Política Externa dos EUA no Oriente Médio é constrangedora, diz especialista

Nesta quarta-feira (18) forças americanas realizaram ataques para destruir munições deixadas para trás após a sua retirada da cidade de Kobane. A retirada atabalhoada dos EUA da Síria é mais uma demonstração de uma política externa “vergonhosa” no Oriente Médio, diz professor.
Sputnik

Após a retirada às pressas da região nordeste da Síria, o porta-voz da coalizão liderada pelos EUA, coronel Myles Caggins, revelou que jatos norte-americanos destruíram munições deixadas para trás na cidade de Kobane, na Síria.

A última vez que os EUA haviam recorrido a uma ação deste tipo foi na retirada dos EUA do Vietnã, de acordo com o professor de Economia Política Internacional Alexander Azadgan.

"A última vez que recorreram a uma medida tão extrema foi aquando da retirada das tropas norte-americanas do Vietnã [...] por isso, do ponto de vista simbólico, as coisas não vão muito bem."

No entanto, o professor acredita que as falhas da política externa norte-americana não se restringem à retirada da Síria.

"Todos nós sabemos que a política externa norte-americana falhou gravemente, não só na Síria, mas também no Afeganistão, no Iêmen e em outros países. [A destruição de armas] não é uma prática comum, é sim uma vergonha para a nossa política externa no Oriente Médio."

Região estratégica

O diagnóstico do professor foi feito na esteira da retirada das tropas norte-americanas da Síria, anunciada no dia 6 de outubro.

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Apesar das declarações oficiais, o professor Azadgan acredita que não haverá uma retirada total das forças norte-americanas do país árabe:

"Eu acredito que haverá presença norte-americana no leste do Eufrates, o que é bem controverso, porque eles dizem que não irão apoiar os curdos."

A região do leste do Eufrates é considerada estratégica, tanto pela sua relevância econômica, como por ser um corredor logístico vital. Nos últimos anos, a região foi disputada pela oposição síria, pelo Daesh (organização terrorista proibido na Rússia), pela coalizão norte-americana e seus aliados curdos e agora sofre pressão por parte da Turquia.

"Esta região é tão estratégica para todos, e acredito que os EUA irão manter algum tipo de presença lá, mesmo que secreta. Não é necessário manter milhares de tropas quando você tem forças de operações especiais. Eles podem ser poucos, mas são muito eficientes."

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Operação Fonte de Paz

As tensões continuam aumentando na Síria, após a Turquia iniciar a Operação Fonte de Paz contra grupos armados curdos, na semana passada. Ancara luta contra o separatismo curdo em seu território e alega ter iniciado a operação na Síria para eliminar grupos “terroristas”, criar uma zona de segurança na fronteira e repatriar os refugiados sírios que vivem em seu território.

A ofensiva turca gerou forte oposição entre os seus aliados da OTAN. Os Estados Unidos impuseram sanções a ministros turcos e tarifas de importação de 50% sobre o aço produzido na Turquia.

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Líderes europeus anunciaram um embargo de armas e criticaram veementemente a operação. O professor classificou o embargo alemão de um "perfeito jogo de geopolítica hipócrita", classificando-o de “irrelevante”, pois os Estados Unidos vendem caças F-35 e outros armamentos de alta tecnologia para a Turquia há muitos anos.

O professor acredita não ser mera coincidência que a Turquia tenha iniciado a ofensiva durante a retirada norte-americana. Para ele, há interesse norte-americano na desestabilização permanente da Síria.

"Eu acho que Trump e os falcões de seu gabinete, isto é, o [secretário de Estado] Mike Pompeo, estão 'terceirizando' a tarefa de criar mais caos e anarquia na Síria – como se o país já não estivesse já em uma situação lastimável."

O vilão da história

O professor acredita que há um esforço por parte dos EUA e de seus aliados para justificar a retirada das tropas e manter as aparências diante de uma situação tão complexa:

"Todos agora estão tentando criar uma percepção de que derrotaram o Daesh, de que todos derrotaram o Daesh, e isso é totalmente falso. Os Estados unidos estavam dando um apoio duplo para a al-Qaeda, que eles chamavam de "oposição síria", e também para a al-Nusra [organização terrorista proibida na Rússia e demais países]", notou o professor.

O professor lembrou o papel da Rússia neste contexto:

"Eu acho que a Rússia está ajudando todas as partes a manter as aparências. A Rússia está tentando criar uma atmosfera na qual todos sintam que derrotaram os vilões – seja ele o Daesh, a al-Qaeda, a al-Nusra. Então, o que podemos esperar dos aliados dos EUA é uma derrota silenciosa e não reconhecida de seus representantes."

Os limites da operação turca

Apesar da pressão internacional e do cessar-fogo atingido nesta quinta-feira (17), o professor se pergunta "até que ponto os turcos podem ir com este novo plano de extinção dos curdos".

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Após a retirada norte-americana, os curdos perderam um apoio militar e financeiro vital, o que os levou a recorrer ao governo sírio em busca de proteção.

"O presidente da Síria, Bashar al-Assad, disse há alguns anos que os curdos não deveriam depender de ninguém e que, no final, eles voltariam para os braços da Síria pedindo proteção".

De acordo com a mídia da Síria, o presidente Bashar al-Assad prometeu reagir à ofensiva turca em qualquer parte do território sírio, utilizando todos os meios legítimos disponíveis.

Nesta quinta-feira, os EUA e a Turquia acordaram um cessar-fogo, pausando as operações turcas no nordeste da Síria por cinco dias. O acordo foi confirmado pelo ministro das Relações Exteriores turco, Melvut Cavusoglu.

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