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Sequestro, tentativa de golpe, pirataria: por que os EUA têm obsessão em controlar a Venezuela?

© AP Photo / Cristian HernandezBoneco representando Hugo Chávez segura uma placa com a imagem de Donald Trump como um pirata e a mensagem em espanhol: "Em defesa da soberania contra o pirata ianque", em protesto contra a intervenção dos EUA, em Caracas. Venezuela, 13 de dezembro de 2025
Boneco representando Hugo Chávez segura uma placa com a imagem de Donald Trump como um pirata e a mensagem em espanhol: Em defesa da soberania contra o pirata ianque, em protesto contra a intervenção dos EUA, em Caracas. Venezuela, 13 de dezembro de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 16.12.2025
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À Sputnik Brasil, especialistas traçam um histórico das fracassadas tentativas de intervenção dos EUA na Venezuela aos ataques ao país, e explicam por que o país é um ponto nevrálgico para Washington na América Latina.
Atualmente, a situação entre Venezuela e Estados Unidos chegou no maior ponto de tensão, com militares norte-americanos se aglomerando no mar do Caribe, próximo à fronteira venezuelana, e atacando embarcações que alegam, sem provas, pertencer ao narcotráfico. A mesma acusação é direcionada a Nicolás Maduro, que na visão da Casa Branca chefiaria o Cartel de los Soles.
Ao longo de sua história, a Venezuela foi, repetidamente, alvo de intervenção dos Estados Unidos. Um exemplo é o fracassado levante de abril de 2002, quando o presidente venezuelano Hugo Chávez foi mantido refém dentro do Palácio Miraflores enquanto o empresário Pedro Carmona, se autoproclamou presidente.
Mais recentemente, a Casa Branca durante o primeiro mantado do presidente Donald Trump, apoiou a autoproclamação de Juan Guaidó à presidência em 2019. No ano seguinte, mercenários norte-americanos da Silvercorp realizaram a operação Gideão com apoio colombiano, na qual tentaram sequestrar Maduro. Washington nega qualquer envolvimento com o caso.
E agora, na última semana, um navio petroleiro venezuelano foi capturado na costa do país pelos militares norte-americanos. O episódio foi classificado por Caracas como pirataria.
Agente da Administração de Repressão às Drogas (DEA, na sigla em inglês) mostra arma supostamente apreendida de um suposto traficante de drogas após sua prisão durante uma batida em um conjunto habitacional em Mayaguez. Porto Rico, 9 de julho de 2010 - Sputnik Brasil, 1920, 26.08.2025
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Para entender a situação atual, diz Roberto Santana Santos, professor da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é preciso lembrar que antes da eleição de Hugo Chávez ao Palácio Miraflores, em 1999, os Estados Unidos atuavam no país principalmente pelo controle da Petróleos de Venezuela (PDVSA), responsável pela extração do produto, que até hoje é a maior exportação venezuelana.
À época, a estatal servia aos interesses norte-americanos, principalmente da Chevron, petroleira estadunidense que ainda atua no país. Dessa forma, diz Santos, coautor do livro "América Latina na encruzilhada: lawfare, golpes e luta de classes", Washington utilizava o país "como uma fonte barata de petróleo e de derivados".
A estatal também servia como "cabide de emprego" da elite venezuelana, que por conta disso, se especializou em conduzir os negócios da PDVSA, e não em desenvolver a economia do país.

"O que leva até hoje, mesmo com diversas mudanças recentes feitas já dos governos Chávez e Maduro, a uma dependência externa muito grande do petróleo."

A ascensão de Chávez, explica o especialista, desafia a institucionalidade do Pacto de Punto Fijo, que previa a alternância no poder entre os três principais partidos do país, o social democrata Ação Democrática (AD), o democrata cristão Comitê de Organização Política Eleitoral Independente (COPEI) e o liberal União Republicana Democrática (URD), que deixou o acordo em 1962.
Tanto o AD, quanto o COPEI, eram compostos por representantes da burguesia venezuelana com ligações íntimas com os interesses norte-americanos, diz Santos, servindo como administradores locais da toda a indústria petrolífera e sua relação com os EUA.

"O Hugo Chávez aparece no início dos anos 1990 como um elemento de disrupção desse cenário. A Venezuela foi palco de uma das maiores rebeliões populares antineoliberais no final do século XX, com o famoso Caracaço de 1989, uma onda de manifestações populares contra o aumento dos preços, contra a entrega do país aos interesses norte-americanos."

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A eleição de Chávez e o baque ao Pacto de Punto Fijo foi um momento de grande incerteza para os Estados Unidos, à época governado pelo democrata Bill Clinton, afirma à Sputnik Brasil a professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Carolina Pedroso.
"Tal receio se dava porque Chávez havia liderado uma rebelião militar, em 1992, contra o presidente Carlos Andrés Pérez, no intuito de tirá-lo do poder, motivo pelo qual foi preso, tendo sido anistiado em 1994, pelo presidente Rafael Caldera."
Naquele momento, o novo presidente venezuelano já tinha uma visão crítica de Washington, porém muito mais branda e moderada, tanto que se programou para ir à capital norte-americana dias antes de tomar posse.
A relação, entretanto, amargou com a Guerra ao Terror de George W. Bush, cujas invasões às nações do Oriente Médio foram denunciadas por Chávez. Sua presença como um ponto de crítica na América Latina, junto ao governo cubano, fez com que o país integrasse o chamado Eixo do Mal de Washington.
Foi nesse contexto que ocorreu a tentativa de golpe liderada por Pedro Carmona, mencionado no início da matéria. Para Pedroso, o episódio foi um marco não só na relação bilateral, mas também no próprio processo político interno venezuelano.

"A tentativa de golpe contra Chávez expôs a indisposição do anti-chavismo de tolerar o governo de forma democrática, quando decidiram sequestrar o presidente para colocar em seu lugar um empresário que era a cara das elites tradicionais do país, que se sentiam deslocadas do poder desde 1999."

Do outro lado, os governistas consolidaram a avaliação de que não seria possível negociar com essa elite disposta a caminhos não não democráticos a retornar ao poder, "o que aprofundou a crise interna".
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Para Roberto Santos, da UERJ, o caráter popular e anti-neoliberal da ascensão de Chávez, foi o estopim das intervenções norte-americanas no país. "Esse é o real problema. Ninguém está interessado em democracia na Venezuela ou qualquer coisa. O problema é que a Venezuela é a principal reserva de petróleo no mundo e, ao mesmo tempo, vem desenvolvendo um sistema político de transição socialista que vai superando o liberalismo político", explica o analista.
Com a morte de Chávez, em 2012, seu sucessor Nicolás Maduro demorou a conseguir respaldo de que realmente era capaz de levar a revolução bolivariana adiante. A janela de oportunidade não foi perdida por Washington, que aproveitou para alimentar a oposição, representadas por figuras como Juan Guaidó e Maria Corina Machado, atual vencedora do Nobel da Paz.
Esses dissidentes, diz Santos, não tem como objetivo manter um regime democrático no país. Pelo contrário, buscam um governo autoritário que entregará de mão beijada o petróleo venezuelano aos Estados Unidos.

"O programa da oposição, liderada pela Machado hoje, é um programa fascista que, inclusive, é impossível de ser realizado pelas configurações atuais da sociedade venezuelana, sem uma guerra civil e sem uma matança generalizada."

Santos enfatiza que, além da busca por petróleo e outros recursos naturais, como terras raras e ouro, as tentativas de intervenção da Casa Branca são motivadas por outros dois motivos.
O primeiro é frear as mudanças internas que estão ocorrendo na Venezuela, como a "construção de um socialismo comunal", no qual a população participaria efetivamente do poder.
Já o segundo é conter o avanço da influência de líderes do Sul Global, sobretudo Rússia e China, que têm na Venezuela uma porta de entrada para a América Latina, região vista por Washington como seu "quintal".
"Boa parte dos avanços militares da Venezuela são de origem russa, a Venezuela tem petróleo negociado com a China nas próximas décadas. E há, no caso da China, uma aproximação ideológica, as suas militâncias, o partido comunista chinês e o partido socialista da Venezuela conversam. Então, para os EUA, isso é uma afronta muito grande."
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Carolina Pedro, por sua vez, lembra que são esses atores, Rússia, China, Irã e Turquia, que auxiliaram a Venezuela a driblar as sanções norte-americanas, impostas inicialmente pelo presidente Barack Obama em 2014, e a manter uma estrutura doméstica minimamente funcional durante os períodos de crise no preço do petróleo.
Segundo a especialista, o recente episódio de captura do navio petroleiro na costa venezuelana demonstra, mais uma vez, que a Casa Branca não se importa em violar o direito internacional para projetar seus interesses.

"Claro que eles influenciaram na América do Sul, mas nunca tinham precisado mandar tropas e agir de modo tão frontal como agora. Caso se inicie uma agressão mais direta ao território venezuelano, pode-se estar iniciando uma nova fase dessa Doutrina Monroe", conclui a analista.

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