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Excesso de partidos políticos no Brasil eleva o custo transacional da governabilidade, diz analista

© Foto / Antonio Cruz / Agência BrasilSantinhos no chão de local de votação em Recife (PE). Brasil, 5 de outubro de 2014
Santinhos no chão de local de votação em Recife (PE). Brasil, 5 de outubro de 2014 - Sputnik Brasil, 1920, 12.11.2025
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À Sputnik Brasil, especialistas destacam que o inchaço de partidos é estimulado pelo personalismo político, leva à redundância de ideias e diminui a confiança na democracia representativa.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou recentemente a criação do Missão, partido ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL). Com a aprovação, a legenda se tornou o 30º partido político brasileiro.
As dezenas de agremiações formam uma verdadeira sopa de letrinhas, as quais, com certa frequência, mudam de nome e identidade visual. Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas explicam como o excesso de legendas impacta a politica e a democracia brasileiras.
Ricardo Ismael, cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), explica que o pluralismo político brasileiro como é visto hoje remete ao processo de redemocratização, quando o país deixou de ter dois partidos políticos — o Arena, de sustentação ao regime militar; e o MDB, de oposição. Em 1980, com a reforma partidária, o Brasil retomou o pluripartidarismo.

"Mas ainda não com tantos partidos, como começa a acontecer principalmente a partir de meados dos anos 1990 em diante. Ou seja, pouco a pouco a gente terminou tendo uma fragmentação partidária muito grande, um número de partidos bastante amplo, e que vai continuar agora, no século XXI."

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Ismael afirma que partidos como o recém-aprovado Missão têm representação política diferenciada, pois existem legendas grandes, com bancadas expressivas, além de partidos médios e pequenos, que têm dificuldade de sobrevivência e "dependem de federações e manobras partidárias para se manter no jogo político".
"Então, embora tenhamos 30 legendas partidárias, aquelas que são realmente competitivas, seja para potencializar bancadas no Congresso Nacional, seja para exercer governos estaduais ou mesmo disputar a Presidência da República, são bem menos."
O analista destaca que, teoricamente, um grande número de partidos daria ao eleitorado um maior número de escolhas, mas que na realidade "não existem tantas ideologias ou projetos políticos diferentes", o que faz com que o eleitor acabe olhando mais de perto alguns partidos do que outros.

"Ele [eleitor] termina observando principalmente os partidos que ganham maior visibilidade dentro do jogo político nacional, seja pela presença no Congresso, seja por estar ocupando algum governo estadual importante ou a Presidência da República."

Ismael também chama a atenção para o personalismo que predomina na política brasileira, que ocorre quando o eleitor deixa de lado questões partidárias e vota em determinada pessoa por se identificar com ela.
"Alguém que tem certa evidência por conta de alguma questão ou até pela presença na mídia, nas redes sociais, e ele [eleitor] termina votando nela. Ou seja, às vezes a fragmentação é muito estimulada por esse personalismo."
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Ele acrescenta que o personalismo na política também contribui para a criação de novos partidos, pois, quando alguém se destaca dentro de uma legenda, acaba saindo dela para fundar uma própria.
"Ou até entra em um partido pequeno para alavancar esse partido a partir desse prestígio pessoal. Então esse voto é dado em pessoas, não na legenda ou em um projeto político. Isso também é um fator que deixa mais complicado o sistema partidário brasileiro, termina favorecendo essa fragmentação que a gente observa hoje", observa o analista.
Ismael aponta ainda que há uma crise de representação, isto é, embora o eleitor tenha cada vez mais opções partidárias, ele não se vê representado depois das eleições, notando que muitas de suas preocupações não sensibilizam os deputados federais ou estaduais. Ademais, ele aponta que muitas vezes há um vínculo "frouxo" do próprio eleitor com os candidatos escolhidos.

"Mal termina a eleição, passado algum tempo, ele [eleitor] nem se lembra mais em quem votou, não tem grande vínculo com o deputado, seja da sua região, no caso de uma eleição para a Assembleia Legislativa; ou mesmo para a Câmara dos Deputados."

O excesso de partidos políticos leva à redundância de ideias, aponta João Feres, professor titular de ciência política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e coordenador do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP) e do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (GEMAA).
"Se tomarmos o espectro ideológico, da extrema-esquerda à extrema-direita, podemos facilmente constatar que não há tantas posições possíveis dentro dele. Então, necessariamente, um sistema com 30 partidos, como o do Brasil, sempre terá muita redundância, ou seja, partidos que competem na mesma região do espectro ideológico."
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Ele cita como exemplo o centrão, ala que tem cerca de dez partidos políticos, entre a centro-direita e a direita radical, e afirma não ver benefícios em um número tão elevado de legendas.
"A multiplicação dos partidos torna o custo transacional da governabilidade mais alto, ou seja, para a proposição e aprovação de leis, tem que negociar com um grande número de lideranças, o que multiplica o número de pontos de veto."
Já em relação ao eleitor, Feres enfatiza que a multiplicação de legendas atrapalha a cognição política, ou seja, os partidos ficam parecendo muito semelhantes entre si.
"Suas legendas, como se diz por aí, não significam coisa alguma. Isso contribui para o aumento de discursos antipolíticos e diminui a confiança na democracia representativa", explica o analista.
Segundo Feres, o polpudo orçamento público destinado ao financiamento de partidos e de eleições incentiva a criação de pequenas legendas comandadas por caciques que têm como norte a luta por recursos por meio da atividade política, mas não a representação por si só.
"Isso faz com que partidos nasçam e morram com frequência, produto das dinâmicas de negociação cambiantes da elite política, uma vez que a maioria deles tem fraco enraizamento popular."
Ele lembra ainda que, como apontam estudos, o Partido dos Trabalhadores (PT) é o partido que organiza o sistema partidário brasileiro, "tanto que as forças partidárias mais notáveis e estáveis no tempo são o petismo e o antipetismo, ou seja, a preferência pelo PT e sua rejeição".
"A identificação de eleitores com qualquer outro partido é pífia se comparada à com o PT, que historicamente flutua entre 15% a 30% da população, há décadas. Mesmo partidos de idades comparáveis, como MDB, PTB, PSDB ou PDT, têm baixo nível de identificação por parte dos eleitores", explica o analista.
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