"A elite norte-coreana não o quer porque a unificação seria uma verdadeira sentença de morte para ela, eles perderiam o poder e nem sequer dispõem de recursos econômicos suficientes ", afirmou o especialista.
"É provável que, no final, os líderes norte-coreanos sejam julgados por terem cometido violações dos direitos humanos, independentemente de essas acusações serem verdadeiras ou falsas", acrescentou.
Ademais, a possível reunificação "não interessa aos cidadãos comuns da Coreia do Sul".
"Isso significaria simplesmente impostos iguais aos da Suécia com condições de trabalho vietnamitas. A unificação é uma coisa muito cara e seria paga pelos contribuintes sul-coreanos", disse o analista, referindo-se ao enorme abismo econômico entre o Norte e o Sul.
"A unificação também não agrada à classe dirigente sul-coreana porque ela não seria nada rentável nem para a elite nem para o país. Pelo contrário, seria, sem dúvida, uma dor de cabeça enorme", explicou o entrevistado.
Caminho alemão
O fato de ninguém estar interessado na reunificação não significa necessariamente que isso não ocorra, disse Lankov.
O analista reiterou que essa opção existe e é muito real, enquanto a possibilidade de uma reunificação voluntária parece praticamente impossível.
"Já o disse: e que tal falarmos de opções mais prováveis, como, por exemplo, a unificação voluntária entre a Argentina e o Brasil, ou a da França com a Inglaterra? […] Estas opções parecem ser menos quiméricas […]Talvez amanhã a Índia e o Paquistão acordem a unificação, o que poderia ser mais provável do que a suposta reunificação voluntária entre as duas Coreias", disse ironicamente.
Quando?
As mudanças, bem revolucionárias, podem ocorrer mesmo a curto prazo se as sanções impostas contra a Coreia do Norte provocarem uma crise econômica no país, o que, por sua vez, desencadearia uma crise política, prognostica Lankov.
Também é possível que a reunificação nunca aconteça, se a política de reformas econômicas que as autoridades norte-coreanas estão realizando no momento for bem-sucedida.
De acordo com o especialista, esta política é muito prudente, portanto, isso pode ser transformado em uma "ditadura do desenvolvimento" na Coreia do Norte no futuro.
O respectivo sistema assemelharia o país à China ou ao Vietnã de hoje, ou mesmo à Coreia do Sul da década de 1960, ou seja, do tempo do governo do presidente Park Chung-hee, acrescentou.
As diferenças entre os dois países já são enormes a tal ponto que, às vezes, os habitantes do Norte e do Sul já não se entendem, comentou o entrevistado.
"Em 100 anos ou mais, os dois terão menos vontade de se unificarem do que a Alemanha e a Áustria têm agora. A reunificação pode ocorrer em dois anos ou nunca", concluiu.