Ataque israelense a reator nuclear sírio em 2007 seria advertência ao Irã em 2018?

Israel admitiu recentemente que, em 6 de setembro de 2007, oito caças israelenses F-15 executaram ataques aéreos ultrassecretos à instalação Al-Khubar, na região de Deir ez-Zor, a 300 km a noroeste de Damasco, e destruíram um reator nuclear que estava em desenvolvimento há anos e programado para entrar em comissionamento no fim de 2007.
Sputnik

O ex-general Amos Yadlin, que na época era o chefe da inteligência militar israelense, relatou à imprensa que a "operação de inteligência, executada em território sírio em 2006, comprovou a existência de um projeto de reator nuclear de plutônio, que tinha um único objetivo – a criação de uma bomba atômica".

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"A questão ímpar para nós em 2006 era: de quanto tempo dispomos antes do carregamento do reator com combustível nuclear. A resposta que encontramos era de seis a sete meses. Em seguida, houve o planejamento secreto da operação, que tinha dois objetivos, destruir o reator e escapar da guerra. Os dois objetivos foram alcançados", disse o general.

Não está muito claro o motivo de Israel ter revelado essa operação ultrassecreta somente agora. A resposta foi dada pelo ministro da Inteligência de Israel, Yisrael Katz, em uma mensagem de congratulações ao então primeiro-ministro do país Ehud Olmert relativa à "decisão de destruir o reator nuclear na Síria há 11 anos".

"O sucesso da operação faz com que entendam que Israel nunca permitirá armas nucleares àqueles que ameaçam sua existência […] Síria ontem, Irã hoje", exclamou.

A República Islâmica do Irã, inimiga eterna do Estado judeu, tem causado muita preocupação a Israel. Ainda antes da revolução islâmica iraniana, seu futuro líder e criador da República Islâmica do Irã, Khomeini, colocou Israel em segundo lugar na lista de inimigos, em primeiro lugar estavam os EUA. Depois de 1979, o antissionismo se tornou o principal inimigo político da República Islâmica do Irã. A tese que se repetia em Teerã sobre a necessidade de apagar as entidades sionistas do mapa, não melhorou a situação política em Tel Aviv. O programa nuclear da República Islâmica do Irã, expandindo-se rapidamente sem nenhum controle internacional durante várias décadas, foi o propulsor de um grande aumento de confrontos entre Israel e Irã, que quase se converteu em guerra em 2010-2011.

O acordo nuclear ou Plano de Ação Conjunta Global (JCPO, sigla em inglês) assinado em julho de 2005, tendo como signatários os cinco membros permanentes da ONU, amenizou a tensão temporariamente.

A situação piorou novamente depois da guerra civil na Síria e a intensificação das atividades militares e políticas do Irã nesse país. Israel está preocupado com o aumento da influência de Teerã sobre o regime de Bashar Assad, os reforços das posições militares e a expansão da presença militar da República Islâmica do Irã em território sírio, principalmente perto da fronteira síria-israelense, e a presença dos xiitas na Síria.

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Sinalizando as ambições atuais do Irã, o ministro da Defesa israelense, Avigdor Lieberman, observou que a "motivação de nossos inimigos tem aumentado nos últimos anos, no entanto, com isso aumentou a potência das Forças de Defesa de Israel […] essa equação deve ser entendida por todos no Oriente Médio".

Não há nenhuma dúvida que Israel tem aumentado seu potencial militar nos últimos anos.

Depois do início do conflito sírio, Israel realizou cem ataques aéreos a instalações na Síria, que supostamente estavam vinculadas às atividades da República Islâmica do Irã e ações militares xiitas do grupo libanês Hezbollah, o qual é apoiado pelo governo iraniano.

De acordo com o jornal Al-Jazira, do Kuwait, que declara ter fontes confiáveis, inclusive do comando da força militar norte-americana no Oriente Médio, dois caças-bombardeiros da Força Aérea de Israel, ao atravessarem despercebidos o Iraque e a Síria, invadiram recentemente o espaço aéreo iraniano. Israel não confirmou nem refutou essa mensagem oficialmente. Ao mesmo tempo, especialistas militares duvidam da veracidade dessa ação israelense. No entanto, nota-se que entre 4 e 15 de março, Israel realizou exercícios militares batizados de Juniper Cobra, juntamente com os EUA.

Em geral, pode ser constatado que a situação ao redor do Irã está ficando cada vez mais tensa devido às atividades da República Islâmica do Irã na Síria e o destino do Plano de Ação Conjunta Global.

Em decorrência do fato, houve uma mudança na administração do presidente norte-americano, Donald Trump. Segundo a imprensa, Trump está formando um gabinete militar anti-iraniano. Como é de conhecimento geral, Trump é um ferrenho opositor ao Plano de Ação Conjunto Global e ameaça romper o acordo nuclear em maio. Seu novo conselheiro de segurança nacional, John Bolton, que escreveu a matéria intitulada "Para parar bomba iraniana, deve-se bombardear o Irã", aconselhou ataques preventivos e "mudança de regime".

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Mike Pompeo, novo secretário de Estado dos EUA, classifica o Irã como "governo severo e policial", "teocracia despótica" e "vanguarda do império destrutivo, que expande seu poder e influência no Oriente Médio", o qual tem de ser combatido.

Trump não apenas faz a reconstrução de sua administração, mas também restaura as relações com seus aliados do Oriente Médio, envolvendo-os em atividades anti-iranianas. E não é difícil de fazer isso com base na cronologia de Tel Aviv e Riad sobre Teerã.

Segundo a imprensa, o governante árabe favorito de Trump é o príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohammad bin Salman, de 32 anos de idade, que chama o líder da República Islâmica do Irã de "Hitler do Oriente Médio". Os sauditas também se opõem ao Plano de Ação Conjunto Global. O príncipe Salman já disse várias vezes que, se não for feito de tudo para impedir o Irã de criar arma nuclear, seu país se tornará uma potência nuclear "o mais rápido possível".

"Se os esforços contínuos da Arábia Saudita de conter geopoliticamente o Irã e seu programa nuclear não forem bem-sucedidos, provavelmente isso resultará em guerra daqui a 10 a 15 anos", afirmou o príncipe.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também demostra posição rígida em relação ao Irã ao denominar o acordo nuclear como uma ameaça à sobrevivência de Israel, e afirma que o Irã é "a maior ameaça para todo o mundo".

Não há dúvida de que o reconhecimento oficial da ação de Israel na destruição do reator nuclear na Síria em 2007 é um sinal da determinação de Tel Aviv de impedir a consolidação das posições de Teerã na região e a criação de condições para a produção de uma arma nuclear, como já foi confirmado pelo general Yadlin.

"Este é um sinal de que, quando se trata de interesse de maior importância e ameaça séria à existência de Israel, Israel irá agir – mesmo que sozinho", disse.  

Entretanto, aparentemente Israel não terá que agir sozinho. Uma coalização anti-iraniana já foi criada, a qual outros inimigos da República Islâmica do Irã estão prontos a aderir.

E uma pergunta importante: haverá um confronto real? A maioria dos analistas acredita ser pouco provável que aconteça uma guerra de grande escala contra o Irã por muitas razões. Contudo, o mais importante que é que tanto Jerusalém como Teerã não querem "guerra fria". Não por acaso, o vice-ministro das Relações Exteriores da República Islâmica do Irã, Abbas Araghchi, declarou recentemente que a presença do Irã na Síria não significa o prenúncio de um novo confronto contra Israel, mas o combate ao terrorismo.

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