O ex-general Amos Yadlin, que na época era o chefe da inteligência militar israelense, relatou à imprensa que a "operação de inteligência, executada em território sírio em 2006, comprovou a existência de um projeto de reator nuclear de plutônio, que tinha um único objetivo – a criação de uma bomba atômica".
Não está muito claro o motivo de Israel ter revelado essa operação ultrassecreta somente agora. A resposta foi dada pelo ministro da Inteligência de Israel, Yisrael Katz, em uma mensagem de congratulações ao então primeiro-ministro do país Ehud Olmert relativa à "decisão de destruir o reator nuclear na Síria há 11 anos".
"O sucesso da operação faz com que entendam que Israel nunca permitirá armas nucleares àqueles que ameaçam sua existência […] Síria ontem, Irã hoje", exclamou.
A República Islâmica do Irã, inimiga eterna do Estado judeu, tem causado muita preocupação a Israel. Ainda antes da revolução islâmica iraniana, seu futuro líder e criador da República Islâmica do Irã, Khomeini, colocou Israel em segundo lugar na lista de inimigos, em primeiro lugar estavam os EUA. Depois de 1979, o antissionismo se tornou o principal inimigo político da República Islâmica do Irã. A tese que se repetia em Teerã sobre a necessidade de apagar as entidades sionistas do mapa, não melhorou a situação política em Tel Aviv. O programa nuclear da República Islâmica do Irã, expandindo-se rapidamente sem nenhum controle internacional durante várias décadas, foi o propulsor de um grande aumento de confrontos entre Israel e Irã, que quase se converteu em guerra em 2010-2011.
O acordo nuclear ou Plano de Ação Conjunta Global (JCPO, sigla em inglês) assinado em julho de 2005, tendo como signatários os cinco membros permanentes da ONU, amenizou a tensão temporariamente.
A situação piorou novamente depois da guerra civil na Síria e a intensificação das atividades militares e políticas do Irã nesse país. Israel está preocupado com o aumento da influência de Teerã sobre o regime de Bashar Assad, os reforços das posições militares e a expansão da presença militar da República Islâmica do Irã em território sírio, principalmente perto da fronteira síria-israelense, e a presença dos xiitas na Síria.
Não há nenhuma dúvida que Israel tem aumentado seu potencial militar nos últimos anos.
Depois do início do conflito sírio, Israel realizou cem ataques aéreos a instalações na Síria, que supostamente estavam vinculadas às atividades da República Islâmica do Irã e ações militares xiitas do grupo libanês Hezbollah, o qual é apoiado pelo governo iraniano.
De acordo com o jornal Al-Jazira, do Kuwait, que declara ter fontes confiáveis, inclusive do comando da força militar norte-americana no Oriente Médio, dois caças-bombardeiros da Força Aérea de Israel, ao atravessarem despercebidos o Iraque e a Síria, invadiram recentemente o espaço aéreo iraniano. Israel não confirmou nem refutou essa mensagem oficialmente. Ao mesmo tempo, especialistas militares duvidam da veracidade dessa ação israelense. No entanto, nota-se que entre 4 e 15 de março, Israel realizou exercícios militares batizados de Juniper Cobra, juntamente com os EUA.
Em geral, pode ser constatado que a situação ao redor do Irã está ficando cada vez mais tensa devido às atividades da República Islâmica do Irã na Síria e o destino do Plano de Ação Conjunta Global.
Em decorrência do fato, houve uma mudança na administração do presidente norte-americano, Donald Trump. Segundo a imprensa, Trump está formando um gabinete militar anti-iraniano. Como é de conhecimento geral, Trump é um ferrenho opositor ao Plano de Ação Conjunto Global e ameaça romper o acordo nuclear em maio. Seu novo conselheiro de segurança nacional, John Bolton, que escreveu a matéria intitulada "Para parar bomba iraniana, deve-se bombardear o Irã", aconselhou ataques preventivos e "mudança de regime".
Trump não apenas faz a reconstrução de sua administração, mas também restaura as relações com seus aliados do Oriente Médio, envolvendo-os em atividades anti-iranianas. E não é difícil de fazer isso com base na cronologia de Tel Aviv e Riad sobre Teerã.
Segundo a imprensa, o governante árabe favorito de Trump é o príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohammad bin Salman, de 32 anos de idade, que chama o líder da República Islâmica do Irã de "Hitler do Oriente Médio". Os sauditas também se opõem ao Plano de Ação Conjunto Global. O príncipe Salman já disse várias vezes que, se não for feito de tudo para impedir o Irã de criar arma nuclear, seu país se tornará uma potência nuclear "o mais rápido possível".
"Se os esforços contínuos da Arábia Saudita de conter geopoliticamente o Irã e seu programa nuclear não forem bem-sucedidos, provavelmente isso resultará em guerra daqui a 10 a 15 anos", afirmou o príncipe.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também demostra posição rígida em relação ao Irã ao denominar o acordo nuclear como uma ameaça à sobrevivência de Israel, e afirma que o Irã é "a maior ameaça para todo o mundo".
Não há dúvida de que o reconhecimento oficial da ação de Israel na destruição do reator nuclear na Síria em 2007 é um sinal da determinação de Tel Aviv de impedir a consolidação das posições de Teerã na região e a criação de condições para a produção de uma arma nuclear, como já foi confirmado pelo general Yadlin.
"Este é um sinal de que, quando se trata de interesse de maior importância e ameaça séria à existência de Israel, Israel irá agir – mesmo que sozinho", disse.
Entretanto, aparentemente Israel não terá que agir sozinho. Uma coalização anti-iraniana já foi criada, a qual outros inimigos da República Islâmica do Irã estão prontos a aderir.
E uma pergunta importante: haverá um confronto real? A maioria dos analistas acredita ser pouco provável que aconteça uma guerra de grande escala contra o Irã por muitas razões. Contudo, o mais importante que é que tanto Jerusalém como Teerã não querem "guerra fria". Não por acaso, o vice-ministro das Relações Exteriores da República Islâmica do Irã, Abbas Araghchi, declarou recentemente que a presença do Irã na Síria não significa o prenúncio de um novo confronto contra Israel, mas o combate ao terrorismo.