Desafios novos e velhos: EUA e criptomoedas seriam maiores ameaças para economia mundial?

Entre 19 e 20 de março na capital argentina, Buenos Aires, se realizou a Cúpula do G20 que reuniu os ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais das maiores economias do mundo. A Sputnik explica como decorreu a cúpula e que problemas econômicos foram marcados como os mais urgentes.
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A Argentina, que assume a presidência do G20 neste ano, sediou a primeira reunião ministerial de 2018 do bloco. Em Buenos Aires se reuniram 22 ministros das Finanças, 17 presidentes dos bancos centrais e 10 altos representantes de organizações internacionais para discutir os maiores desafios à economia mundial. Embora as perspectivas econômicas globais estejam melhorando e se observe o aumento do crescimento econômico sincronizado mais amplo desde 2010, existem problemas que podem minar a estabilidade da ordem econômica existente.

Guerra comercial é inevitável?

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Como se previa, a ameaça de guerra comercial foi o tema dominante da cúpula. Recentemente, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que planeja estabelecer uma tarifa de 25% sobre o aço importado e de 10% sobre o alumínio. A imposição das tarifas põe em risco os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo objetivo é promover abertura dos mercados e redução das tarifas, e pode desencadear uma guerra comercial em grande escala. A medida entrará em vigor em 23 de março. As tarifas afetariam muitos países (incluindo o Brasil: um terço das exportações de aço do país vai para os EUA) e alguns deles já fizeram declarações duras a esse respeito.

Entretanto, os lideres financeiros mundiais fracassaram em chegar a conclusões satisfatórias sobre comércio e protecionismo. Embora as novas tarifas dos EUA prejudiquem interesses da maioria dos países do G20, o comunicado final da cúpula omite a condenação ao protecionismo e apenas sublinha "a necessidade de um maior diálogo e ação" para "fortalecer a contribuição do comércio" à economia global e declara que "as tensões econômicas e geopolíticas" constituem um risco para o crescimento global.

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Desafios absolutamente novos

É a primeira vez que os membros fazem referência às criptomoedas. As discussões em torno desse problema envolvem duas premissas: a regulação e taxação das moedas digitais. Os participantes da cúpula reconheceram que novas tecnologias, como blockchain, "têm potencial para melhorar a eficácia e tornar mais inclusivo o sistema financeiro e a economia em seu conjunto". No entanto, eles estão preocupados com o fato de o bitcoin e outras criptomoedas poderem ser usados para lavar dinheiro, evadir impostos e financiar o terrorismo.

Os líderes financeiros não expressaram a vontade de proibir totalmente as moedas digitais, mas insistiram na necessidade de criar regras a nível internacional para evitar que esses ativos sejam usados para atividades ilícitas. Portanto, apelaram à implementação dos padrões do Grupo de Ação Financeira Internacional (FATF, na sigla em inglês, agrupamento internacional de carácter informal que visa prevenir lavagem de dinheiro, financiamento do terrorismo e outros crimes financeiros) para as criptomoedas.

Quanto à digitalização da economia em geral, espera-se que as novas tecnologias tragam oportunidades econômicas imensas, tais como novas formas de fazer negócios, novas indústrias, melhoramento da qualidade de vida e maior crescimento do PIB.

Porém, muitos países não estão prontos para essas transformações fundamentais. Como lidar com a perda de empregos provocada pela robotização ou com o risco de uma crescente desigualdade entre os países que dominam essa corrida tecnológica e os que estão atrasados em relação à digitalização? Essas questões ainda permanecem em aberto.

À margem do G20: iniciativas do BRICS

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No âmbito da cúpula do grupo G20 se reuniram os vice-ministros da Finanças e vice-presidentes dos bancos centrais dos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Os representantes dos países membros do grupo discutiram a criação de sua própria agência de classificação de risco e de um fundo de desenvolvimento dos mercados obrigacionistas, bem como os projetos do Novo Banco do Desenvolvimento (NBD).

Além disso, neste ano poderia ser testado um fundo de reserva dos países do BRICS de 100 bilhões de dólares (R$ 320 bilhões). O fundo se destina a corrigir desequilíbrios do balanço de pagamentos dos países do bloco. Desses 100 bilhões, 41 bilhões (R$ 131 bilhões) vêm da China. O Brasil, a Rússia e a Índia contribuem com 18 bilhões (R$ 57,6 bilhões) cada um e a África do Sul com 5 bilhões (R$ 16 bilhões). Essas iniciativas mostram que os países do BRICS estão dispostos a continuar desenvolvendo a cooperação financeira a nível internacional.

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Problemas sem soluções concretas

Entre outras questões em destaque figuraram a crise venezuelana, o financiamento da infraestrutura, o crescente endividamento dos países com baixos rendimentos e os riscos estruturais do sistema financeiro existente.

Esses problemas têm presença permanente na agenda de diferentes cúpulas e fóruns internacionais, mas ainda não foram resolvidos. Possivelmente, é de esperar uma modernização desses formatos de discussão para que se tornem não apenas um palco de discussão, mas também um instrumento real para solução dos problemas mais urgentes.

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