A Resolução 714 foi introduzida pelos democratas Dianne Feinstein e Ed Markey com os republicanos Lindsey Graham, Marco Rubio, Todd Young e Chris Coons, seguindo as revelações do mês passado da investigação da CIA que o príncipe herdeiro saudita deve ser responsável pelo assassinato do jornalista Khashoggi.
O republicano Graham e outros afirmaram na semana passada que não iriam romper com o presidente Donald Trump, cuja administração afirma não ter evidências da ligação do príncipe ao assassinato, até que ouvissem a diretora da CIA que viajou para Ancara para escutar a gravação do assassinato do jornalista em 2 de outubro feita pela inteligência turca.
"A resolução — sem equivocação — afirma definitivamente que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita foi cúmplice no assassinato do senhor Khashoggi e tem sido uma esfera demolidora para a região, comprometendo nossos interesses de segurança nacional em numerosas frentes", afirmou Graham em um comunicado sobre o documento. "Cabe à Arábia Saudita decidir como lidar com o assunto, mas cabe aos EUA defender firmemente o que somos e no que acreditamos", acrescentou.
Além do "repugnante e injustificado assassinato" do jornalista, o documento responsabiliza Mohammed bin Salman pela "contribuição para a crise humanitária no Iêmen, bloqueio do Qatar, prisão de dissidentes políticos dentro da Arábia Saudita, uso de força para intimidar rivais".
"Nossos valores como americanos devem ser centrais na nossa política externa. A Arábia Saudita é um aliado importante, mas não é um aliado a todo custo. Não há dúvidas de que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman sabia sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, admitiu e, o pior, estava, de fato, envolvido na coordenação", comentou o senador Rubio.
A resolução pede para que a Arábia Saudita liberte o blogueiro Raif Badawi assim como outros prisioneiros políticos, incluindo ativistas dos direitos das mulheres, presos anteriormente neste ano.
Desde que foram revelados os resultados da investigação da CIA, o príncipe herdeiro se tornou foco de debates sobre a Arábia Saudita causando especulações que os EUA possam tentar tirá-lo do poder, substituindo-o por outro príncipe saudita, Mohammed bin Nayef.
Em comentário à Sputnik Internacional, Medea Benjamin, cofundador da organização antiguerra Codepink, disse que "o assunto é mais profundo do que Mohammed bin Salman" pois ele é apenas "manifestação muito grotesca de um sistema apodrecido".
O jornalista e autor, Daniel Lazare, partilhou as preocupações de Benjamin, dizendo à Sputnik que a resolução "ultrasséria" "apela efetivamente ao afastamento de Mohammad bin Salman".
Porém, o analista sublinhou que com o Senado "brinca com fogo". "Um pouco de desestabilização seria bom se deixasse a família [real saudita] castigada e obediente aos desejos dos EUA, mas desestabilização demasiada poderia abrir um caminho para o Daesh e Al-Qaeda [organizações terroristas proibidas na Rússia e em outros países] que gostariam de promover ideias de jihad ao coração saudita", comentou.
Caso Khashoggi
Khashoggi, colunista do jornal estadunidense The Washington Post era conhecido por suas críticas ao governo saudita. Ele desapareceu em 2 de outubro, depois de entrar no consulado saudita em Istambul. O reconhecimento da Arábia Saudita de que o jornalista tinha sido morto em uma luta no interior do consulado veio após duas semanas de negações e crescente pressão dos aliados ocidentais para fornecer explicações.
Em 26 de outubro, o promotor saudita reconheceu que o assassinato do jornalista foi premeditado. No entanto, Riad sustenta que o assassinato nada tinha a ver com a família real saudita, descrevendo a operação como clandestina.