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Sob escrutínio da inteligência brasileira, Igreja inicia preparação para Sínodo

Começa nesta quinta o seminário “Sínodo da Amazônia: contribuições a partir do desenvolvimento sustentável”. O evento, considerado preparação para um encontro maior no Vaticano em outubro, encontra resistência por parte do governo. Religioso ouvido pela Sputnik Brasil diz que a Igreja não vai se deixar intimidar por postura do governo Bolsonaro.
Sputnik

O objetivo do encontro é iniciar um debate intra-religioso sobre os principais temas relativos à Amazônia. A proteção de populações socialmente excluída — sobretudo os índios — e a preservação da floresta devem estar em pauta.

O Sínodo, que inicialmente seria realizado na própria Amazônia, encontrou forte resistência do governo Jair Bolsonaro. A Abin – Agência Brasileira de Inteligência, advertiu a Presidência de que o encontro no Vaticano poderá servir como plataforma para atacar o governo brasileiro e a pauta foi considerada como "interesse à segurança nacional" pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.

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Em entrevista exclusiva concedida à Sputnik Brasil, Frei Betto, importante teólogo brasileiro e autor de mais de 60 livros, diz que a ingerência do governo ao evento "pegou mal" na Santa Sé. De acordo com o frade, a reação da alta cúpula da Igreja Católica no Vaticano e do próprio papa foi de estranhamento, mas o evento de correr normalmente.

"Nós estamos acostumados. Na época da ditadura, era comum que o governo enviasse informantes da SNI [Serviço Nacional de Informações, órgão criado em 1964 para supervisionar grupos considerados 'subversivos']. Uma vez chegamos a surpreender um bispo usando gravador a mando do governo", conta Frei Betto, mencionando ainda que não descarta tal postura no governo atual.

Frei Betto porém, diz que a Igreja não se deixará intimidar e realizará o evento normalmente por "não ter nada a esconder". Ele critica a postura do governo e diz que a ingerência dos militares ligados a Jair Bolsonaro pode ajudar a desgastar ainda mais a imagem do presidente na comunidade internacional.

"Este é um tema sobre o qual o Papa Francisco está especialmente atento e preocupado. No encontro em Manaus, participarão bispos de 9 países amazônicos. Se Bolsonaro assumir oposição ao evento, isso mostrará ao mundo que ele não se importa nem com a Amazônia e nem com os povos que vivem lá", pontua.

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Frei Betto diz ainda que, "embora o governo considere a proteção de índios e da floresta uma pauta de esquerda, esta é uma questão humana que independe de ideologias" e critica o despreparo das pessoas escolhidas pelo presidente para cuidar das pastas de Meio Ambiente [o ministro Ricardo Salles] e Agricultura, Pecuária e Abastecimento [a ministra Tereza Cristina].

"O ministro [Salles] já assumiu que nunca tinha visitado a Amazônia antes de se tornar chefe do Meio-Ambiente. Mostra o despreparo e a pouca importância do tema no governo", acusa.

Agenda

De acordo com o G1 Amazonas, o evento que começa nesta quinta vai debater a história e a realidade social, ambiental e econômica da Amazônia. São esperados o presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e arcebispo emérito de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, do chanceler da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, Marcelo Sorondo e do superintendente-geral da FAS, Virgílio Viana.

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