"O inspetor-geral do Departamento de Defesa decidiu investigar as queixas que recebemos recentemente de que o secretário Patrick Shanahan supostamente tomou medidas para promover seu ex-empregador, a Boeing, e desacreditar seus concorrentes, alegadamente violando as regras de ética", disse Dwrena Allen, porta-voz do gabinete do inspetor-geral.
No dia 13 de março, a organização não governamental Cidadãos por Responsabilidade e Ética solicitou uma investigação com base em uma informação de janeiro do jornal Politico. Segundo essa matéria publicada, Shanahan, quando era vice-secretário de Defesa, questionou os aviões da Lockheed Martin nas reuniões do Departamento de Defesa e elogiou a Boeing.
O relatório também citou um artigo de dezembro da agência Bloomberg dizendo que Shanahan pressionou a Força Aérea dos EUA para comprar caças Boeing F-15X, mesmo quando a Força Aérea disse que não estava interessada no avião. Antes de exercer funções no Departamento de Defesa, Shanahan — um engenheiro de formação — trabalhou para a Boeing por 31 anos no setor de aviação civil.
O repórter de investigação americano David Lindorff comentou essa situação em uma entrevista à Sputnik Internacional.
Comentando a possibilidade de uma investigação completa de todos os produtos da Boeing, o jornalista sublinhou que, nesta questão, há duas perguntas a responder. Uma é até onde as autoridades devem ir e a outra até onde devem ir tendo em conta que a Boeing é uma empresa muito poderosa, possivelmente o maior exportador dos EUA em termos de valor em dólares.
"Além disso, é um enorme fornecedor do exército e, por isso, enfrentá-la de maneira séria e tentar chegar à verdade é pedir muito do nosso sistema político bastante corrupto", explicou Lindorff.
O analista sublinhou que Shanahan fez realmente pressão a favor de decisões que não faziam sentido. Por exemplo, o caça F-15 atualizado fabricado pela Boeing, que não tem nenhumas capacidades stealth do F-35, está sendo promovido por ele e muitos estão sendo comprados agora sob pressão e à custa do F-35 da Lockheed Martin.
"Não quer dizer que tal não traga também muitos problemas. Se isso acontece, quero dizer que há um cara que, obviamente, está disposto a violar pelo menos a ética e talvez a lei, que durante anos liderou o departamento civil da Boeing; talvez haja muita corrupção em termos de deixar os aviões entrarem no campo comercial sem serem tão seguros quanto deveriam ser", explicou ele.
"Outra questão que se coloca é a de saber se a Boeing adquiriu, de forma sistemática, influência sobre agências como a Agência Nacional de Segurança dos Transportes ou a Administração Federal da Aviação, que regulamenta a segurança e regista os aviões e tudo isso".
"Acredito que é mais que provável que haja muito corrupção; parece, por exemplo, que os EUA se abstiveram de ordenar a suspensão da utilização do 737 MAX-8 que se despenhou duas vezes, mesmo após o segundo acidente, o que é totalmente inaceitável", afirmou o analista.
Lindorff lembrou que metade do orçamento anual do Pentágono é canalizada à indústria militar. "Esses caras [os empresários] compram políticos, eles também colocam generais em seus conselhos de administração quando estes se aposentam. Então, os generais têm interesse nessas funções, eles estão interessados em serem mais brandos nessas empresas, desta forma eles recebem essas sinecuras, lhes pagam fortunas para estar nesses conselhos, que fazem muito pouco. Então é como uma aposentadoria milionária, fazendo as coisas certas enquanto eles estão no Pentágono em termos de comprar produtos dessas empresas", explicou.
"Só para dar um exemplo, o F-35 não está pronto para voar – há problemas com o software, há problemas com as asas […], a manutenção vai custar uma fortuna e o projeto vai provavelmente custar duas vezes mais do que 1,5 trilhão de dólares que está previsto hoje em dia", declarou o analista.
O jornalista questionou também o futuro da empresa Boeing após os recentes incidentes com o 737 MAX 8. A empresa recebera reclamações de pilotos ao longo de muitos meses nos EUA mas a Boeing não fez nada com isso.
"Parece que realmente havia uma espécie de cultura corporativa de encobrir isso — e tal pode ser catastrófico para a reputação da Boeing porque […] eles tinham uma reputação de segurança bastante boa. Isso a pode matar", concluiu Lindorff.