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Economista: tentativa de alterar Mercosul pode ser 'catastrófica para economia brasileira'

Os presidentes dos países do Mercosul e de Estados Associados se reuniram em Montevidéu para a 53ª edição da Cúpula de Chefes, esperando avançar em uma reforma da organização.
Sputnik

A posição do futuro líder do Brasil, Jair Bolsonaro de certa forma constitui um plano de fundo do encontro. O futuro presidente que se mostrou crítico em relação ao bloco até chegou a ameaçar com a retirada o país do grupo se não haver maiores vantagens para o Brasil. 

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Os participantes do encontro concordaram que a postura brasileira abre uma "oportunidade" para "discutir melhorias e um refinamento" do bloco, que perdeu dinâmica em suas decisões de negociação e ainda está longe de concluir um acordo de livre comércio com a União Europeia.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Bruno de Conti, professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (CECON/Unicamp), comentou as afirmações do futuro presidente brasileiro, bem como fez uma projeção sobre a trajetória que o bloco vai tomar. 

De acordo com ele, as palavras de Bolsonaro, utilizadas na campanha eleitoral, não necessariamente devem ser cumpridas. Bruno de Conti acredita que a saída do Brasil do Mercosul "seria um choque muito grande".

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O economista apontou que, dentro do bloco, o Brasil possui evidentes vantagens econômicas, quer a colaboração histórica com a Argentina, quer o desenvolvimento industrial. Sem contar que o Brasil é um grande exportador de commodities particularmente para os países do Mercado Comum do Sul. 

Falando sobre o futuro do bloco, Conti se referiu ao projeto da equipe de Bolsonaro de tentar transformar a união aduaneira em uma área de livre comércio na busca de mais liberalização e ampliação da colaboração econômica para que a iniciativa do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, de fechar mais acordos bilaterais para livre comércio seja concretizada. Segundo o analista, isso pode "ser catastrófico para a economia brasileira".

"O Brasil poderia negociar bilateralmente, o Brasil-União Europeia ou Brasil-EUA, e com isso, o que eles querem, Paulo Guedes e a equipe de Bolsonaro, é aumentar a quantidade de acordos bilaterais do Brasil para livre comércio na linha do liberalismo de Paulo Guedes. O que pode ser catastrófico para a economia brasileira".

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O especialista apontou que riscos existem com tal tipo de relações econômicas com outros países e blocos. 

"Isso cria um tipo de comércio que beneficia muito mais um país do que outro, normalmente um país potente. Então, se nós formos fazendo acordos bilaterais com outros países potentes, vai significar o fim do pouco que a gente ainda tem de indústria. Vai significar, em minha opinião, o aprofundamento da nossa posição na economia internacional e de matéria-prima agrícola e mineral", apontou.

Perguntado sobre o futuro do acordo de livre comércio com a União Europeia, que está estagnado há anos, o economista acredita que no mantado de Bolsonaro o acordo até pode ser fechado, o que, entretanto, pode prejudicar bastante a indústria brasileira.  

"Em minha opinião é ruim. Se a gente tiver um acordo de livre comércio com a UE, a gente vai justamente nesta direção que eu estava mencionando. A gente não tem condições de competir a nossa indústria com a indústria europeia", apontou.

De acordo com ele, o acordo de livre comércio com a UE ou com os EUA para o Brasil seria uma competição desigual.

"Isso significa que a gente vai caminhar para a posição em definitivo de fazenda do mundo, de provedores de bens agrícolas e minerais. É ruim já que a história econômica mundial mostra que é muito importante para os países terem uma indústria nacional, e a gente abriria mão disso", ressaltou Bruno de Conti.

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