Duque, do Centro Democrático, foi eleito ontem com 54% dos votos contra menos de 42% do esquerdista Gustavo Petro, do Movimento Progressista. Apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, o conservador teve como um de seus principais impulsos de campanha as críticas ao acordo de paz firmado entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o governo de Juan Manuel Santos, considerando-o muito benevolente com os ex-guerrilheiros.
Quem é o novo presidente da Colômbia? https://t.co/GTfEnYdsBSpic.twitter.com/Bc0X1UnLAk
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) 18 de junho de 2018
O novo presidente assumirá um país que, dividido pela questão das FARC, se tornou também recentemente o primeiro membro da região na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aproximando-o ainda mais das potências do norte e, mais especificamente, dos Estados Unidos. Que efeitos esses fatores poderão ter no futuro do continente?
Para Paulo Velasco, professor de Relações Internacionais da UERJ e pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), há muitas semelhanças entre o presidente eleito e o antigo chefe de Estado Uribe, o que dificultaria o entendimento tanto com as FARC como com o Exército de Libertação Nacional, grupo rebelde que também vêm mantendo negociações com o atual governo. No entanto, é preciso destacar diferenças entre os dois políticos, explica o analista, destacando que ainda é muito cedo para fazer afirmações sobre as possíveis ações de Duque.
"O próprio Iván Duque assume isso, ele tem um perfil mais liberal, em alguns pontos, do que o Uribe", disse o especialista à Sputnik Brasil, citando pontos como igualdade de gêneros, preocupação com minorias e outras questões que não estiveram exatamente na agenda do antecessor de Santos. Segundo Velasco, no que diz respeito exatamente ao polêmico acordo de paz, ele não imagina uma reversão total dos entendimentos alcançados, mas acha plausível que mudanças sejam efetivamente adotadas, sobretudo na participação política das FARC.
"Como sabemos, Santos firmou um acordo com o novo partido, que mantém a sigla FARC, garantindo a eles, não só nas eleições realizadas, mas nas próximas também, um número definido de vagas. Mesmo que eles não recebam nenhum voto nas eleições legislativas, eles têm um número de cadeiras assegurado na Câmara e no Senado colombianos. Isso é algo que poderia eventualmente ser revisto se o Iván Duque insistisse nisso".
No caso da participação colombiana na OTAN, o professor diz não ver relação direta entre a entrada da Colômbia no bloco e o resultado da eleição do último domingo. Esse evento em si Velasco aponta como resultado de uma aproximação antiga entre Bogotá e Washington, que tem tudo para gerar grande preocupação em outros países da América do Sul.
Ainda segundo o analista, a derrota de Gustavo Petro na Colômbia confirma que essa ainda não foi a vez da esquerda no país, assim como não tem sido no resto do continente. Uma eventual vitória do esquerdista, para ele, culminaria em uma política mais redistributiva de riquezas na Colômbia, país que tem revelado uma "robustez macroeconômica" que falta a muitos de seus vizinhos.
"É um país muito populoso, que tem enfrentado alguns problemas em termo de desigualdade. É uma agenda que ainda precisa ser enfrentada. Iván Duque disse que não vai ser negligente com essas causas mais sociais. Mas, certamente, se tivéssemos o Petro à frente da Casa de Nariño, como é chamado o palácio presidencial colombiano, ele focaria mais numa agenda de centroesquerda, ou mais a esquerda mesmo, ligada, por exemplo, a políticas redistributivas, que nunca foi muito o foco dos governos colombianos", disse ele. "Duque se assume como um candidato muito representante dos interesses do mercado. O mercado colombiano e os investidores internacionais apostavam na vitória do Duque temerosos justamente de que um governo do Petro pudesse talvez prejudicar algum desses interesses, focando mais em uma dimensão social", acrescentou.