma construção narrativa para ocultar a verdadeira estrutura do negócio".
Sobre o alerta do ministro do Poder Popular para Relações Interiores, Justiça e Paz da Venezuela, Diosdado Cabello, de que a ultradireita teria "até setembro" para concretizar seus planos de desestabilização, Majano fez a seguinte reflexão:
"[Washington] trabalha por resultados de curto prazo [...]. Marco Rubio concentra esse papel [em temas de segurança], mas não vejo êxitos concretos: muito barulho midiático, recompensas e perseguições, sem impacto real na estabilidade do governo venezuelano. E há poderes corporativos, como oficiais da Marinha, que não arriscarão seus interesses em aventuras sem sentido", acrescentou.
Maduro convoca alistamento militar
Paralelamente a essa campanha midiática, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou um processo de alistamento militar em todo o país, convocado para os dias 23 e 24 de agosto, com o objetivo de reforçar a Milícia Bolivariana e garantir a união cívico-militar.
"Convoco todo o povo da Venezuela a se somar ao processo de alistamento da Milícia Nacional Bolivariana, para fortalecer a defesa integral da pátria e a paz nacional", declarou em uma transmissão televisiva.
Maduro também realizou uma reunião de trabalho com os corpos de segurança e defesa do Estado para reforçar os mecanismos de articulação operacional e garantir a proteção da soberania no âmbito do Plano Nacional de Soberania e Paz.
Durante a semana em um evento dedicado à defesa da soberania e da paz da Venezuela, da América Latina e do Caribe, Maduro enfatizou afirmou que "ninguém tocará na Venezuela", e que "quem agride um, agride a todos [...] é tempo de coragem, de unir esforços e deixar de lado as pequenas diferenças, para falar com uma só voz, a voz da pátria".


