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Potências emergentes, interesses convergentes: parceria Brasil-Índia ganha impulso e protagonismo

© Foto / Virendra Singh / Secom / PRDa esquerda para a direita: Marcelo Damasceno (comandante da Aeronáutica); José Mucio (ministro da Defesa); Kenneth Haczynski (embaixador do Brasil na Índia), Geraldo Alckmin (vice-presidente); Bosco da Costa Junior (presidente da Embraer Defesa & Segurança); e Shri Naidu (ministro da Aviação Civil da Índia)
Da esquerda para a direita: Marcelo Damasceno (comandante da Aeronáutica); José Mucio (ministro da Defesa); Kenneth Haczynski (embaixador do Brasil na Índia), Geraldo Alckmin (vice-presidente); Bosco da Costa Junior (presidente da Embraer Defesa & Segurança); e Shri Naidu (ministro da Aviação Civil da Índia) - Sputnik Brasil, 1920, 17.10.2025
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A missão oficial à Índia liderada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, nesta semana, rendeu dezenas de acordos bilaterais e promessas de parcerias estratégicas.
No atual contexto, marcado por tarifaços e medidas protecionistas internacionais, a Índia, país mais populoso do mundo, com seus mais de 1,4 bilhão de habitantes e classe média em expansão, representa um parceiro comercial crucial para o Brasil, segundo analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Ambos os países foram afetados pelas tarifas norte-americanas, com elevação de até 50% sobre alguns produtos exportados. Além das tarifas "recíprocas", a Índia recebeu "encargo adicional" devido às importações de petróleo russo.
A missão dá seguimento ao encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do primeiro-ministro Narendra Modi durante a visita de Estado do líder indiano ao Brasil, em julho passado.
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A comitiva incluiu os ministros da Saúde, Alexandre Padilha, e da Defesa, José Mucio, além de líderes empresariais de diversas áreas. O último acordo firmado foi o de cooperação em pesquisa de vacinas entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e uma empresa farmacêutica indiana, para fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e diversificar fornecedores, nesta manhã.
Além de autoridades como o vice-presidente da Índia, Chandrapuram Ponnusami Radhakrishnan, e ministros, Alckmin reuniu-se com empresários no Fórum Empresarial Brasil-Índia, coordenado pelo Itamaraty com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Durante o encontro, foi anunciado o lançamento do Conselho Empresarial Brasil-Índia, formado por empresários para apresentar recomendações conjuntas aos governos em temas como inovação, transição energética, infraestrutura e facilitação de investimentos. A primeira reunião do grupo está prevista para fevereiro de 2026, por ocasião da visita de Lula à Índia.
Outra novidade anunciada na missão foi a emissão de vistos eletrônicos para empresários indianos na embaixada em Nova Deli e no consulado em Mumbai.
Também foram anunciados, entre os acordos de maior relevo, o de expansão do comércio preferencial entre a Índia e o Mercosul, que hoje abarca 450 linhas tarifárias, para facilitar investimentos e evitar dupla tributação.
O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin (à esquerda), e o ministro da Defesa do Brasil, José Mucio (no centro), se encontram com o ministro da Defesa indiano, Rajnath Singh, em Nova Deli, na Índia, em missão empresarial ao país, em 15 de outubro de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 15.10.2025
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Para a pesquisadora associada do Public Banking Project Rafaela Mello Rodrigues de Sá, o posicionamento do Brasil e da Índia no tabuleiro geopolítico representa uma busca por autonomia.
"Ambos os países buscam manter relações estreitas não só com o Sul Global, participando ativamente e liderando esferas de diálogo e cooperação, mas também buscam não desgastar as tradicionais relações diplomáticas com países do Ocidente, especialmente a Índia com os Estados Unidos, e o Brasil com países europeus", avaliou.
Doutoranda em ciência política da Universidade McMaster, no Canadá, ela mencionou setores estratégicos, como o de minerais críticos, a serem explorados conjuntamente.

"No caso específico das terras raras, em que tanto o Brasil quanto a Índia possuem reservas expressivas, seria importante promover uma reflexão e um estudo aprofundado sobre possibilidades de cooperação estratégica, que poderia buscar não apenas expandir a capacidade de processamento industrial, além da simples extração, mas também garantir que essas iniciativas sejam conduzidas de forma sustentável, levando em conta os potenciais impactos socioambientais envolvidos."

O anúncio de reduções tarifárias é um dos principais pleitos de empresários de ambos os países, e a ampliação da linha tarifária Índia-Mercosul promete atender a parte dessa demanda, de acordo com o empresário indiano do ramo alimentício Vijay Bavaskar.
Com 12 anos de atuação no Brasil, sua empresa, Samosa & Company, importa e exporta ingredientes e equipamentos, e conduz projetos de transferência de tecnologia em processamento de alimentos, com destaque para a cajuína, e de desenvolvimento de novas espécies de caju no Brasil.

"A previsibilidade tributária e a redução de barreiras burocráticas criam um ambiente mais seguro para investimentos em tecnologia de alimentos, equipamentos e inovação em bebidas e condimentos. No nosso caso, tais medidas abrem caminho para cooperações tecnológicas e joint ventures com empresas indianas, estimulando a transferência de conhecimento e o desenvolvimento de novos produtos", acrescentou. "Para a Samosa & Company, isso se traduz em maior competitividade na importação de matérias-primas indianas e, ao mesmo tempo, possibilidade de exportar produtos brasileiros de alto valor agregado, como a cajuína, para o mercado indiano", explicou.

Bavaskar chamou a missão brasileira de "marco importante" por reforçar a relevância da cooperação entre os dois países e abrir oportunidades de parceria de longo prazo.
Em que pese aos avanços, o empresário salientou que ainda há desafios importantes a ser vencidos, como o da adequação regulatória entre as normas da Agência Nacional de vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e da FSSAI (Índia), além de complexidades logísticas e alfandegárias.

"Do ponto de vista cultural, há grande afinidade entre os dois povos, mas é essencial compreender as diferenças regionais da Índia para adaptar produtos e modelos de negócio de forma eficaz", destacou ele. "O mercado indiano é imenso e cheio de oportunidades, mas exige visão de longo prazo, respeito cultural e parcerias sólidas. O mesmo vale para o Brasil, um país que valoriza inovação e autenticidade"

O empresário opinou que a integração comercial tende a ficar ainda mais intensa e estratégica, com maior fluxo de investimentos e novas cadeias de valor compartilhadas, especialmente nos setores de alimentos, tecnologia, farmacêutica e energias renováveis.
Nesse processo, segundo ele, é essencial criar centros de inovação e incubadoras bilaterais, voltados para pequenas e médias empresas, que promovam pesquisa aplicada, intercâmbio tecnológico e inovação gastronômica.

"Quando Brasil e Índia unem tradição, sabor e tecnologia, o resultado é um modelo de negócios sustentável e inspirador, capaz de gerar impacto econômico e cultural positivo em ambos os países", concluiu ele.

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Pesquisador e analista intercultural, Charles Zimmermann, chamou a atenção para a importância de uma visão mais profunda, respeitosa e realista sobre a complexidade e a diversidade do país estrangeiro por parte do empresariado para avançar nas relações comerciais.

"O passo essencial para fortalecer essa parceria na ótica empresarial, sem dúvida, uma das coisas é que nós brasileiros ainda, a gente vê a Índia como algo meio que exótico [...]. É preciso haver essa quebra do estereótipo, dessa coisa exótica da Índia. Eles também têm esse distanciamento perante a nós", comentou.

A missão brasileira contou ainda com a inauguração do novo escritório regional da Embraer na capital indiana, Nova Deli, e a assinatura de contrato de fornecimento de mais 6 milhões de barris de petróleo para a Índia pela Petrobras, que já vende US$ 2.5 bilhões (R$ 13,5 bilhões) em petróleo bruto anualmente para o país asiático.
Zimmermann comentou que a iniciativa tem potencial para alavancar o comércio brasileiro regionalmente, com montagem e uso de mão de obra indiana.

"O modelo de mercado da Ásia, para o modelo de equipamento que a Embraer produz, que é um avião de pequeno porte para longas distâncias, encaixa perfeitamente em uma geografia como o da Índia. E principalmente a geografia de países ao redor, onde a Índia tem uma presença muito grande em questão de mercado."

Fragata INS Tabar da Marinha da Índia ancorada no rio Neva durante celebração do  Dia da Marinha em São Petersburgo. Rússia, 27 de julho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 02.09.2024
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Rafaela Mello Rodrigues de Sá, do Public Banking Project, ressaltou o papel da Embraer, sobretudo no âmbito do BRICS, com atuação ativa no Conselho Empresarial, que reúne presidentes e diretores de grandes empresas do grupo.

"Por alguns anos a empresa Embraer vem liderando e presidindo a seção brasileira deste conselho. Atualmente, quem assume a presidência brasileira é Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer. Nesse sentido, é importante compreender a aproximação da Embraer na Índia também no escopo do diálogo e cooperação do setor empresarial no âmbito do BRICS."

A parceria Índia-Brasil também ganha força na articulação Sul-Sul, pontuou ela, em que os países lideram discussões para o fortalecimento da união dos países fora do eixo ocidental, desde o IBAS (fórum de diálogo e cooperação trilateral entre Índia, Brasil e África do Sul), passando pelo G20 e pela expansão do BRICS.
"Estas esferas multilaterais representam espaços importantes para avançar debates estratégicos para as economias emergentes e países em desenvolvimento, como transferência de tecnologia, políticas industriais, posicionamento frente à minerais críticos, moedas locais, financiamento climático, entre outros", concluiu a pesquisadora.
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