'Coletes amarelos' chegam a Portugal, mas não recebem atenção esperada da população

Em diversas cidades portuguesas decorrem hoje (21) manifestações dos “coletes amarelos”, convocadas por grupos de cidadãos nas redes sociais, seguindo as ocorridas na França.
Sputnik

Em vários grupos dinamizadores de protestos em 14 locais de diversas cidades do país, especialmente através do Facebook e do WhatsApp, as razões da manifestação são bastante diversas, mas centram-se em exigências econômicas: redução das taxas e impostos, aumento do salário mínimo nacional e das aposentadorias e adoção imediata de medidas efetivas de combate à corrupção.

"Pretendemos apenas dar voz à insatisfação que temos presenciado e vivido neste país. Não nos cingimos a uma doutrina ou filosofia, mantemos e respeitamos a liberdade cívica", diz um dos documentos que estavam circulando por um dos grupos dos "coletes amarelos" no Facebook.

As forças de segurança esperavam manifestações de grande envergadura e estavam bem preparadas para recebê-las. Foram mobilizados cerca de 21.000 policiais, que ficaram estrategicamente a postos nas ruas que levavam à Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, formando três cordões circulares em torno da praça.

Polícia garante segurança durante protesto de 'coletes amarelos' lisboetas, 21 de dezembro de 2018
Mas as expectativas de grande número de manifestantes não se concretizaram. Mesmo tendo sido marcada para se iniciar às 7h (5h em Brasília), às 12h (10h em Brasília) na faixa lateral da praça havia apenas de 70 a 80 manifestantes. O tráfego de carros foi mantido nesta zona central da capital. A polícia organizou um cordão em torno dos manifestantes, não os deixando sair do lugar onde estavam.

Por volta das 13h (11h em Brasília), um grupo de mulheres deu as mãos e se dirigiu na direção dos policiais, o que permitiu aos manifestantes "libertarem-se" do círculo e dispersarem-se pela zona contígua, misturando-se com as pessoas que simplesmente observavam. A partir daí, o número de pessoas na praça se manteve sensivelmente o mesmo.

A Sputnik Brasil ouviu alguns testemunhos dos participantes da manifestação:

"Estamos fartos, não só deste governo, mas de todos os governos, deste regime de corrupção, dos políticos que não dão o exemplo, que vivem acima da lei. Depois sobrecarregam as pessoas de impostos, diretos e indiretos. Em Portugal ganha-se pouco e paga-se muito", diz um dos manifestantes.

"Cada um de nós está aqui por razões diferentes. Não é justo que eu, por exemplo, no setor privado tenha que trabalhar mais 5 horas por semana que no setor público", respondeu outro à pergunta da Sputnik sobre os motivos de ter aderido à ação.

Algumas outras pessoas falaram do baixo valor do salário mínimo e das aposentadorias muito baixas, que são insuficientes para os idosos se alimentarem e ligarem o aquecimento no inverno.

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'Coletes amarelos' no centro de Lisboa, 21 de dezembro de 2018.
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'Coletes amarelos' protestam em Lisboa, 21 de dezembro de 2018.
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'Coletes amarelos' protestam em Lisboa, 21 de dezembro de 2018.
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'Coletes amarelos' protestam em Lisboa, 21 de dezembro de 2018.
A razão do fracasso

A pouca adesão das pessoas à manifestação teve duas principais razões. Em primeiro lugar, todos os partidos e sindicatos se demarcaram das ações, afirmando que o "movimento foi instrumentalizado" pela extrema-direita, nomeadamente pelo partido PNR, ultranacionalista. Isso inibiu muita gente de participar, para não ser associada a esta ideologia.

Em segundo lugar, o movimento não teve, nestas manifestações, uma liderança nem qualquer organização visível. Parecia uma tentativa espontânea de pessoas insatisfeitas, mas sem uma estratégia clara de como alcançar os seus objetivos. O que significa que, em Portugal, os sindicatos e os partidos ainda continuam a ter um papel importante na mobilização da população.

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