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EUA fazem de tudo para que países latino-americanos nem pensem em comprar armas russas?

Após um breve período de revitalização, a cooperação no campo militar entre os países latino-americanos e a Rússia parece ter desacelerado um pouco. A Sputnik Brasil discutiu as perspectivas dos respetivos projetos em exclusivo com o especialista russo e diretor comercial do jornal Arsenal Otechestva, Aleksei Leonkov.
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Entre 4 e 5 de abril, o luxuoso hotel Radisson Blu Royal Hotel alberga a 7ª Conferência para a Segurança Internacional de Moscou, reunindo ministros e delegados de todas as partes do mundo. Durante o evento se discutem os principais desafios à segurança global, tais como o radicalismo islâmico, ameaça de terrorismo na África e Ásia, fatores geopolíticos de segurança na Europa, entre outros.

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Nos bastidores da cúpula, a Sputnik Brasil teve uma oportunidade de falar com o eminente analista russo, Aleksei Leonkov, que manifestou sua opinião em relação à situação atual e às perspectivas do comércio bilateral na área militar entre Moscou e os países da América Latina.

"Se falarmos da cooperação com o Brasil, bem como com todos os países da América Latina em geral, esta não está decorrendo de modo fácil. Digamos que a cooperação mais eficiente nós tínhamos com a Venezuela, mas após ter falecido seu líder [Hugo Chávez] e o país ter enfrentado uma situação econômica carenciada, a questão, de fato, se agudizou. A questão é que há uma resistência fortíssima por parte do chamado vizinho do Norte, que interfere nos assuntos latino-americanos a todos os níveis e exerce uma pressão significativa", opinou o especialista.

Na opinião de Leonkov, isto é algo que impede em grande parte a cooperação técnico-militar da região com a Rússia, mas os próprios países almejam comprar equipamentos de qualidade.

"Ao testar os equipamentos que há na Venezuela, todos se deram conta que as armas existentes até hoje não são, de fato, muito boas, mas custaram bastante. Pode ser que tenham uma aparência feroz, mas, como provaram as ações militares reais (pois estes equipamentos foram usados em uma série de conflitos quentes no Oriente Médio), os parâmetros técnicos reais, infelizmente, não correspondem à publicidade que promove estas armas", manifestou.

Já as armas russas, disse Leonkov, não só tem um bom aspeto, mas desfrutam de uma relação justa entre o preço e a qualidade.

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"Em princípio, os países da América Latina já sabiam disso — eles conhecem as nossas armas portáteis e lança-granadas antitanque que funcionam em quaisquer condições", frisou.

Assim, o analista acredita que muitos países estariam muito mais ativamente envolvidos no comércio com Moscou, inclusive no campo militar, mas os fatores políticos obstaculizam o processo.

"Por exemplo, quando tivemos uma reaproximação das nossas posições com o Brasil, aconteceu uma espécie de ‘impeachment' das autoridades que, claro, tinha sido fabricado por certas forças, o que desacelerou muitíssimo o desenvolvimento ulterior", explicou ele, adiantando que ter um parceiro como o Brasil no Atlântico sempre foi uma das prioridades do Kremlin, enquanto hoje em dia esta questão virou "dificilmente solucionável".

Deste modo, se antigamente se planejavam compras maciças de equipamentos russos para depois serem usados nas Forças Armadas do Brasil, por enquanto estes planos ficaram para trás, se reataram as negociações a nível mais baixo.

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Para Leonkov, o motivo para isso é o fato das autoridades brasileiras "piscarem muito o olho" ao seu vizinho do Norte.

Entretanto, há uma chance que a situação mude, enfatizou, mas sob certas condições.

"No futuro breve, acho que haverá alguma espécie de avanço, caso os EUA, que de fato regulam a política latino-americana, abrandem seu aperto, como já fazem no Oriente Médio. Nesse caso, acredito, acontecerá algo que todos os países têm desejado — isto é, receberem armas eficientes que possam realmente defender a soberania destes países. Todos já entendem isso e entendem que as suas armas não o podem garantir. Sabemos da história que a maioria dos golpes militares foram efetuados com o apoio de forças que possuíam armas mais avançadas por seus parâmetros que as armas dos exércitos nacionais", argumentou.

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Para mais, ele observou que a cooperação russo-brasileira não foi nada favorecida pela situação econômica no país verde e amarelo. Vale relembrar o caso dos sistemas Pantsir, que Brasília planejava comprar em lotes significativos, mas que afinal das contas suspendeu as negociações ao reconhecer, de fato, que não dispõe de recursos financeiros para tais fornecimentos.

"Mas o Brasil também mergulhou em uma crise econômica que, claro, foi já uma consequência, pois as crises que temos, por mais banal que seja, são algo de deliberado. E estas crises são provocadas pelos países desenvolvidos. Eles, através de sanções, embargos, outras medidas, dificultam a oportunidade dos países economicamente mais fracos para se desenvolverem. Tanto mais que um país quer não só se desenvolver, mas também reforçar isso com algum armamento que influa na capacidade de autodefesa do país. Neste caso, eles [EUA] movem todas as alavancas", assinalou.

Resulta que a chamada Doutrina Monroe e a política intervencionista de Washington não mudaram muito ao longo dos séculos. Pelo menos, é isso em que acredita Leonkov.

"Os EUA não querem ter a sul países que os tratem por ‘tu'. Eles querem que estes países os olhem só de baixo para cima e fazem todo o possível para isso", realçou.

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Nisto, acredita o especialista, reside a psicologia "colonial" dos EUA, Reino Unido e vários países europeus. Ou seja, estas potências continuam entendendo a região latino-americana como uma concentração de colônias, embora proclamem os valores democráticos e de soberania nacional.

"Logo que nestes países aparecem líderes que priorizam o desenvolvimento, eles enfrentam uma opressão ferocíssima. Vale relembrar Cuba e Fidel Castro. Quantos atentados houve contra ele, quantas sanções foram impostas contra esse país. Apesar de tudo, ele sobreviveu. Claro que não virou um país superdesenvolvido. Mas dá para entender por quê. Houve uma opressão forte na época. Quando a URSS colapsou, Cuba estava à beira da catástrofe, os americanos acreditavam que logo acabariam com esta Ilha da Liberdade e faziam tudo o que tinham sonhado por muito tempo. Mas não deu", ressaltou o interlocutor da Sputnik Brasil.

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Assim, frisa Leonkov, Cuba "é um exemplo de que se pode sobreviver sob sanções". E a Rússia, pelo visto, também está dando o mesmo exemplo após "tomar coragem" para rechaçar a pressão de fora. Caso a América Latina o faça também, Moscou estará sempre pronta para "estender a mão", acredita o analista.

Mas não foi só por causa da situação interna brasileira que nos anos 2000 a cooperação com a Rússia não ganhou novo fôlego, adverte. A questão é que a Rússia na época se encontrava em uma situação bem precária, carente de parceiros comerciais, estando "disposta a qualquer ajuda, qualquer cooperação só para encher o orçamento com algo".

"Hoje em dia, a situação mudou, a Rússia se tornou em um Estado mais forte, capaz de resolver quaisquer questões mesmo debaixo de sanções fortes", analisou.

Ao terminar a conversa, Leonkov se referiu a uma tendência interessante na geopolítica — os movimentos com caráter de direita — que dão um enfoque especial à questão nacionalista. De acordo com ele, a Rússia respeita tal posição e está pronta para cooperar com os países norteados por seus interesses nacionais, caso os seus próprios também sejam respeitados. O exemplo mais marcante disso, assinalou o especialista, é a cooperação entre a Rússia e a Turquia.

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