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Análise: proposta para recriar Grã-Colômbia é reação a um mundo cada vez mais personalista

© AP Photo / Ivan ValenciaGustavo Petro, presidente colombiano, no 100º dia de sua administração no gabinete da Casa de Nariño. Bogotá, 15 de novembro de 2022
Gustavo Petro, presidente colombiano, no 100º dia de sua administração no gabinete da Casa de Nariño. Bogotá, 15 de novembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 02.12.2025
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Ao podcast Mundioka, analistas destacam que o desejo de integração regional que move a proposta do líder colombiano, Gustavo Petro, visa blindar sul-americanos de intervenções dos EUA e do enfraquecimento do direito internacional.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, anunciou em diversas ocasiões seu sonho de revitalizar a Grã-Colômbia — país que existiu no início do século XIX e abrangia os atuais territórios de Colômbia, Venezuela, Equador e Panamá.
O último comentário sobre o tema foi em resposta aos ataques norte-americanos a embarcações no Caribe e no Pacífico que já mataram 83 pessoas, acusadas de narcotráfico pelo presidente estadunidense, Donald Trump — embora não tenham sido apresentadas provas.
Petro afirmou nas redes sociais que a união regional pode ser a única maneira de contrariar novas agressões dos EUA, que intensificaram a pressão sobre Caracas e Bogotá.

"O caminho da Venezuela é a liberdade política e a soberania plena. Ao povo venezuelano e a todas as suas forças, propusemos um sistema de maior integração política, social e econômica, em uma confederação da Grã-Colômbia de nossos tempos", disse o presidente colombiano.

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Andrés Londoño, doutor em ciência política e professor de relações internacionais da Universidad de La Salle (Colômbia), explica que a Grã-Colômbia foi um projeto de Simon Bolívar que tinha como objetivo a integração regional para que os países sul-americanos pudessem fazer contrapeso a outras potências do mundo.
"Era uma federação de nações, uma união política e econômica que acabou pelos interesses particulares das lideranças de cada um dos países. E também porque a Grã-Colômbia estava muito centralizada, tinha muitas lideranças, líderes políticos que eram contra que tudo se concentrasse em Bogotá."
Manifestante segura placa com os dizeres em espanhol Eles atacam por petróleo, durante marcha convocada pelo governo em apoio à estatal petrolífera PDVSA, em Caracas. Venezuela, 31 de janeiro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 10.11.2025
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Ele destaca que, caso concretizada, a revitalização da Grã-Colômbia teria um impacto muito importante na região.
"Porque os países conseguiriam ter um maior peso econômico, e também por estarem entre as principais economias da região. […] Acho que qualquer aliança que seja feita por parte dos países encaminhados a fortalecer a integração é um contrapeso que seria feito às grandes potências."
Londoño afirma que o distanciamento da Colômbia dos EUA é um exemplo de que a relação entre Washington e os países sul-americanos passa por uma "etapa de transição". Ele observa que a Colômbia, país que tem um tratado de livre comércio com os EUA e sempre teve a política externa condicionada pelos interesses norte-americanos, hoje se aproxima da China e de países do Oriente Médio.
Em paralelo, ele aponta que o Panamá, que também sempre teve uma relação próxima com os EUA, tem questionado os ataques a embarcações no Caribe e dito que não vai apoiar nenhum ato hostil dos EUA contra a Venezuela.

"Essas intervenções militares que tem feito o governo de Trump abrem novamente esse medo de intervenção dos EUA na América Latina, mas também abriram um debate entre os presidentes sobre o que fazer e quais seriam os mecanismos que tem a região para reagir perante essa maior atividade militar."

No entanto, ele afirma que o maior desafio para uma integração regional como deseja Petro seria a inclusão da Venezuela. Ele frisa que o país seria um dos mais beneficiados por qualquer projeto de integração regional, mas aponta a possibilidade de resistências.
"A gente tem que lembrar também, por exemplo, quando a Venezuela foi expulsa do Mercosul e não conseguiu entrar de forma efetiva nesse organismo."
Vendedor com bandeiras Fora Trump durante protesto que condena a intervenção dos EUA na América Latina, na Cidade do México. México, 16 de junho de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 25.09.2025
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Ele acrescenta que a principal líder oposicionista da Venezuela, María Corina Machado, "lidera uma oposição que defende mais Trump que a integração regional".
Andrew Traumann, professor de relações internacionais da Unicuritiba e escritor, afirma ao podcast Mundioka que as propostas de integração, como a recriação da Grã-Colômbia, são "uma forma de tentar fortalecer a região em um momento de tensão muito grande".

"A gente tem assistido a um enfraquecimento muito grande do direito internacional, das organizações internacionais de uma forma geral. Cada vez a política internacional tem se tornado mais personalista. A gente está vendo muito tudo baseado nas decisões de uma ou outra pessoa."

O analista sublinha que o governo colombiano sem dúvida está preocupado com as ações dos EUA no Caribe e no Pacífico, pois Trump já incluiu Petro na situação, chamando-o de "narcotraficante", e o líder norte-americano não se preocupou em apresentar provas de que os barcos atacados de fato eram usados para o tráfico internacional de drogas.
"Tem uma violação flagrante do direito internacional, […] você nem sabe quem são aquelas pessoas. E é uma situação estressante, extremamente complexa."
Traumann aponta ainda que há os problemas internos enfrentados por Petro, principalmente pelo fato de ele ser o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia.
"Ele faz um bom governo, só que ele encara uma série de obstáculos. Isso desde o primeiro dia. Ele vem com essa pecha de ser uma pessoa de esquerda […]; isso é pesado na Colômbia. Mais pesado do que no Brasil, porque, devido às FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia], o colombiano médio identifica a esquerda com guerrilha. Então ser de esquerda é ser pró-guerrilha, já vira traficante também etc…"
Ele avalia que a Venezuela, embora seja um vizinho que não teve uma relação muito boa com governos colombianos anteriores, hoje tem trânsito na Colômbia de Petro.

"O Iván Duque [ex-presidente colombiano] chegou a romper relações com a Venezuela. Mas a gente sabe que essa questão da Grã-Colômbia é mais uma questão de integração regional, […] de afinar o nosso discurso em relação à autonomia da região, em relação à não intervenção norte-americana, em relação a temas que são sensíveis para nós, como direitos humanos, economia verde etc."

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