Na última sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro confirmou que, no próximo mês, pretende ir aos Estados Unidos para, entre outras coisas, discutir a possibilidade de instalação de uma fábrica da montadora norte-americana de veículos elétricos Tesla, informação que havia sido adiantada pelo seu filho Eduardo, deputado federal, no dia anterior.
A ofensiva do governo brasileiro no setor ocorre meses depois de a indústria automobilística nacional sofrer um significativo trauma, provocado pelo fechamento de unidades da também americana Ford em São Bernardo do Campo, São Paulo. Nesse contexto, a iniciativa do Planalto levanta questionamentos sobre a viabilidade de tal projeto. Afinal, o cenário econômico brasileiro é favorável à instalação de uma montadora de carros elétricos da Tesla no país?
De acordo com o engenheiro especialista em Eletrônica e Telecomunicações Antônio Jorge Martins, coordenador do curso de MBA em Gestão Estratégica de Empresas da Cadeia Automotiva da Fundação Getúlio Vargas, é possível observar, hoje, um interesse muito grande do Brasil em atrair empresas de alta tecnologia. Em entrevista à Sputnik Brasil, ele argumenta que, por se tratar de uma economia em desenvolvimento, é importante que o país não tenha déficit tecnológico em relação aos Estados que lideram o processo de evolução tecnológica.
"Nesse sentido, é como se encaixa o interesse do nosso país em atrair uma empresa como a Tesla para se implantar e, de uma forma geral, dispor dessa tecnologia."
Mesmo reconhecendo a importância desse tipo de aproximação, o especialista considera muito difícil uma empresa de ponta, como a Tesla, cujos veículos são sonho de consumo de executivos de diversos países, se interessar, neste momento, pela possibilidade de instalar uma fábrica no Brasil.
"Na prática, eles têm que buscar, hoje, um mercado com altíssimo poder de consumo, capacidade de consumo... e um mercado que, de uma forma geral, seja bastante significativo em termos de volume", avalia.
Martins destaca que, atualmente, a Tesla tem um valor de mercado superior a várias montadoras existentes no mundo.
"O valor de mercado dela, da ordem de 140 bilhões de dólares, só é inferior ao valor de mercado da Toyota. O que ela há de buscar hoje, até para fazer frente à concorrência nesse mercado altamente competitivo, é ir atrás de mercados que possuam escala bem significativa. Eles possuem apenas uma fábrica nos Estados Unidos e, recentemente, implantaram uma segunda, na China. E nós estamos com um mercado em processo de crescimento."
Segundo o professor da FGV, mais do que o Brasil, o continente sul-americano não deve ser o foco da companhia norte-americana no curto prazo, já que nenhum país da região possuiria uma sociedade com poder de consumo suficiente para atender aos interesses da empresa, "até porque seus veículos possuem um poder elevado".
"Esse mercado, hoje, está nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, que, além de apresentarem grande volume, são mercados que se apresentam com muito mais potencial de consumo para os veículos elétricos."