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Brasil precisa se preocupar com colonialismo moderno e não com comunismo, diz analista

© AP Photo / Ariana CubillosPressão norte-americana sobre a Venezuela no Caribe
Pressão norte-americana sobre a Venezuela no Caribe - Sputnik Brasil, 1920, 18.12.2025
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Especialistas ouvidos pelo Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, dizem que o Brasil precisa reformular seus aparatos de defesa e coordenação nacional para garantir sua territorialidade e soberania do país.
O Brasil tem 16 mil km de fronteiras terrestres e uma zona de influência direta que o Itamaraty chama de "entorno estratégico": Amazônia continental, Atlântico Sul, Cone Sul e países vizinhos. Essa área concentra desafios como tráfico transnacional, presença militar estrangeira, disputas por recursos naturais e pressões ambientais. Ao mesmo tempo, é onde o Brasil projeta seu poder — energia, infraestrutura, defesa e integração regional.
Enquanto o Brasil é a referência continental da região, a disputa geopolítica entre potências estrangeiras e tensões sobre fronteiras terrestres – lembrando o caso entre Venezuela e Guiana pela região de Essequibo – põem em risco a posição de liderança do país, sua soberania e a união de seus vizinhos latino-americanos. Ações coercitivas, como dos Estados Unidos sobre a Venezuela, desestabilizam o continente e põem o Brasil em estado de alerta para proteção de suas fronteiras.
No episódio desta quinta-feira (18) do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, o assunto é o entorno estratégico brasileiro e a multipolaridade atual dos países da América do Sul. Entrevistamos Guilherme Frizzera, mestre em ciências em integração da América Latina pela USP, doutor em relações internacionais pela UnB, professor e coordenador do curso de relações internacionais na Uninter.
Para Frizzera, a melhor maneira de o Brasil fortalecer o controle de suas fronteiras viria de três pontos principais. O primeiro seriam recursos financeiros para garantir sua segurança, com o professor ressaltando a necessidade de realocação de um aparato de defesa para a região fronteiriça brasileira.
No segundo ponto, o professor aponta um maior controle de Inteligência e reforço na cibersegurança. "Não apenas ter imagem de satélites, mas também ter softwares, algoritmos, inteligência artificial, para que pudesse interpretar aquelas imagens e fornecer uma resposta mais rápida e mais adequada".
E, no terceiro ponto, uma articulação envolvendo as Forças Armadas, a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, o Ibama e os povos originários presentes nessas regiões em reposta à imensa fronteira brasileira e à atuação de organizações criminosas que transitam muitas vezes livremente nas fronteiras.
Militares da Força Aérea Brasileira caminham após uma visita à torre de lançamento do Centro de Lançamento de Satélites da base militar de Alcântara, no estado do Maranhão. Brasil, 14 de setembro de 2018 - Sputnik Brasil, 1920, 17.12.2025
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Embora não haja perigo de perder territorialidade para vizinhos sul-americanos, o Brasil deve se preocupar com os discursos de autoridades políticas que queiram transferir parte da soberania nacional a agentes externos, diz Frizzera, dando como exemplo os Estados Unidos e seu presidente, Donald Trump.

"Quando você escuta de você igualar, por exemplo, organizações criminosas com grupos terroristas ou que para combater o narcotráfico você precisa da utilização da força e de força externa, você está querendo dizer: 'Olha, eu preciso que você atue no meu país'. Você está tornando a sua soberania mais flexível, se é que você não está delegando, nesse assunto, a uma potência externa. Aí nós estamos falando de uma outra situação muito mais política do que de geografia."

O podcast também entrevistou João Claúdio Pitillo, analista internacional, professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenador do projeto "Geoestratégia Estudos". Pitillo ressalta a dependência brasileira de equipamentos militares por parte da Europa, EUA e Israel, além de destacar que estes são os maiores competidores que o Brasil tem na esfera econômica e geopolítica.
"Nós precisamos imediatamente desenvolver um complexo industrial militar que nos atenda. E mais: o Brasil tem capacidade para fornecer esses equipamentos para a América Latina e para a África. Por quê? Nós conseguiríamos produzir coisas boas, de qualidade a nível referência, num preço muito menor do que essas grandes potências", explica Pitillo. "Nós temos já o know-how na área industrial, temos matéria-prima e temos mão de obra sobrando para esse tipo de coisa. Então, você pega as universidades, pega as Forças Armadas e cria aí as chamadas 'joint ventures', entre as universidades, empresas públicas e as forças armadas, começa a fabricar isso, vende aqui para os nossos vizinhos, vende para os nossos irmãos africanos, faz caixa e cria um produto nosso."

"Isso é para ontem, porque ao passo do processo de desindustrialização brasileiro, que começa em meados dos anos 1990, acontece também o fenômeno da derrocada da indústria bélica brasileira. Então, retomando a indústria bélica brasileira, a gente retoma a industrialização brasileira e, obviamente, faz crescer o nosso PIB, porque nós vamos vender esse material de ótima qualidade para os nossos vizinhos e parceiros."

O professor pontua que o Brasil "parou de pensar estrategicamente" após o golpe de Estado de 1964 para instauração da ditadura militar brasileira. Segundo ele, o país tem como doutrina de defesa nacional o vigiamento de organizações criminosas do tráfico de drogas enquanto, na sua percepção, deveria se preparar para Estados estrangeiros, como Estados Unidos, França e Reino Unido. Pitillo pontua a natureza colonialista desses países, incluindo as ações hostis dos Estados Unidos como confisco do petróleo venezuelano no Caribe.

"O Brasil está sob ameaça. Por quê? O Brasil é o país mais rico do planeta, mais rico da América Latina. Essa história de que aqui plantando tudo dá continua real. Nós temos as famosas terras raras, temos água, somos um dos países com maior concentração de água potável. Temos a Amazônia, temos ouro, temos riquezas aqui incomensuráveis. A Venezuela está sendo ameaçada pelo petróleo, nós temos muito petróleo, temos gás. Então, o Brasil precisa olhar a conjuntura e perceber que os nossos inimigos não são os comunistas, não é a Venezuela, não é a Bolívia."

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