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Água: um bem que continua a ‘entrar pelo cano’ no Brasil

A condição da água como recurso finito e sua utilização como fator de conflito entre os povos foram duas questões debatidas durante o 2º Seminário Internacional Águas pela Paz, realizado pela Unesco e várias entidades no Museu da República em Brasília.
Sputnik

O encontro produziu um documento com as principais conclusões do debate e será entregue à comissão organizadora do 8º Fórum Mundial da Água que ocorrerá de 18 a 23 de março também em Brasília.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Luiz Alberto Cardoso de Melo, diretor da Água Consultoria Ambiental, diz que o debate promovido pela Unesco vem em momento oportuno e serve para ressaltar a importância das políticas de preservação e conscientização da população para o uso consciente desse bem tão importante para a sociedade. Para o especialista, o brasileiro, de modo geral, só se preocupa com a questão da água quando ela está em baixos níveis nos reservatórios, o que acaba acarretando racionamentos e aumento na conta da energia elétrica.

"O brasileiro não é um povo acostumado a tomar os devidos cuidados com o uso racional da água. Na Água Consultoria, trabalhamos com o aproveitamento do uso da água de chuva e com sistemas de irrigação automáticos, sistemas sustentáveis, uma novidade ainda no Brasil", diz o consultor, que descarta o risco de haver qualquer risco de conflito a curto e médio prazo no mundo sobre o controle de recursos hídricos.

Para Melo, a água deve ser um bem compartilhado, incluindo o compartilhamento de informações e tecnologias entre os países. Ele cita o caso de Israel, país considerado como o de melhor tecnologia de ponta em sistemas de irrigação, como os sistemas de microgotejamento, que colocam em cada hectare cultivado exatamente a quantidade necessária de água.

"Hoje esse tipo de busca é cara, mas o custo da água no Brasil é equilibrado. Sou a favor da cobrança pelo uso da água sempre. Claro que você pode dividir entre os níveis sociais. Só quando se mexe no bolso da população é que as pessoas começam a se conscientizar", diz o especialista.

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Melo conta que a Água Consultoria vai participar de um encontro, em fevereiro, com empresários do setor de turismo e hotelaria em Paraty (RJ), que estão preocupados com os grandes aumentos que vêm sofrendo nas contas de água. Antes da nova administração da concessionária, sempre se usou água de captação de nascentes. A taxa cobrada pela prefeitura girava em torno de R$ 15 a R$ 50 por estabelecimento. De uns meses para cá, uma empresa iniciou o tratamento e a distribuição de água no município e as tarifas saltaram para uma faixa de R$ 15 mil para R$ 40 mil. A ideia, no encontro, é mostrar as alternativas para captação e tratamento da água da chuva.

Com relação à histórica escassez hídrica do Nordeste, apesar de obras de grande porte realizadas na região, como a transposição do Rio São Francisco, Melo concorda com alguns especialistas que defendem a construção de açudes de menores proporções, mas com uma profundidade maior, acima de três, quatro metros. Grandes açudes, com lâmina d´água rasa, não cumprem a contento sua função, uma vez que boa parte da água se perde na evaporação.

"Tudo vai depender do relevo onde você vai construir esses açudes. Na região deve existir comitês para cada uma das bacias hidrográficas para definição dos melhores lugares", conclui Melo.

 

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