Teste de lealdade: que países podem se tornar vítimas do 'neocolonialismo americano'?

Os EUA usam "estratégia neocolonialista", apoiando "até mesmo as ideologias mais absurdas" para enfraquecer governo legítimo de outros países. Conforme o ministro da Defesa russo, Moscou continuará impedindo aplicação desta estratégia.
Sputnik

Em entrevista à Sputnik Mundo o especialista militar, Aleksei Leonkov, contou que países podem ser os próximos alvos desta política.

Na zona de risco caem todos os países que normalmente são considerados de terceiro mundo, ou seja, os que não fazem parte do G20. Leonkov declarou que na lista entram os países da América do Sul, da África e da Ásia.

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Normalmente, são países que não têm uma indústria militar muito desenvolvida e por isso não podem fazer frente a Washington. A qualquer momento podem ser acusados de não terem democracia, esclareceu o entrevistado.

"Um bom exemplo foi a Coreia do Norte. Exerceram uma pressão tão forte nela que de uma hora para outra ela não possuía nem armas nucleares nem mísseis capazes de atingir os Estados Unidos da América. E muito rapidamente as ênfases foram trocadas", lembrou.

Ao mesmo tempo, ressaltou que tal tática não pode ser "a panaceia de todos os males", porque nem todos os países teriam a chance de possuir tais armas.

Brigas no 'quintal'

À zona de risco da política neocolonialista dos EUA o analista incluiu também a maioria dos países da América Latina, frisando que Washington sempre considerou a região como o seu "quintal, onde ninguém tem direito de entrar".

"Eles [Estados Unidos] sempre definiram o destino destes países. Mas as tentativas de alguns países da região de enfrentá-los, por exemplo, Cuba, trouxeram resultado conhecido. Foi uma oposição longa, mas os EUA nunca conseguiram submeter o país ilhéu a reconhecer sua soberania como uma questão de princípio", adicionou Leonkov.

Também citou o exemplo da Venezuela. Notou que o seu líder anterior, Hugo Chávez, enfrentou muito bem a política norte-americana.

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Entretanto, mencionou o Brasil, onde a presidente Dilma Rousseff, que desenvolvia ativamente relações com os países do BRICS, foi afastada do cargo e sublinhou que muitas razões "teriam sido inventadas".

"Os EUA vigiam muito cuidadosamente todas as mudanças que estão ocorrendo na América Latina. De todas as formas, eles impedem que o movimento bolivariano renasça, ou seja, que todos os países da região possam se reunir e se opor juntos à pressão de Washington", acrescentou o interlocutor da Sputnik Mundo.

Irmãos das armas

Antes de tudo, as ações dos EUA se espalham pela política técnico-militar destes países. Os norte-americanos consideram leais somente os países que compram o equipamento militar deles, ou os países-membros da OTAN, reparou o analista.

"Logo que entram as armas da China ou, deus os livre, da Rússia, como aconteceu com a Venezuela, Washington começa a pressionar. Os EUA "não deram atenção" à Venezuela e agora estão fazendo tudo para que o precedente não se repita, tentando castigar de todas as formas Caracas por deslealdade", explicou Leonkov.

Para ele, alguns líderes dos países latino-americanos tentam estreitar contatos com os novos blocos de forças BRICS ou OCX (Organização para Cooperação de Xangai). Alguns países acreditam que, em caso de intervenção direta dos EUA, vão conseguir apoio destes blocos, afirmou.

"Por enquanto, a única limitação para que a Rússia coopere da melhor forma possível com a América do Sul é a grande distância geográfica. A manifestação de lealdade em relação à Rússia por parte dos países locais pode resultar em que lá inesperadamente aconteça um golpe de Estado velado por movimentos 'democráticos'", opinou.

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Resistência firme

O conflito sírio se tornou exemplo ao mundo todo como exatamente a Rússia faz frente às aspirações neocolonialistas dos EUA, disse o entrevistado.

"Perto de outubro de 2015, a Síria enfrentou uma situação ameaçadora de desaparecimento do seu governo e do seu próprio estadismo. Quando a Rússia interviu na situação, uma série de mídias ocidentais previram para a Rússia 'um segundo Afeganistão' e o fracasso, contudo, como se vê, todas as previsões ocidentais terminaram em nada", lembrou o analista.

Para entender como os EUA podem reagir à resistência da Rússia, é preciso analisar as ações dos EUA contra Cuba, Venezuela e outros países, adicionou.

A pressão neste caso está sendo realizada a três níveis: político, econômico e político-militar. Sem contar no apoio aos grupos terroristas chamados de grupos de "libertação", declarou Leonkov.

"A prática mostra que se pode negociar com a Rússia, e com os americanos não. Embora não possam diretamente proibir que alguém coopere com a Rússia, tentam exercer pressão com ajuda de várias organizações", esclareceu.

Como exemplo, Leonkov citou o recente escândalo ao redor da Assembleia Mundial da Saúde, quando o Equador planejava propor a resolução a favor da amamentação materna, e os EUA, que estavam defendendo interesses dos fabricantes de fórmulas para alimentação de bebês, ameaçaram os representantes do país latino-americano de introduzir sanções contra ele e de privá-lo de ajuda militar.

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Ao invés do Equador, a Rússia introduziu a resolução, na sequência do qual o documento foi aprovado com poucas emendas.

O analista considera que, se países como o Equador tivessem uma alternativa, os EUA não teriam como pressioná-los. O apoio da Rússia em tais situações é justamente a forma de se posicionar contra assim chamada pelo ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, "política de neocolonialismo dos EUA", concluiu.

"Trata-se da estratégia de neocolonialismo que já foi provada pelos EUA no Iraque e na Líbia e que se manifesta a favor de quaisquer ideologias, até as mais absurdas, para enfraquecer governos legítimos", declarou o ministro russo em entrevista à edição italiana Il Giornale, publicada em 11 de julho.

Conforme ele, "são usadas encenações do uso de armas de destruição em massa ou catástrofes humanitárias e, nas etapas finais, entram com força militar para criar um 'caos controlado' e com condições livres a fim de bombear bens para a economia americana através de corporações transnacionais".

"A Rússia, que apoia os direitos igualitários e cooperação mutualmente vantajosa com todos os países no âmbito do conceito do mundo multipolar, sempre será um obstáculo para realização de tais 'estratégias'", ressaltou Shoigu.

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