Uma equipe internacional de cientistas encontrou evidências de uma sociedade mesolítica (termo usado para denominar o período da pré-história que serve de transição entre o Paleolítico e o Neolítico) que respeitava seus membros mais jovens, uma descoberta considerada única sobre o mais antigo sepultamento de bebê já documentado no registro arqueológico europeu.
Caverna Arma Veirana, na Itália, onde foram encontrados os restos da garota de 10 mil anos
© Foto / Dominique Meyer/CHEI
Em estudo publicado na revista Nature, na terça-feira (14), os pesquisadores analisaram os restos mortais de uma criança, chamada de "Neve", em uma caverna em Luguria, Itália. O resultado das análises estabeleceu que a criança teria morrido entre 40 e 50 dias após seu nascimento, tendo sido enterrada junto com ornamentações funerárias que datam de mais de 10.000 anos.
A descoberta trouxe informações sobre o início do período mesolítico, do qual há poucos registros de sepultamentos.
Layout de enterro. (A) Imagem fotogramétrica 3D progressiva de cada peça antes da remoção, reconstruindo os ossos e artefatos como estavam no local. (B) Traçado com detalhe demonstrando a posição provável do corpo
"Há um bom registro de sepultamentos humanos de cerca de 14.000 anos atrás", disse um dos autores da pesquisa, Jamie Hodgkins. "Mas o final do período do Paleolítico Superior e o início do período Mesolítico são menos conhecidos quando se trata de práticas de sepultamento. Os enterros de bebês são especialmente raros, então o bebê Neve adiciona informações importantes para ajudar a preencher essa lacuna", observou o pesquisador.
Os enfeites encontrados sugerem que cada peça foi preparada com cuidado particular e mostram que muitas delas exibem um certo desgaste, o que indicaria que foram presentes do grupo para a criança falecida. O mais interessante da descoberta é que os cientistas foram capazes de identificar um tratamento fúnebre aparentemente igualitário entre meninas e meninos daquela sociedade.