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Brasil na vitrine: o que levou o investimento estrangeiro no Brasil saltar 67% em 3 anos?

© Foto / Pixabay/PublicDomainPicturesCédulas de euro, libra e dólar
Cédulas de euro, libra e dólar  - Sputnik Brasil, 1920, 05.12.2025
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À Sputnik Brasil, economistas analisam os fatores que tornaram o Brasil atraente para o investidor estrangeiro, os impactos positivos que isso traz para a economia e o que país pode fazer para manter essa tendência em alta.
O investimento estrangeiro no Brasil saltou 67% entre 2022 e 2025, comparado ao período entre 2015 e 2019. O percentual é muito acima da média global de 24% registrada no período.
Em novembro, dados do Banco Central (BC) apontaram que os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) no Brasil chegaram a US$ 74,3 bilhões (cerca de R$ 394,5 bilhões) nos primeiros 10 meses de 2025, superando o volume registrado em 2024. Somente em outubro deste ano, o IED foi de R$ 10,9 bilhões, um aumento de 64% em relação a outubro do ano passado.
O aumento no fluxo de investimento estrangeiro no Brasil ocorreu apesar das crises políticas internas e do cenário volátil global. Para economistas ouvidos pela Sputnik Brasil, entre os fatores que fizeram do Brasil um lugar atraente para o investidor estrangeiro estão o baixo custo de investimento, as altas oportunidades de retorno, e fatores geopolíticos.
"Nós não somos um país necessariamente estável, mas temos uma economia com uma relativa estabilidade, apresentamos um potencial grande de crescimento da demanda, temos ativos estratégicos, recursos naturais e ainda estamos baratos", avalia Juliana Inhasz, professora e coordenadora do curso de graduação em economia do Insper.
Outro fator que contribui para o investimento elevado é o atual movimento global de realocação de cadeias produtivas, diz a especialista. Nos últimos anos, empresas vêm buscando por países com uma segurança a jurídica minimamente razoável, infraestrutura energética, recursos naturais abundantes e uma certa distância geopolítica de conflitos mundiais
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A opinião vai ao encontro com a de Hugo Garbe, professor e economista-chefe da G11 Finance & Restructuring. Para ele, o Brasil entrou no radar porque se tornou um ponto de convergência entre a transição energética, a reorganização das cadeias globais de suprimentos e a busca por diversificação produtiva fora da Ásia.
"Setores como energia renovável, transmissão elétrica, petróleo e gás, agronegócio de alta tecnologia, logística, mineração, tecnologia aplicada e indústria automotiva em transição receberam a maior parte do capital", destaca. "Esses segmentos alinham escala, retorno esperado e disponibilidade de ativos que exigem investimentos pesados, elementos que atraem multinacionais e fundos internacionais."
Garbe enfatiza que esse fluxo de investimento estrangeiro traz efeitos positivos importantes, ampliando a capacidade produtiva, difundindo a tecnologia e melhorando a produtividade ao integrar empresas brasileiras às cadeias internacionais. O benefício é também mencionado por Inhasz em sua fala à reportagem.
"Tem um ponto central dentro dessa história que é a transferência de tecnologia que acontece com esse investimento externo. Quando esse investidor vem para cá, mais do que dinheiro, ele traz tecnologia, traz formas diferentes de produção, mais eficientes e vantajosos."
Dentre os pontos positivos desse recorde de investimentos, os entrevistados afirmam que é possível destacar o aumento de empregos, em especial os qualificados, e a expansão da infraestrutura e da capacidade produtiva nacional, algo que "dificilmente seria viável apenas com poupança doméstica", comenta o economista.
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Em específico, ambos citam o investimento na mineração de terras raras, impulsionado pelas tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. "Ainda não dá para a gente dizer que a exploração dessas terras raras é o principal motor desse investimento externo direto. Mas, certamente, passou a ser um componente importante", opina Inhasz.
"Embora o Brasil ainda não seja protagonista nesse mercado, o potencial de exploração futura e o contexto geopolítico de redução de dependência da China levaram investidores a antecipar movimentos, financiando mapeamento mineral, pesquisa, infraestrutura e projetos de processamento", afirma Garbe.
No entanto, os eles alertam que a concentração desses investimentos em alguns setores da economia brasileira podem ser um ponto de fragilidade, como risco de dependência do capital externo, e a falta de diversificação da falta produtiva, uma vez que esses aportes estão focados no setor de commodities. "Seria bom que esse investimento externo entrasse na indústria de transformação", diz Inhasz.
Para além desses, Garbe cita o aumento de tensões socioambientais com os investimentos em mineração e logística, a repatriação elevada de lucros, e o potencial de desindustrialização caso o câmbio se aprecie de forma persistente.
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Garbe explica que o governo teve um papel relevante dentro dessa retomada de investimentos no Brasil, em especial, a estratégia diplomática brasileira, que reposicionou o país no sistema internacional e ajudou a "reconstruir a credibilidade" do país.

"Ao mesmo tempo, a equipe econômica contribuiu ao oferecer um mínimo de previsibilidade macrofiscal e regulatória. Em economia, diplomacia abre portas, mas só fundamentos permitem que o capital entre e permaneça."

Ficar atento aos "fundamentos" é justamente o que o Brasil precisa fazer para manter essa boa maré de investimentos. Previsibilidade e estabilidade regulatória são os termos utilizados pelos entrevistados para explicar o que o país precisa fazer se quiser continuar na vitrine do mundo.

"Trocando em miúdos, o que eu estou querendo dizer é que a gente tem que ter uma economia saudável, um sistema fiscal sólido, justo. Porque a incerteza joga o risco lá para cima, risco alto, é taxa de juros alta, taxa de juros alta é diminuição de retorno", diz Inhasz.

Isto, porém, pode não ser tão simples. Segundo Garbe, é justamente nesses aspectos que o Brasil costuma falhar. Para o futuro próximo, explica o economista, o país precisa focar em marcos claros em energia e mineração, licenciamento ambiental eficiente, simplificação tributária e infraestrutura executada dentro de prazos previsíveis.

"Além disso, investir em capital humano e pesquisa é fundamental para que o país não se limite a exportar recursos naturais, mas participe de etapas mais rentáveis das cadeias globais ligadas à transição energética e à economia digital."

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