O dia em que Hitler tomou o poder: teria sido possível conter os nazistas?

Há 85 anos, na Alemanha foram realizadas eleições parlamentares, nas quais o partido nazista conquistou maioria absoluta e estabeleceu a ditadura, conseguindo isso tudo por meio da intimidação e violência.
Sputnik

A chegada ao poder dos nazistas foi o resultado de intrigas políticas que poderiam ter fracassado, pois Hitler já havia se candidatado sem êxito a outras três eleições nacionais.

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A inclinação pelas ideias de extrema-direita foi alimentada pela crise econômica mundial de 1929, que na Alemanha significou a falência para as grandes empresas e o desemprego, porém a economia estava se recuperando.

Sabendo que não chegaria ao poder por métodos legais, Hitler ganhou um aliado na pessoa de um representante da política conservadora de direita, Franz von Papen, que liderou o gabinete a partir 1º de junho de 1932. Os dois fizeram um pacto secreto que supunha que Hitler se tornaria chanceler, enquanto von Papen seria seu vice — o que foi conseguido em 30 de janeiro de 1933 com sua nomeação pelo então presidente da Alemanha, Paul von Hindenburg.

O líder nazista, sob pretexto de que os comunistas tomariam o poder, rapidamente apresentou um projeto de lei, apoiado por Hindenburg, sobre poderes de emergência, podendo emitir leis que contornassem a constituição e que desconsiderassem a opinião dos deputados.

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A campanha eleitoral de 1933 foi marcada pela forte confrontação entre os nazistas e os comunistas. Hitler reiterou que os radicais de esquerda estavam preparando uma revolução na Alemanha, semelhante à Revolução de Outubro na Rússia, e pediu o apoio à lei sobre poderes de emergência para impedir uma mudança de poder. Mas, na realidade, ele visava com isso tomar o poder.

Os partidos considerados como moderados foram convencidos a apoiar o projeto de lei e, consequentemente, todo o sistema político se desmantelou.

Em fevereiro de 1933, o incêndio do Reichstag em Berlim, causado por um comunista holandês, foi visto como o marco crucial para o estabelecimento da Alemanha nazista. As repressões alastraram rapidamente contra o Partido Comunista no país, que já não podia mais participar da campanha eleitoral.

Mesmo em meio a esses acontecimentos e às alterações, os nazistas não ganharam as eleições, mas conseguiram aumentar sua representação para 44%.

Nesse período, o decreto do presidente do Reich sobre proteção do povo e do Estado, adotado imediatamente após o incêndio criminoso, já estava em vigor na Alemanha. Hitler e Hindenburg justificavam com a "ameaça comunista" a diminuição dos direitos dos cidadãos à inviolabilidade da vida privada e à liberdade de reunião.

Muitos líderes do Partido Comunista que chamavam atenção da opinião pública foram presos, e nesse âmbito foi preparada uma votação sobre poderes extraordinários do Gabinete de Ministros.

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A reunião do Bundestag, na qual Hitler se aproximou do poder absoluto, ocorreu sem a participação dos deputados comunistas, pois estes já estavam presos. Vários parlamentares sociais-democratas, que se sabia que iriam votar contra, não foram autorizados a entrar na sessão, além de terem sidos ameaçados.

De forma ilegal, em 14 de julho de 1933, todos os partidos, exceto o Partido Nacional Socialista, foram proibidos na Alemanha.

Ainda assim, Hitler precisava passar pelas eleições do Bundestag, que foram feitas de forma aberta, onde todos podiam ver em quem os eleitores votavam. Três milhões de cédulas impressas foram destruídas pelos alemães que não queriam o nazismo em seu país, enquanto os opositores eram intimidados.

O pesquisador do Instituto de História Universal, Konstantin Sofronov, disse que, embora a chegada de Hitler ao poder pudesse ter sido evitada, esse evento se encaixava na lógica da história alemã daquela época.

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"Já na década de 1920, os sociais-democratas não tinham maioria no Parlamento e, portanto, precisavam de parceiros para formar uma coalizão governante. Contra o pano de fundo da crise econômica, tais coalizões eram menos duradouras […] O presidente Hindenburg passou a dirigir o país com base no artigo da constituição que permitia que as decisões fossem tomadas sem consultar o Parlamento. Isso abriu caminho a Hitler, que basicamente entrou em um trem que já estava se movendo em direção a uma Alemanha autoritária", diz o historiador.

Sofronov ainda destaca que o sucesso de Hitler foi resultado da atitude benevolente das elites alemãs, que subestimaram o líder dos nazistas.

"Havia ilusões de que Hitler seria fácil de controlar, que ele era um homem estranho, ignorante, propenso à violência, e ao mesmo tempo bastante limitado. Incapaz de negociar, por exemplo, a nível internacional", concluiu o especialista.

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