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Rússia quer equilíbrio, não guerra: especialistas analisam recado de Putin sobre novas armas

© Sputnik / Grigory Sysoev / Acessar o banco de imagensPresidente russo Vladimir Putin
Presidente russo Vladimir Putin - Sputnik Brasil, 1920, 04.11.2025
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Em cerimônia que homenageou os criadores dos sistemas Burevestnik e Poseidon, o presidente russo Vladimir Putin destacou a nova tecnologia militar inédita desenvolvida pelo país e voltou a ressaltar que Moscou "não representa ameaça para ninguém". Especialistas analisam à Sputnik Brasil o discurso.
Inovação, autonomia e dissuasão. Assim o presidente Vladimir Putin avaliou a nova era do programa estratégico militar da Rússia em reação aos desafios trazidos pela difícil geopolítica global. Conforme o líder russo, o sistema Burevestnik, por exemplo, já "supera o alcance de todos os sistemas de mísseis conhecidos no mundo e possui alta precisão de alvo".
"Tais avanços tecnológicos não surgem do nada. São fruto do trabalho e do talento de muitas gerações de nossos grandes compatriotas. O sucesso na criação de sistemas complexos como o Burevestnik e o Poseidon prova o enorme potencial da nossa ciência moderna, universidades e indústria", destacou Putin ao longo do discurso, ao lembrar que tais inovações ainda abrem caminho para o desenvolvimento de diversos setores civis.
Mais uma vez, Putin ressaltou que a Rússia "não representa ameaça para ninguém" e que, assim como as demais potências nucleares, "está desenvolvendo seu potencial nuclear e estratégico". Aliado a isso, o presidente enfatizou que os avanços anunciados nesta terça-feira (4) fazem parte de um programa já anunciado há anos, com foco em reforçar a postura defensiva do país e voltada ao equilíbrio estratégico mundial.
O analista internacional e professor de geopolítica do Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais das Faculdades de Campinas (Facamp), James Onnig, lembra à Sputnik Brasil que o cerco promovido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nos últimos anos sobre o território russo levou a uma "assimetria de poder, tanto ofensivo quanto defensivo".
"Mesmo com os tratados sobre mísseis de longo alcance ainda em discussão, é possível afirmar que os avanços tecnológicos da Rússia buscam restabelecer um equilíbrio de forças, tanto a oeste quanto a leste dos montes Urais. A parte ocidental da Rússia — a mais populosa e que concentra a maior parte dos recursos econômicos, industriais e tecnológicos — precisa de uma defesa sólida", pontua, ao acrescentar ainda que o mundo vive uma radicalização marcada muitas vezes por uma "russofobia injustificada" que aprofunda as tensões.
Diante disso, o especialista vê o avanço tecnológico do país como essencial para "arrefecer os ânimos, sinalizando que o conflito direto não é uma opção".

Defesa russa de alta complexidade

O especialista militar e oficial da reserva da Marinha Robinson Farinazzo explica à Sputnik Brasil que o a ideia de se criar um míssil com propulsão nuclear é antigo, que remonta aos anos 50 e 60, mas só recentemente esse conceito foi efetuado no sistema Burevestnik.
"Hoje, com novos sistemas tecnológicos, isso se tornou factível. O Burevestnik é um sistema novo, enquanto a maior parte das defesas ocidentais foi projetada nos anos 1980. O sistema Patriot, por exemplo, entrou em serviço na Guerra do Golfo, em 1991. Essa busca pela vanguarda tecnológica faz parte da tradição russa", analisa.
Outra característica do sistema russo, conforme Farinazzo, é ser praticamente autônomo, com a possibilidade de permanecer em voos de baixa altitude, o que dificulta sua detecção. "Isso representa uma ameaça considerável. Mesmo que 90 dos 100 mísseis sejam abatidos, os 10 restantes continuam operando e imprevisíveis. Essa capacidade de operação prolongada é seu grande diferencial", complementa.
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Em relação ao sistema Poseidon, um equipamento inovador que mistura os conceitos de veículo autônomo não tripulado e torpedo, a lógica é a mesma: depender cada vez menos de tripulação.
Porém, ele serve como "arma de retaliação e tem capacidade de permanecer em stand-by como drone antes de ativar o modo de alta velocidade". Diante disso, o especialista considera que a filosofia de defesa ocidental "não levou em conta o surgimento de artefatos com esse nível de autonomia".

'Indústria militar voltada à estratégia, não ao lucro'

Ao analisar como a Rússia conseguiu desenvolver sistemas militares tão avançados, Robinson Farinazzo lembra que o país conta com mais de 30 institutos dedicados ao desenvolvimento de armas, com estudos e pesquisas que são realizadas de forma contínua. "Se uma geração de armas entrou em serviço, é porque outra já está sendo preparada", destaca.
Aliado a isso, o especialista militar argumenta que o complexo militar-industrial da Rússia cumpre com uma finalidade estratégica, enquanto nos Estados Unidos, principal potência ocidental, é voltado ao lucro. "Por isso, os sistemas americanos acabam mais caros, pois precisam sustentar executivos, dividendos e lobbies. Já na Rússia, o foco é a eficácia do armamento".
Farinazzo também comenta sobre o anúncio de que os os mísseis balísticos intercontinentais RS-28 Sarmat vão entrar em serviço no próximo ano. Conforme o analista, o lançamento não ocorre para ser utilizado de forma imediata, mas garantir o equilíbrio estratégico global.
"A dissuasão russa funcionou: quando o conflito da Ucrânia começou, havia pressões no Ocidente para criar uma zona de exclusão aérea, o que seria impossível sobre território russo. Essa capacidade nuclear garantiu que a OTAN apoiasse a Ucrânia, mas sem enviar tropas diretamente. Se a Rússia não tivesse esse poder, provavelmente a OTAN já teria intervindo com forças terrestres", compara.

'Uma arma contra a qual há poucas defesas'

Por fim, o especialista ressalta o início da produção em série de mísseis do sistema Oreshnik, considerado "extremamente veloz e capaz de lançar iscas para enganar sistemas defensivos". Para Farinazzo, essa tecnologia vai dar início a uma nova geração de armas, para o qual "o Ocidente ainda não está preparado".
"Seu impacto cinético é enorme e, por enquanto, é uma arma contra a qual há poucas defesas. Devem ocorrer dois desdobramentos: o custo de produção, que hoje é alto, deve cair; e é provável que a tecnologia acabe sendo compartilhada — ou replicada — por países como China, Coreia do Norte e Irã", argumenta.
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