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Envio de militares dos EUA à Venezuela é teste para intervenção em outros países, dizem analistas

© AP Photo / Andres LeightonAgente da Administração de Repressão às Drogas (DEA, na sigla em inglês) mostra arma supostamente apreendida de um suposto traficante de drogas após sua prisão durante uma batida em um conjunto habitacional em Mayaguez. Porto Rico, 9 de julho de 2010
Agente da Administração de Repressão às Drogas (DEA, na sigla em inglês) mostra arma supostamente apreendida de um suposto traficante de drogas após sua prisão durante uma batida em um conjunto habitacional em Mayaguez. Porto Rico, 9 de julho de 2010 - Sputnik Brasil, 1920, 26.08.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas afirmam que a Venezuela não tem um papel central no mercado global de drogas, e que o objetivo real dos EUA é usar o país como um entreposto para criar uma estratégia e fortalecer um plano imperialista de ocupação de outras regiões.
O envio de militares norte-americanos para combater cartéis de drogas na América Latina alarmou países da região e levantou a suspeita de que a Casa Branca estaria preparando o terreno para uma intervenção militar no continente.
Não seria a primeira vez que os EUA usam a questão das drogas para intervir em outro país. Nos anos 1970, durante a Guerra Fria, Washington financiou cartéis de drogas, como o de Guadalajara, para fortalecer grupos paramilitares no combate ao comunismo.
Nos anos 1980, por sua vez, a Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana financiou os Contras, grupos contrarrevolucionários da Nicarágua que lutavam contra o governo sandinista. Entre suas atividades, além da luta armada, estavam o tráfico de drogas para a América do Norte.
Já nos anos 2000, foi a vez de utilizar o combate ao tráfico, com o Plano Colômbia, para se intrometer na soberania alheia e conseguir bases militares importantes no país sul-americano. Agora o alvo da vez é a Venezuela, com o presidente estadunidense, Donald Trump, acusando seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro, de liderar um cartel de drogas.
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Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor titular de relações internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Williams Gonçalves explica que de fato as drogas são um flagelo social nos Estados Unidos, país que mais consome esses entorpecentes no mundo.
No entanto, Washington tem por costume fazer um combate às drogas que vê o consumo como uma "simples consequência da produção". Isso fez com que os norte-americanos combatessem as drogas de maneira autoritária. "E essa ênfase na produção e no tráfico vem sempre dentro de um determinado contexto", sugere.
É nesse contexto que a gestão Trump traz de volta uma abordagem truculenta que responsabiliza os países da América Latina. Com ela, diz Gonçalves, os EUA visam à retomada do controle político e estratégico da região, sintetizada por um assessor de Trump como "o quintal dos EUA".

"Então o combate às drogas se torna ilegítimo, em virtude da solução unilateral, autoritária, dentro de um contexto político de interesse exclusivo dos EUA, em detrimento da região."

Segundo ele, um dos objetivos com a retomada de controle, com força militar, é conter o avanço da China.
"Quando o governo dos EUA, com o Trump, coloca como objetivo reenquadrar a América Latina como seu 'quintal', como sua área hegemônica exclusiva, isso significa conter, ou pelo menos esvaziar, a influência que a China hoje exerce em toda a área", explica.
O especialista aponta não haver "nenhum indício" de que Maduro seja chefe de um cartel de drogas e que a acusação contra o venezuelano não tem fundamento.
"Acusar o presidente da Venezuela de chefe de cartel é uma dessas afirmações irresponsáveis que o Trump vem fazendo para com governos locais e também para com outros governos em outros lugares. Não podemos esquecer o que ele já fez com a Dinamarca, a proposta [de anexação] da Groenlândia; o que ele já fez até com o Canadá."
Gonçalves afirma que Trump "não aceita uma América Latina que seja independente ou uma América Latina vinculada à Rússia e à China". Segundo ele, em um sistema internacional multipolar, os EUA consideram que a América Latina, e particularmente o Brasil, deve estar submetida a Washington.

"Não é admissível para os EUA que o maior país e o mais rico da América Latina esteja fora de sua área de influência. Agora, […] como levar essa ideia à prática? Tem que criar uma situação. […] O grande pretexto é o combate às drogas, que é um problema real, mas é usado como pretexto."

Joana das Flores Duarte, professora na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisadora de mercados globais de drogas e do papel estratégico da América do Sul, afirma à reportagem que o argumento usado pelos EUA para enviar tropas em direção à Venezuela é falso, porque o país "não tem nenhum papel estratégico no mercado global de drogas".
O país não é um grande produtor, como a Colômbia, onde estão mais de 70% da produção global, tampouco é a maior porta de entrada de drogas nos Estados Unidos e na Europa, como é o caso do México para os norte-americanos. "A Venezuela tem um papel de entreposto", explica.
Nesse contexto, Flores, que integra o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), frisa que a estratégia de Trump está muito mais voltada para uma intervenção via Venezuela, para "fortalecer, de certa forma, esse plano imperialista estadunidense de ocupação de outras regiões".
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Flores destaca que a guerra às drogas dos EUA também guarda um interesse oculto de dominar um mercado altamente rentável. Ela usa como exemplo o caso da cocaína, que só passou a ser uma substância ilícita nos EUA nos anos 1970, época que a Colômbia assume o protagonismo de produção e exportação na cadeia produtiva global.
Antes desse tempo, a produção de cocaína estava sob domínio estadunidense, na região de Java, na Indonésia. E, quando a Colômbia assume essa produção, inicia-se a política velada imperialista estadunidense, que "oculta o verdadeiro interesse de ocupar a cadeia produtiva".
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