Análise: Trump aposta na vulnerabilidade da Coreia do Norte ao atrasar negociações de paz

© AFP 2023 / Anthony WallaceO presidente norte-americano Donald Trump aperta a mão do líder norte-coreano Kim Jong-um, na cúpula entre os EUA e a Coreia do Norte, em Singapura
O presidente norte-americano Donald Trump aperta a mão do líder norte-coreano Kim Jong-um, na cúpula entre os EUA e a Coreia do Norte, em Singapura - Sputnik Brasil
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Ao cancelar a visita do secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo a Pyongyang, o presidente Donald Trump acredita que Pyongyang tem mais a perder com as negociações paralisadas sobre a desnuclearização, já que as severas sanções continuam prejudicando a economia norte-coreana. Esta é a opinião de dois especialistas ouvidos pela Sputnik.

Um dia depois que Pompeo anuciar uma visita à capital norte-coreana pela quarta vez, Trump publicou uma série de tweets na sexta-feira, cancelando a viagem e acusando a China de não oferecer ajuda o suficiente para promover progressos em direção à desnuclearização da península coreana.

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Uma nova carta do vice-presidente do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, Kim Yong-chol, trazendo uma mensagem de confronto, foi a última gota que levou Trump e Pompeo a decidirem cancelar a próxima rodada de negociações de paz com Pyongyang.

Diferentemente da confiança demonstrada por Trump após sua histórica cúpula com Kim Jong-un em Cingapura em junho, o presidente dos Estados Unidos pela primeira vez reconheceu publicamente a dificuldade em convencer o líder norte-coreano a abandonar seu arsenal nuclear.

Mais a perder

Como Pyongyang não tomou medidas substanciais e concretas para a desnuclearização desde a cúpula de Cingapura, Trump poderia ter decidido adiar as negociações com base na crença de que a Coreia do Norte é mais vulnerável às negociações de paz porque continua sofrendo sanções econômicas estritas, analistas políticos sugerem.

"Será que Trump tem alguma estratégia contra a Coreia do Norte? Talvez ele acredite. É a Coreia do Norte que está sendo punida por não fazer qualquer progresso em direção à desnuclearização, já que a maioria das sanções econômicas, especialmente sanções econômicas unilaterais dos EUA, ainda estão em vigor. Ele acredita que os norte-coreanos têm mais a perder", avaliou o professor de relações internacionais da Universidade Sogang em Seul e ex-assessor do governo sul-coreano, Kim Jae-chun à Sputnik.

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Em resposta ao rápido progresso do programa de armas nucleares da Coreia do Norte no ano passado, o Conselho de Segurança da ONU (UNSC) aprovou uma série de duras sanções econômicas com o objetivo de cortar os recursos financeiros usados ​​para apoiar o desenvolvimento de armas nucleares.

Outros observadores da Coreia do Norte apontaram que Trump também poderia estar tentando alavancar a ambição de Kim Jong-un em participar da próxima Assembleia Geral da ONU em Nova York em setembro, colocando mais pressão sobre o líder norte-coreano e forçando-o a oferecer mais concessões.

"Eu suspeito que Trump acredite que Kim Jong-un está muito ansioso para participar da Assembleia Geral da ONU em setembro. Seria uma ótima oportunidade diplomática para Kim Jong-un fazer um discurso na ONU e ser tratado como igual entre outros líderes mundiais. Se Kim quiser ir para lá em setembro, isso significa que ele precisa melhorar substancialmente as relações com os Estados Unidos antes disso. Trump provavelmente está apostando na ânsia de Kim Jong-un", palpitou Tong Zhao, membro do Centro Tsinghua para a Política Global, em Pequim, à Sputnik.

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Os dois especialistas acreditam que Kim provavelmente oferecerá concessões aos Estados Unidos no futuro, para garantir que os esforços diplomáticos que iniciados neste ano possam avançar.

Beneficiário geopolítico

Trump destacou as tensões comerciais atuais com a China como uma razão por trás da falta de progresso nas negociações de desnuclearização com a Coreia do Norte, que depende fortemente do comércio com Pequim como uma fonte importante de receita.

Como a hostilidade entre Pequim e Washington continua a crescer nos últimos meses em meio a uma amarga disputa comercial, a Coreia do Norte pode se beneficiar da crescente rivalidade entre a China e os Estados Unidos na região, sugeriu Zhao.

"Em geral, a competição geopolítica entre a China e os Estados Unidos está em ascensão sem qualquer questionamento. Os dois países começaram a se concentrar mais em ganhos e perdas na geopolítica regional. A China precisa garantir que a Coreia do Norte não seja atraída para uma aliança com os Estados Unidos. Pyongyang entende que poderia tirar proveito da competição estratégica China-EUA", afirmou.

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Zhao acrescentou que a Coreia do Norte provavelmente tentará encontrar um equilíbrio entre suas relações com a China e os Estados Unidos.

"A estratégia para Pyongyang é muito clara, que é manter relações equilibradas com ambas as duas grandes potências. A Coreia do Norte poderia usar esses dois países um contra o outro. Ao enfrentar ameaças dos Estados Unidos, Pyongyang poderia se aproximar de Pequim para causar preocupações em Washington. Ao ter problemas com a China, Pyongyang poderia se tornar mais amigável com Washington para fazer Pequim se preocupar", disse ele.

O especialista apontou que a China convidou Kim para sua primeira visita em março, logo depois que Trump concordou em se encontrar com o líder norte-coreano, após baixas históricas nas relações bilaterais nos últimos anos, em meio ao rápido progresso dos programas nucleares de Pyongyang.

O presidente chinês, Xi Jinping deve visitar Pyongyang pela primeira vez em setembro e participar das celebrações do Dia Nacional na Coreia do Norte, segundo a mídia sul-coreana.

Negociação com os EUA

Pouco depois de Trump ter enviado uma carta no final de maio para cancelar a proposta primeira cúpula histórica com Kim, o presidente sul-coreano Moon Jae-in realizou uma surpreendente segunda reunião com o líder norte-coreano, considerada chave para salvar a cúpula de Cingapura.

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Após entregar a mensagem de Kim expressando sua vontade de se encontrar com Trump em março, o presidente sul-coreano desempenhou o papel de mediador entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos. Moon deve realizar um terceiro encontro com Kim em Pyongyang em setembro.

O professor Kim, da Universidade Sogang, alertou que Moon deve evitar a cooperação entre as duas nações de forma agressiva, o que poderia prejudicar a aliança com os Estados Unidos.

"Uma vez que o fim da Guerra da Coreia seja declarado, Moon poderia pedir à Coreia do Norte para fornecer uma lista detalhada de seu arsenal nuclear. Mas com ou sem uma promessa de Pyongyang, eu tenho a impressão de que Moon tentaria empurrar para frente projetos de cooperação econômica coreana, o que prejudicará a posição dos EUA em relação à Coreia do Norte", disse ele.

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O estudioso sul-coreano explicou que Moon provavelmente acredita que, se ambas as Coreias puderem coexistir pacificamente, o norte poderá manter suas armas nucleares, já que elas não representariam mais ameaça ao Sul.

"Tenho certeza que Moon quer criar algum espaço diplomático independente longe dos Estados Unidos", disse ele.

O especialista acrescentou que a Coreia do Sul pode enfrentar medidas punitivas dos Estados Unidos se o governo Trump achar que as políticas sul-coreanas vão contra a posição dos EUA sobre a Coreia do Norte.

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