Ao contrário daquilo que se costuma pensar, a cúpula dos BRICS que dura três dias e abrange um fórum empresarial, um encontro entre os líderes e as reuniões com outros países convidados, é o consequência de um ano inteiro de trabalho árduo com envolvimento de grupos ativistas de várias esferas.
Honrando figuras do passado
Nos dias da cúpula dos BRICS 2018 na África do Sul, o ex-líder do país que o libertou do regime repressivo de apartheid, Nelson Mandela, parece onipresente, ainda mais que o evento coincide com os festejos ligados a seu 100º aniversário.
Madiba, como Mandela costuma ser chamado por seu "nome de clã", aparece não só nas ruas da cidade, inclusive no logo da cúpula. Ele também surge em situações surpreendentes, como é o caso da empresa "Cupcakes para Crianças com Câncer", que ergueu uma estátua de Mandela feita de chocolate em um dos centros comerciais de Joanesburgo.
Em sua palavra de saudação feita durante o Fórum Empresarial de ontem (25), o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, também destacou o papel excepcional da figura histórica de Mandela para o país.
"Referimo-nos a seu nome agora porque o trabalho que devemos fazer aqui exige que nos baseemos nos alicerces que Madiba lançou para o avanço da democracia, da paz mundial, da solidariedade humana, da cooperação internacional e do respeito mútuo", manifestou.
Os organizadores do evento aproveitaram cada chance de homenagear seu líder — e até lançaram uma série de vinho, produzido em 2015, com a etiqueta dedicada à cúpula dos BRICS 2018, com o retrato de Mandela em sua postura mais famosa, com punho levantado ao ar.
Frente de resistência
Em geral, a cúpula dos BRICS na África do Sul, diferentemente das grandes reuniões que acontecem na Europa ou nos outros países ocidentais, não foi marcada por nenhuns protestos populares ou distúrbios na rua. Muito pelo contrário, a cidade parecia viver sua vida rotina. Não houve bloqueios na rua, nem sequer nos bairros próximos ao Centro de Convenções, onde aconteceu o evento.
O primeiro líder a chegar em Joanesburgo foi Xi Jinping, enquanto Vladimir Putin chegou último, na manhã de hoje (26). Logo depois, aconteceu a tradicional "foto de família" e uma sessão plenária fechada, onde os políticos discutiram os principais pontos da agenda e acordaram uma declaração final.
O principal foco da cúpula deste ano, que se realiza no contexto da presidência sul-africana no bloco, são as perturbações econômicas globais relacionadas com a guerra comercial travada por Washington. Não é de estranhar, pois a organização sempre tem dado enfoque especial às questões de cooperação econômica, particularmente à criação de instituições "alternativas" às do mundo ocidental.
Dado que neste ano a organização marca sua primeira década de existência, os resultados e oportunidades de cooperação ulterior ganharam destaque especial nos discursos dos altos oficiais. Assim, o líder chinês apelou para que "os BRICS reforcem sua parceria estratégica" para tornar "a próxima década em uma outra década de ouro".
Evidentemente, os investimentos na África do Sul, em particular, também apareceram entre os focos principais da pauta. Em consequência disso, os presidentes Putin e Ramaphosa se reuniram nas margens do fórum para negociar a cooperação bilateral no campo militar e estratégico.
Ampliando as fronteiras
Em diversas ocasiões, o governo sul-africano reiterou que considera a presidência nos BRICS como uma oportunidade de "abrir portas" para a África como continente. Cumpriu a promessa, convidando líderes de outros 9 países africanos, isto é, Angola, Etiópia, Senegal, Zâmbia, Namíbia, Gabão, Togo, Uganda e Ruanda. Amanhã (27), no último dia da cúpula, esses Estados vão se aderir ao diálogo para debater as demais perspetivas para seu crescimento com o apoio dos BRICS.
A parte principal das conversações desta linha também vai acontecer amanhã. Contudo, alguns dos países convidados já marcaram presença. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, chegou a Joanesburgo hoje (26) e logo seguiu para as negociações a portas fechadas com seu homólogo russo, Vladimir Putin. Antes da reunião, manifestou que a "solidariedade" entre os dois países "está provocando inveja de outros".
Ao mesmo tempo, Putin reconheceu que as relações russo-turcas estão vivendo um período de ascensão, o que "é completamente evidente" no campo de resolução de crises regionais, particularmente a Síria.