Será que Coreia do Norte está blefando ao falar de desnuclearização?

Nos últimos dois dias, a capital norte-coreana – Pyongyang – virou palco de uma cúpula entre as duas Coreias. Evidentemente, o tema principal do encontro foi o processo de desnuclearização do país de juche, porém, um especialista entrevistado pela Sputnik não se mostrou muito otimista em relação ao assunto.
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Este já é o terceiro encontro bilateral entre Kim Jong-un e Moon Jae-in no ano corrente. A reunião resultou em um comunicado conjunto dos presidentes e dos ministros da Defesa, que inclusive estabeleceram a vontade norte-coreana de fechar a base de lançamentos de mísseis Tongchang-ri e de desmontar completamente as instalações nucleares em Yongbyon.

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Além disso, Seul e Pyongyang decidiram interromper as manobras de artilharia de grande escala e voos militares perto da zona desmilitarizada para evitar incidentes, retirar militares da região, desarmar o pessoal do povoado fronteiriço de Panmunjeom, bem como criar nas zonas fronteiriças do mar Amarelo e do Japão uma faixa desmilitarizada onde não haverá nenhuma manobra militar.

Criar uma impressão

Entretanto, na opinião do professor da Universidade Kookmin da Coreia do Sul, Andrei Lankov, ainda é cedo para falar que os acordos alcançados pelos líderes norte-coreano e sul-coreano durante a cúpula serão um avanço na desnuclearização, pois Pyongyang não demonstra nenhuma vontade de abrir mão das armas nucleares.

"A Coreia do Norte não tem nenhuma intenção, nem a mínima possível e nem qualquer razão para abrir mão do armamento nuclear. O máximo com qual podemos contar é a restrição do potencial nuclear norte-coreano e a elaboração das regras de jogo acessíveis tanto para a comunidade internacional quanto para a Coreia do Norte", disse o entrevistado.

Assim, acredita Lankov, o principal objetivo da cúpula intercoreana foi "criar mais otimismo possível".

"A coisa é que recentemente em Washington tem crescido a consciência de que a Coreia do Norte não está se apressando nenhum pouco para empreender passos dirigidos à redução significante do potencial nuclear. Mais que isso, todas as concessões feitas por Pyongyang são ora conversíveis, ora simbólicas. Nestas condições, em Washington são cada vez mais altas as vozes de ‘falcões' que consideram necessário voltar para a antiga política de pressão máxima contra a Coreia do Norte", observou.

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Isso, por sua vez, sublinha o analista, causa preocupação tanto em Pyongyang como em Seul, pois um conflito armado, que pode ser provocado por "falcões", causaria danos a ambos os países.

"Hoje em dia, tanto Coreia do Norte quanto a do Sul, independentemente da vontade real de Pyongyang de fazer concessões, pretendem juntas criar uma impressão de que a Coreia do Norte planeja conceder. Foi precisamente esse objetivo que teve a cúpula de hoje", frisou Lankov.

Futuro do centro em Yongbyon

Entre os compromissos alcançados durante a reunião, o professor destacou a promessa norte-coreana de desmontar as instalações norte-coreanas no centro de pesquisa em Yongbyon.

"É verdade que nesse centro está localizada uma parte considerável das capacidades norte-coreanas no que se trata da produção de armas nucleares. Porém, o fechamento desse centro não significaria a suspensão do programa nuclear norte-coreano, pois Pyongyang tem outros centros onde se travam semelhantes pesquisas e produções. Entretanto, a suspensão de Yongbyon que dizer que os volumes da produção de armas nucleares na Coreia do Norte vão ser significativamente reduzidos", acredita o interlocutor da Sputnik.

Por isso, de qualquer maneira, explicou Lankov, caso essa promessa "seja realmente realizada", isso será um passo importante para reduzir a tensão na respectiva região da Ásia.

"Ao mesmo tempo, não vale construir ilusões, pois a Coreia do Norte não planeja se recusar às armas nucleares. Nos últimos anos, foram não só as ações dos EUA, mas de uma série de outras potências que demonstraram em prática como a recusa das armas nucleares é extremamente perigosa para um país que se encontra em uma situação internacional complicada", manifestou.

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Por outro lado, reparou, nesse contexto surge uma questão sobre a necessidade de fazer concessões recíprocas por parte de Washington.

"Por enquanto, a situação parece paradoxal e triste. A Coreia do Norte fez algumas concessões, embora não se deva esquecer que foram ora conversíveis ora simbólicas. Mas os EUA, até agora, não fizeram nenhuma concessão. Claro que para avanços ulteriores na situação deveríamos esperar que não só Pyongyang, mas também Washington, dê alguns passos", resumiu.

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