"Se os países vizinhos têm um acordo sobre o compartilhamento de acesso à água e mesmo que um deles tenha uma barragem na corrente do rio, normalmente não surgem conflitos. É desta forma, por exemplo, que os EUA e Canadá interagem no rio Columbia", disse Eric Sproles, hidrólogo da Universidade Estadual de Oregon (os EUA). Infelizmente, muitas vezes esse tipo de boa-vizinhança é agravada pela forma extrema de nacionalismo, tensões políticas, secas ou alterações climáticas.
Na sua pesquisa publicada na revista Global Environmental Change, Sproles e os seus colegas destacaram várias possíveis "zonas de guerra", ligadas ao acesso a recursos hídricos, analisado a situação de 1400 represas já existentes ou em construção nos rios que atravessam ou correm ao longo de fronteiras de pelo menos dois países.
A maioria das barragens desse tipo fica no Sudeste Asiático e no Sul da Ásia, onde a possibilidade de conflito na zona dos rios da península Indochinesa ou no Indostão é muito alta. Além das tensões entre a Índia e o Paquistão, a China e Vietnã também podem entrar em litígio devido aos rios Xi e Bei. Há possibilidade de conflito entre Mianmar e os seus vizinhos devido à construção de uma barragem no afluente do rio Irauádi. Quanto à Rússia, o país poderia ter problemas só no Extremo Oriente Russo, na bacia do rio Amur.
Entretanto, a zona mais perigosa fica na África do Norte, na zona da nascente do Nilo e no vale do rio Awash, na Etiópia. O governo deste país lançou alguns grandes projetos de construção de barragens na bacia do rio Nilo, o que pode afetar os caudais do rio no Egito e gerar um conflito entre o Cairo e Adis Abeba, devido ao agravamento das consequências das secas.
Os cientistas esperam que os políticos e diplomatas prestem mais atenção a esta pesquisa para evitar graves conflitos no futuro.